1980

Retábulo para um Íntimo Natal

” Retábulo para um íntimo Natal ” é uma recolha de dezasseis poemas, cuja maioria já fora publicada em outros volumes entretanto já esgotados. Outros, ainda que publicados, não faziam parte de qualquer livro do poeta (como vem referido na nota final ). Assim, é uma obra que se considera estar por concluir pois, ao autor, é sempre possível a criação de mais poesia sobre a temática do Natal – note-se as datas em que cada um destes poemas veio a publicação ; de 1959 até ao ano de 1979.

António Manuel Couto Viana, neste “Retábulo Para Um Íntimo Natal”, remete-nos para uma infância longínqua e repleta de alegria comovida – como bem ilustra o poema da página 17, “Improviso de Natal”.

Transporta-nos também para um tempo de inocência e sobretudo de imaginação porque nos natais do poeta não havia neve mas chuva fria…”Cada Natal recordo os meus natais” (página 21).

Em vários poemas, Couto Viana interroga-se se o Natal irá nascer de novo – Natal como metáfora de poesia que o poeta diz nascer também de um esforço, de um sinal…”Sob o tema Natal” (página 23).

Noutros textos ainda, o poeta, numa crítica adulta e lúcida, constata um Natal cada vez menos natal, só feito de rituais e requintes de arte…”Natal cada vez menos” (página 25).

Então, ciente desta fraqueza, o poeta preconiza a pureza do Natal primordial, de pinheirinho desprovido de qualquer decoração e, por isso mesmo, “…mais belo e vivo e humano.” (Página 30),” Primeira lição de Natal”.

Mas o Mundo, apesar de toda a escuridão, será sempre iluminado por esta fonte de esperança que o NATAL sempre representará.

Impressões

Publicado em 1980, este conjunto de 42 textos que o autor intitula como”Impressões”, divide-se em 2 ciclos.

O Ciclo das Horas– variações – e o Ciclo do Amor – variações – onde são apresentados, como os próprios termos indicam alguns registos de Impressões sentidas pelo sujeito poético ao longo do seu percurso de vida. Podemos observar o paralelismo usado entre a razão e a ilusão.

Pode-se perceber que os registos referidos resultam de uma constante atenção e observação da vida vivida ao nível dos sentidos, do que realmente ela é e significa para o sujeito poético.

À Procura do Tempo

Publicado em 80, este conjunto de 48 textos estão, parece-nos, divididos em três fases: nas duas primeiras o poeta retrata um pouco as suas vivências, em especial as da Guiné onde esteve como furriel enfermeiro; a propósito da terceira, Alberto Antunes de Abreu afirma : “Na terceira parte o livro contém os melhores poemas. Longos, esmeradamente pensados e construídos ao nível estrófico enm gráfico, com os ecos dispostos na vertical, como as ideias paralelas, estes poemas, que até no acento retórico alcançam alto nível de poesia por lhes ser bem realçado o valor fónico, foram, de facto, compostos tanto para serem lidos em gabinete (…) como para serem declamedos; quer dizer, são bons e belos nos planos semântico, fónico e gráfico(…); foram compostos ao sabor da temática social levantada nos anos ’70e têm por tyema o Lumpenproletariat dos que hoje denominamos ‘sem abrigo’, o lavrador, proletário da terra e alicerce do futuro, a sol,idariedade, as crfianças pobres, os marginalizados da sociedade” ( A Poesia Vianense no último Quartel do século XX (1974-2000), Ed. Câmara Municipal de Vana do Castelo, 2005, pp 108/109

Aspectos da Cultura Castreja no Alto Minho

Aspectos da Cultura Castreja no Alto Minho é uma separata da revista “Caminiana”, nº 3 de Dezembro de 1980.

O texto, da autoria do Dr. Lourenço Alves, analisa a cultura castreja galaico-portuguesa sob diferentes aspectos, fornecendo um manancial de dados sobre a localização dos primitivos castros e citânias (à beira-mar ou em zonas de interior. Se situados à beira-mar, privilegiam um cabo ou uma pequena península, a fim de assegurarem uma defesa natural por três lados sendo o quarto lado defendido por um fosso que cavavam na rocha ou na terra; caso se localizassem no interior, então preferiam os cimos dos montes e outros acidentes naturais do terreno que lhes propiciavam alguma protecção e serviam de lugares de defesa), suas possíveis configurações (plantas circulares, ovaladas ou elípticas, delimitadas por muralhas que quase nunca dispensavam fossos ou taludes, naturais ou artificiais), tipologias de habitação (arredondada simples; arredondada com vestíbulo curvo; arredondada com vestíbulo formado por paredes rectas, paralelas ou não; alongadas com um ou vários muros curvos; angulares; angulares com vestíbulo; mistas, construídas por associação das formas anteriormente referidas, podendo aparecer as paredes com cinco tipos de aparelhos: o irregular ou de alvenaria; o poligonal; o helicoidal; com fiadas horizontais sujeitas aos materiais da região; ou de outras formas que não se podem enquadrar nos grupos anteriores), habitantes destes povoados primitivos (povos pré-celtas – lígures e seus descendentes como os oestrímnios, sefes – e celtas), e suas formas de vida: organização social (em tribos independentes que se uniam em situações de emergência. Na zona galaico-portuguesa, parece que existiam vinte e três tribos, entre elas a dos Brácaros, a dos Límicos, a dos Leunos, a dos Gróvios, a dos Luenos…), economia (os castrejos dedicavam-se ao pastoreio, à lavra das terras, à caça, à pesca, trabalhavam os metais e o barro, fabricando objectos de cerâmica. Possuíam animais como o boi, a vaca, o cavalo, a ovelha, o bode. Com o leite dos animais fabricavam manteiga, que substituía o azeite. Alguns animais, para além de fornecerem a sua carne, ajudavam o homem. Também eram peritos no fabrico de cerveja e de cestaria. As actividades comerciais não seriam igualmente de desprezar), costumes (alimentação frugal; prática de luta corpo a corpo e de exercícios de ginástica como treino militar; dureza no tratamento com os prisioneiros que imolavam aos deuses da guerra ou decepavam-lhe membros para oferecer aos númens; casamentos monogâmicos como os dos gregos; exposição dos doentes nos caminhos, para que ouvissem os conselhos de quem já padecera do mesmo mal; expulsão dos parricidas e pena de morte para vários delitos comuns…), religião (politeísmo, prestando culto a divindades como Ares; Júpiter; Marte, Deusa- Mãe; divindades protectoras dos caminhos, dos penedos, dos bosques; serpentes; Sol; Lua; Lume; símbolos fálicos…), ritos (adivinhatórios, de oferendas, de fecundidade e possivelmente funerários) e sacrifícios (de bodes, cavalos e prisioneiros ao deus Ares), terminando com uma abordagem das influências castrejas nas civilizações que se seguiram (na cultura popular, sobretudo no folclore, no habitat e nas formas de vida de alguns nortenhos do mundo rural).

O estudo apresentado aponta ainda para o trabalho realizado em prol do estudo e conhecimento da vida e sociedade castreja por alguns arqueólogos, profissionais ou amadores: Martins Sarmento, Tenente Coronel Afonso do Paço, Dr. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Dr. Armando Coelho da Silva, Mário Cardoso, Félix Alves Pereira, Abel Viana, entre outros.

De permeio, aparecem 16 fotografias documentando a área de influência da cultura castreja, a planta da Citânia de Santa Luzia e alguns pormenores da mesma, da Cividade de Âncora, da Citânia de Briteiros, do Castro de Santa Tecla, bem como tipos de mós e fragmentos de cerâmica.