2001

Variações em Sílaba Aberta

“Varições em Sílaba Aberta” é uma obra dividida em três partes que são introduzidas por textos extra textuais de outros poetas contemporâneos, que surgem como sumários iniciais e veiculadores do pensamento do poeta. Curiosamente levantam a problemática da recepção estética levantada por Jauss, no último quartel do século XX, ainda hoje actualíssima e delineada pelo triângulo:autor, obra e público.

Assim, o primeiro texto, um excerto do poeta António Ramos Rosa, que serviu de base à tese do mestrado do autor, anuncia-nos o papel singular do poeta que traça o seu próprio caminho, um caminho percorrido de palavras. Na segunda parte, um texto do poeta deveras conhecido, Manuel Alegre, refere-se à funcionalidade da obra, o poema que desvenda e inquire. E o terceiro texto que encabeça a terceira e última parte da obra, pertence a Eugénio de Andrade, recentemente galardoado com o prémio Camões, questiona sobre o público leitor, quem recepciona na sua pureza, as palavras ditas que são como cristais?

Passando destas linhas de leitura externa para a produção intertextual vê-se que em”Variações em Sílaba Aberta”a primeira parte é constituída por um único texto, No Litoral do Devaneio (pág.9), em prosa. Na segunda parte aparece uma poesia ao gosto classicista da nossa contemporaneidade mais próxima. A terceira parte é constituída por um longo poema em aberto, interrogativo, intitulado sílabas que “andam no ar”, na expectativa que as agarrem porque elas são ao gosto garrettiano, afagos de mulher e enleios de poeta.

A bonita capa alusiva à memória rupestre do Lindoso, a metáfora titular de todos os poemas inclusos: “Variações em Sílaba Aberta”, a estrutura externa, os textos protocolares, e sobretudo a excelência da poesia deste poeta são mais que pretextos para percorrer´, de lés a lés, este livro.

(texto retirado da apresentação do livro, feita pela Dra. Arlete Faria)

Silêncios de Cristal

APRESENTAÇÃO GLOBAL

A obra é iniciada com duas dedicatórias, uma ao marido e filha da autora, outra a toda a família e amigos, com menção especial aos pais e irmãs.
Segue-se um prefácio, da autoria da poetisa vianense Virgínia Manuela Ramos. Segundo esta poetisa, Silêncios de Cristal comporta um conjunto de poemas em que a palavra provém da mais pura inspiração, inspiração esta movida pela força do Amor e das experiências de vida.
O corpo da obra propriamente dito engloba quarenta e sete textos poéticos em verso, separados por sete pensamentos, alguns da autoria de Paula Rolo e outros de Nikos Kazantzatis, Gottfried Berron e Hsi K’ang.
Antes do epílogo, em prosa, da autoria de Paula Rolo, surgem as duas primeiras quadras do soneto de Florbela Espanca “Até agora eu não me conhecia”.
Ilustram a obra cinco desenhos da autoria de Susana Rolo, irmã da autora.

LINHAS TEMÁTICAS

Perpassam Silêncios de Cristal essencialmente duas linhas temáticas que, por vezes, se entrecruzam:

§ A Busca/A Procura de algo
§ O Amor

A Busca/A Procura de algo

Logo no poema de abertura, e depois disseminados ao longo da obra, o leitor depara-se com a busca da essência das palavras que se encontra no local mais profundo da criação poética. É só descendo até esse local, onde, entre o silêncio, se encontra a palavra certa, que a poetisa é capaz de exprimir o seu pensamento, o seu eu (poemas “Silêncio”, “Antítese”, “Escrevendo”, “Dizer o indizível”).
Ao longo da obra, esta busca inicial expande-se e passa a englobar o próprio eu (“Majestosa”, “Um vazio”, “Reconheci-me” “Onde estou”, “Desilusão”, “Constante procura”) e as contradições nele existentes (“Contradições”), a vida e a razão de viver (“Sentido para existir”, “Minha vida”, “Desespero”, “Cíclico”), a verdade/realidade (“Medo”). Caminhando em direcção à totalidade, surge-nos a procura/busca do amor puro e verdadeiro, que a autora espera encontrar algures (“Chorando”, “Para onde vais coração”, “Meu Sol”, “Horizontes”, “Espero por ti”), da plenitude, do infinito, do inalcançável (“Sonho”, “Selvagem, domesticado” “Eternidade”, “Uma ponte”, “Coração aberto”) da compreensão (“Um olhar”), das origens do universo, da vida, dos sentimentos que avassalam o ser (“Segredo”), do destino e da finalidade da vida (“Destino”, “Aurora”), de um lugar – o lugar ideal, o único onde a plenitude se concretizará (“Um lugar”).
Por vezes, esse desejo de busca e de atingir a plenitude surge entrecortado por momentos de medo, de pessimismo, de desilusão (“Incertezas”), logo anulados pela presença da esperança em algo melhor, trazido por um futuro ainda incógnito (“Esperança”, “Anjo da Guarda”) ou por outros em que a capacidade da poetisa para vencer todas as adversidades parece dominar (“Fogo”).
Se ao longo de Silêncios de Cristal Paula Rolo, na sua busca, vagueia por múltiplos espaços, desde o espaço sideral infinito até outro também infinito e que se encontra no cerne do seu ser, termina desistindo de procurar tudo aquilo por que luta: a palavra, a vida, o amor… A poetisa sente-se abandonada, só, sem destino, sem algo que a mova a continuar (“Sem Sul, sem Norte”).

O Amor

A linha temática do amor, que se entrecruza com a precedente e como que a tempera, engloba poemas dedicados à filha e à mãe (“Minha filha…” “Mãos perfeitas”), ao valor da amizade e do amor (“Um abraço”), à força protectora e redentora do amor (“Verbo amar”, “Alma Gémea”). Ainda nesta linha temática se pode enquadrar um poema que surge dedicado à época do ano em que os mais belos sentimentos predominam: o Natal (“Natal!”)

A escrita como espelho do sujeito poético

Há ainda outros textos poéticos em que a escrita nos aparece como o espelho do eu (“Sou eu”) ou como identificação com o momento que se vive (“Um momento”).

O Instante é a tua Face no Poema

O Instante é a tua Face no Poema oferece aos seus leitores ora uma reflexão sobre o tempo (nostalgia do passado, sua brevidade, sua fluência em poemas como “Talvez o Tempo passe”,”Se puderes escuta o Tempo”, “Ode a um Retrato”) ora um tributo à mãe natureza e ao amor (“Poema”, “Adoração”,Se eu pudesse amar-te”,”Uma Flor”).

Noite, silêncio, fogo, morte são temas recorrentes nesta obra em poemas como “Os olhos para ver a Noite”, “Nosso Silêncio de Raízes”,”O Fogo que alumia” , “A Morte como princípio”,”Na Morte de um amigo”.

O Poema

O poema é a arte da solidão

(ou o humano rumor das águas);

segue, segue a nascente __

do alto da fraga é que amas o salgueiro.

As Faianças de Prado (e não de Monte Sinai)

Com o presente artigo, publicado primeiramente na revista “Mínia”, António Matos Reis demonstra, com base em documentos por ele pesquisados e analisados, na análise das características das peças de ambas as oficinas e por informações colhidas em outros autores e ceramólogos, que as peças de cerâmica outrora consideradas originárias da fabrica de cerâmica do Monte Sinai, em Lisboa, saíram, efectivamente, das oficinas de Prado.