Ponte de Lima

Pelo Coração das Coisas

A poesia de”Pelo Coração das Coisas” faz-se com a busca das palavras imprescindíveis, das palavras com pulsações próprias (em rumores de “sangue” e de “fogo”), “que a prumo adormecem/ pela comoção da luz verde e exacta/ como chama que se ateia na súbita aparição do verso”. E é com elas, na raíz da voz, que Fátima Meireles parte para uma nova caminhada poética como uma criança descalça. A sua poesia aborda a “infância”, o “amor”, a “vida”, a “solidão”, a “primavera”, a “noite”, a “paisagem” de “rios” e de “peixes”, de “margens” e de “árvores”, de “cordas” e de “barcos”, as coisas concretas e abstractas, o real e o irreal, mas é o tempo que se afirma e destaca no seu universo temático, “o tempo e a dança/ pelo outro tempo da émória.” São os retratos que emergem das sombras para remexer com a vida, com os sonhos, com as emoções, na claridade esplendorosa da poesia nostálgica, dos versos da dor ou da alegria, na evocação lírica dos “homens” que “esmagam as uvas no lagar”, das mulheres que “bordam em toalhas de linho/ delicadas flores”, das “crianças” que “adormecem dentro dos seus olhos”, da “casa cheia de candeias/ luz onde me abandono À saudade/ e o moinho onde a água caía como rosas”. Um mundo de lembranças e de afectos, um tempo revivido: “Era a idade em que ia passear contigo pelos campos/ (eu corria à tua frente)/ enquanto me falavas das árvores que plantavas e vias crescer/ e das rosas cor de sangue que a mãe tinha no jardim/ eu voava sobre a terra a ouvir-te ao cimo da êxtase/ a bboina à feição do teu rosto enfeitado de rugas)/ e os teus olhos submersos no próprio ar que respiravas/ tu ardias de amor pelas coisas/ ao princípio da noite vinhas sentar-te comigo a contar as estrelas”. O que se perscruta e se sente nestes versos é o encanto de uma ternura luminosa e sublime, o som e o silêncio do fazer poético. Assim vibram outros textos, dedicados a gente da arte e da literatura, desde Cesariny,”poeta/sol que arde e não se extingue/ e pelo enigma da vida olhas a pomba de cal”, a Eugénio de Andrade: “Deixa-te estar assim/ junto à janela/ esquecido a olhar os cedros entre a chuva”. Ou a Picasso: “Há seios verdes no arco de um corpo/ sobre um espelho quebrado”.

Luís Dantas

O Mosteiro de Vitorino das Donas do século XI ao Século XV

Nesta separata de outra obra que não aprece identificada, o autor aborda, em quatro capítulos, numa conclusão e num apêndice documental, o historial do Mosteiro de Vitorino das Donas desde o século XI ao século XV. No primeiro capítulo, dividido em três partes, são referidos a origem do mosteiro e o motivo da sua designação: Vitorino (região onde se localizava) das Donas (pelo facto de ser um mosteiro de monjas); a sua evolução de 1207 a 1383 e desta data até 1495. O autor detem-se preferencialmente em factos de natureza económica, como são os bens patrimoniais do mosteiro e todas as diligências feitas por algumas das suas superioras a fim de clarificarem e legalizarem os bens que tutelavam. Tal assunto continua a ser desenvolvido no capítulo seguinte, agora com outros pormenores, nomeadamente com a elencagem de bens, tendo por base documentos da época: as “Inquirições”, o “Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia nos Reinos de Portugal e Algarves”, a “carta testemunhável de sentença” de 17 de Dezembro de 1375, o “tombo” de 1383 e a sua actualização de 1482. O capítulo terceiro menciona sobretudo os vários lugares por onde se distribuiam as propriedades do mosteiro (Pessegueiro, Barbosas, Sob as Devesas, Tresmoinhos, Varziela, So Ameal, Veiga de Barco, Esteiros, Pegas, Porto da Oitava, Seixo, Arco e Veiga aquém do Rego da Fonte) e o tipo de bem possuído em cada casal: leira, pedaço, chouso, pardieiro ou vessada. Há também referência às confrontações entre casais e outras terras do mosteiro, aos rendeiros e aos possuidores de terras em Vitorino das Donas com herdades a confrontar com as do mosteiro, no ano de 1383, assim como a uma aparente desorganização do sistema de exploração dos bens patrimoniais do mosteiro. O capítulo quarto oferece uma visão da evolução do património fundiáro do mosteiro desde os inícos do século XIII aos finais do século XV (de 1220 a 1486).Foca-se, no capítulo, a aquisição do património ao longo dos séculos mencionados, bem como as perdas e acréscimos.
Na conclusão, Matos Reis salienta, uma vez mais, as origens obscuras do mosteiro, pois até à data ainda não foram descobertos documentos que possam clarificar as características internas da colectividade nos seus primórdios. Segue-se uma síntese dos aspectos que foram mencionados ao longo do tratamento do assunto dominante na obra: as dificuldades por que o mosteiro passou, dado estar mais sujeito às interferências de outras pessoas e autoridades do que se fosse pertença de uma ordem religiosa masculina; o modesto e fragmentado património (maioritariamente agrupado em casais) de que era possuidor e a sua expansão económica, ainda que não muito saliente, verificada em meados do século XV, fruto esta, entre outros factores, da humildade, da simpatia e da capacidade de adaptação das religiosas às circunstâncias socias e económicas em que eram obrigadas a viver.
As páginas finais da separata são preenchidas, como se fez referência, por um apêndice documental, dividido em três partes. No apêndice 1, aparece a listagem das propriedades do mosteiro de Vitorino das Donas segundo o tombo de 1383, tresladado e actualizado em 1482. O apêndice dois é a transcrição da actualização, em 17 de Abril de 1482, do “tombo” de 1383. O apêndice três contém três ilustrações da “Pública forma do tombo de 1383 (1ª, 5ª e 10ª folha- verso).

Lendas do Vale do Lima

Em “Lendas do Vale do Lima”, António Manuel Couto Viana realça o lirismo e o sentido épico das lendas e narrativas originárias dos quatro concelhos do Vale do Lima, característica de quem é detentor de uma obra que procura reabilitar o culto do passado, da paisagem e dos amores tímidos.
Com ilustrações de António Vaz Pereira, esta obra, patrocinada pela Valima – Associação de Municípios do Vale do Lima – oferece ao leitor um conjunto de vinte e quatro lendas originárias desses mesmos municípios.