José Luis Carvalhido da Ponte

Variações em Sílaba Aberta

“Varições em Sílaba Aberta” é uma obra dividida em três partes que são introduzidas por textos extra textuais de outros poetas contemporâneos, que surgem como sumários iniciais e veiculadores do pensamento do poeta. Curiosamente levantam a problemática da recepção estética levantada por Jauss, no último quartel do século XX, ainda hoje actualíssima e delineada pelo triângulo:autor, obra e público.

Assim, o primeiro texto, um excerto do poeta António Ramos Rosa, que serviu de base à tese do mestrado do autor, anuncia-nos o papel singular do poeta que traça o seu próprio caminho, um caminho percorrido de palavras. Na segunda parte, um texto do poeta deveras conhecido, Manuel Alegre, refere-se à funcionalidade da obra, o poema que desvenda e inquire. E o terceiro texto que encabeça a terceira e última parte da obra, pertence a Eugénio de Andrade, recentemente galardoado com o prémio Camões, questiona sobre o público leitor, quem recepciona na sua pureza, as palavras ditas que são como cristais?

Passando destas linhas de leitura externa para a produção intertextual vê-se que em”Variações em Sílaba Aberta”a primeira parte é constituída por um único texto, No Litoral do Devaneio (pág.9), em prosa. Na segunda parte aparece uma poesia ao gosto classicista da nossa contemporaneidade mais próxima. A terceira parte é constituída por um longo poema em aberto, interrogativo, intitulado sílabas que “andam no ar”, na expectativa que as agarrem porque elas são ao gosto garrettiano, afagos de mulher e enleios de poeta.

A bonita capa alusiva à memória rupestre do Lindoso, a metáfora titular de todos os poemas inclusos: “Variações em Sílaba Aberta”, a estrutura externa, os textos protocolares, e sobretudo a excelência da poesia deste poeta são mais que pretextos para percorrer´, de lés a lés, este livro.

(texto retirado da apresentação do livro, feita pela Dra. Arlete Faria)

Ora di djunta mon tchiga (é a hora de darmos as mãos)

É um livro a preto e branco, constituído por 33 poemas, escritos entre 2001 e 2005 em Cacheu, Bissau e Viana. É ilustrado por belíssimas fotografias que correspondem exactamente aos referentes dos textos.

São poemas motivados pela experiência e vivências guineenses do poeta.África, Guiné é assim pretexto para exprimir o que sabe e o que sente, como está bem patente no lindíssimo poema “” África preciso de ti”. Mas África é também pretexto para o poeta nos levar a seguir o percurso dos sentidos : a visão das paisagens paradisíacas; a beleza incontestável das mulheres de Cacheu; a húmida quentura do sol africano; a sonoridade do mar, dos insectos e das aves; os aromas, os cheiros de África. A natureza africana está erótica e sensualmente representada nos poemas ´Há tão lindas mulheres em Cacheu” e ” Na praia Varela”

Mas o poeta é suficientemente inquieto para se ficar só pela comtemplação da natureza e emerge, então, uma lírica em que é invadido pela dúvida, pela impotência e pela desesperança, como no poema” Despacienta-me intruso” ou num outro, talvez dos mais bem conseguidos ” É quase noite” em que há uma busca desesperada de sentidos, de razões que leva o poeta a questionar-se -“Que faço em África? Que construo? Construo?!

Mas estas dúvidas, esta impotência são, afinal, aparências falsas porque o grande fio condutor da quase totalidade destes poemas é, sem dúvida, a esperança.O poeta só se realizará neste mundo quando uma parcela de si, que é África, for feliz. E o poeta acredita na mudança.No poema “Mesmo quando o rio é imenso” todo o léxico é escolhido para exprimir a mensagem da esperança na mudança. A esperança “mesmo quando o rio é imenso”; mesmo quando a distância que nos separa de África é um oceano; mesmo quando os homens retardam as soluções que se impõem.

É preciso dizer que José Luís Carvalhido da Ponte é um homem de projectos-afectos em que a solidariedade é a letra de forma, Assim, a totalidade da receita da venda deste seu livro, lançado em Julho de 2006,reverteu a favor da Plataforma Guiné-Bissau , de que ele é o grande impulsionador, e que se encontra a angariar fundos para vários projectos na Guiné, entre eles a construção de uma pequena maternidade.

À Procura do Tempo

Publicado em 80, este conjunto de 48 textos estão, parece-nos, divididos em três fases: nas duas primeiras o poeta retrata um pouco as suas vivências, em especial as da Guiné onde esteve como furriel enfermeiro; a propósito da terceira, Alberto Antunes de Abreu afirma : “Na terceira parte o livro contém os melhores poemas. Longos, esmeradamente pensados e construídos ao nível estrófico enm gráfico, com os ecos dispostos na vertical, como as ideias paralelas, estes poemas, que até no acento retórico alcançam alto nível de poesia por lhes ser bem realçado o valor fónico, foram, de facto, compostos tanto para serem lidos em gabinete (…) como para serem declamedos; quer dizer, são bons e belos nos planos semântico, fónico e gráfico(…); foram compostos ao sabor da temática social levantada nos anos ’70e têm por tyema o Lumpenproletariat dos que hoje denominamos ‘sem abrigo’, o lavrador, proletário da terra e alicerce do futuro, a sol,idariedade, as crfianças pobres, os marginalizados da sociedade” ( A Poesia Vianense no último Quartel do século XX (1974-2000), Ed. Câmara Municipal de Vana do Castelo, 2005, pp 108/109

Cinco Motes para um Memorial – Separata do tomo 16 dos Cadernos Vianenses

São cinco breves estórias: a primeira fala-nos de um jovem traquina e sonhador, dos seus tempos de catequese; na segunda, o autor recorda a sua partida para a Guiné, em 21 de Dezembro de 71; a terceira estória lembra a morte de um campanheiro de armas e ainda uma demonstração de cobarde coragem no assassínio de um mandinga; segue-se um rápido in memoriam a Alfredo Reguengo para, no último relato, nos deliciar com as suas emoções da madrugada de Abril.