Autor

José Leones Lima

"José Leones Lima nasceu a vinte e sete de Fevereiro de 1955, na freguesia de Moreira do Lima, no concelho de Ponte de Lima, a vila mais linda e antiga de Portugal, em terras do verde e alto Minho. Aos catorze anos, por vontade própria, abandonou o bem-estar do seio da família e radicou-se em Matosinhos, começando a trabalhar na Refinaria de Petróleo de Leça da Palmeira, como ajudante de escritório. Com dezassete anos rumou para a linda cidade de Setúbal, banhada pelas águas do rio Sado e desempenhou as funções de projectista no Cine Teatro Luísa Tody, trabalhando ao mesmo tempo para a Torralta na península de Tróia como maquinista. Nesta cidade começou de novo a estudar, em horário nocturno, para completar os estudos secundários no Externato Luísa Tody. Em 1977, com vinte e dois anos, levado por uma curiosidade e necessidade interior, aceitou um contrato de trabalho na América Latina, podendo assim concretizar o sonho antigo de visitar e conhecer a Amazónia. Em 1981, na Venezuela, casa com umas senhora venezuelana de quem tem um filho e nesse mesmo ano acaba o ensino secundário no Liceu nocturno Francisco de Miranda. Quatro anos depois, finaliza os estudos de Técnico Superior de Electrónica com o título de Bacharelato em Electrónica no IUT (Instituto Universitário Tecnológico), licenciando-se e acabando os seus estudos em 1988 na Universidade Simon Bolívar como Engenheiro em Electrónica. Ainda na América Latina e durante os seus estudos, trabalhou como Técnico de Ascensores, Chefe de Departamento Eléctrico e Director Técnico. Entre 1983 e 1988 viajou várias vezes aos Estados Unidos, fazendo alguns cursos profissionais na Company Armor Elevators, na cidade de Miami. Regressou a Portugal em 1990, radicando-se na cidade de Coimbra e desempenhando o cargo de Chefe de Departamento para a empresa Efacentro Elevadores, uma empresa do grupo Efacec Elevadores Em 1995 começa a viajar para África, fazendo alguns negócios no seu ramo profissional e em 1997, durante uma dessas viagens e em Angola, sofre um acidente profissional que o deixa paraplégico com 80% de incapacidade. A partir desta data, o tempo dos sonhos risonhos passou para José Leones Lima. Cria a Electroleones em 1998 e no ano seguinte ganha o prémio de Mérito a nível nacional, entregue pelo Ministro do Trabalho em função na altura. Divorcia-se em 2003 e começa a viver sozinho, no bairro do Jardim em Viana do Castelo. Em 2006 muda-se para a freguesia de Monserrate na mesma cidade, onde vive solitariamente, começando a escrever, neste ambiente, o livro Culpado me Confesso, obra autobiográfica, levemente ficcionada, que é lançada nesta cidade em 17 de Junho de 2006. À data encontra-se a escrever um romance que será editado e lançado no final do ano em curso."

Concelho
Data de Nascimento
Profissão

Livros do autor

Culpado me Confesso

APRESENTAÇÃO GLOBAL

Culpado me Confesso é uma narrativa autobiográfica em dezasseis capítulos, antecedidos de um prólogo. Precede a narrativa propriamente dita uma dedicatória, em que o autor oferta a obra aos seus filhos (um biológico e outro afectivo) e a todo o ser humano portador de uma qualquer deficiência, e que, malgrado esta, ousa lutar e vencer. Ainda antes da narrativa, o leitor depara-se com um texto em verso que constitui o mote da mesma e, de certa forma, marca a antítese passado/presente na vida de José Leones Lima, confrontando o leitor com a efemeridade da vida e fazendo-o constatar que não é mais do que um “bicho da terra tão pequeno”, perante a força do tempo, do destino ou simplesmente do acaso.

Na badana da capa, encontra-se um excerto de um dos escritos de Albert Einstein e na contracapa uma apreciação crítica à obra.

LINHAS TEMÁTICAS

Tratando-se de uma narrativa autobiográfica (conquanto nos seja referido na página em que se encontra inserida a dedicatória que se trata de uma “obra de ficção” e que “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”, o que o narrador/protagonista vai desmentindo ao longo da narração), a linha temática geral de Culpado me Confesso é constituída pelas vivências do autor, com enfoque especial para as circunstâncias que motivaram o acidente ocorrido durante a sua estada, por motivos profissionais, num país do continente africano, que nunca é identificado, e do qual resultou a paraplegia.

Dispersos pela obra, identificam-se, no entanto, três temas fundamentais, que o autor faz questão de destacar dos demais, todos analisados segundo o seu ponto de vista, muitas vezes deixando transparecer uma certa ironia, outras uma profunda raiva, outras ainda um misticismo e um desejo de comunhão com o infinito e a divindade que, segundo Leones Lima, está na origem do mundo, da vida e do ser humano. São esses temas: a mulher (como profissional e afectivamente), a luta do deficiente pela sobrevivência e Deus (o Arquitecto Supremo). É com o relato do momento mais dramático da sua vida (sábado, dia 13 de Dezembro de 1997) e das consequências físicas, psicológicas, sociais e afectivas posteriores que o autor inicia a narrativa e ao qual dedica, em sequência temporal linear, por vezes interrompida por analepses e prolepses, os primeiros nove capítulos, não se abstendo também de fazer comentários e reflexões sobre as temáticas dominantes na obra, assim como algumas outras que nela são afloradas: Deus, sua omnipotência e a religião; o egoísmo humano; a visão, o mais das vezes errada, que a sociedade desenvolve de um deficiente motor (paraplégico); a própria vida; a força do destino e a mulher.

No décimo capítulo, usando uma analepse, a narrativa recua até à infância do narrador, para prosseguir com a narração dos acontecimentos mais marcantes dos anos que antecederam a viagem a África, terminando com um grito de esperança de que, apesar das vicissitudes que a vida lhe destinou (e continuará a destinar?), acredita firmemente que vencerá.

Merecem destaque especial, nesta narrativa, os momentos em que José Leones Lima nos transporta para o continente americano e nos coloca em contacto com as paisagens paradisíacas do Amazonas e tribos selvagens que aí habitam, suas crenças, lendas e modos de vida (capítulo XI), assim como quando nos dá a conhecer a situação política e social vivida na Venezuela nos anos 80 e 90 do século XX (capítulo XIII) ou ainda quando informa sobre as propriedades medicinais de alguns frutos (capítulo III). De salientar, também, que, ao longo da obra, o narrador/autor interpela frequentemente o seu narratário, convidando-o a recordar passagens anteriores, a reflectir sobre o relato e comentários que o acompanham. Deixa no ar questões, pretendendo que as mesmas se transformem em pontos de meditação para o narratário/leitor.

VISÃO GLOBAL DE CADA CAPÍTULO

Capítulo I Razões familiares, sentimentais (principalmente) e profissionais levaram o protagonista a aceitar o convite para trabalhar num país do continente africano. A estada que, a princípio, seria de alguns meses, acaba por se prolongar por três anos e, dois dias antes do regresso, aquando da realização do último trabalho, eis que sofre um brutal acidente que o deixa paraplégico.

Capítulo II Acordando de um estado de quase morte e lutando com todas as forças para resistir ao abismo que constantemente o convidava a claudicar, o protagonista é transportado a um hospital local onde é intervencionado cirurgicamente. Aí recebe a notícia de que havia fortes hipóteses de ficar para sempre dependente de uma cadeira de rodas. A dor de tal constatação aliava-se a outra ainda maior: a de comunicar à família a ocorrência e as consequências que daí adviriam. Assim se passam doze dias, tempo que mediou entre o acidente e a viagem de regresso a Portugal.

Capítulo III A chegada ao aeroporto traz consigo o primeiro contacto com a família, sobretudo com a esposa e filho, então com dez anos, recusando-se este a aceitar que o protagonista era, de facto, o pai que ele conhecera. É internado no hospital de Santa Maria, em Lisboa e submetido a várias intervenções cirúrgicas, a primeira das quais com o intuito de debelar um problema respiratório devido à rotura, em dois locais diferentes, do diafragma. Três meses volvidos, regressa ao Alto Minho, onde é internado numa unidade hospitalar da zona. Aí, depois de várias peripécias que o protagonista relata, e após alguma preparação, que o próprio considera insuficiente, para enfrentar o mundo com a sua nova condição “ de deficiente”, volta a casa. Estava-se em Julho de 1998. Sujeito, como a maioria dos deficientes motores, às chamadas úlceras de decúbito, também estas acabam por conduzi-lo a novos internamentos, alguns dos quais se prolongaram por vários meses.

Capítulo IV Fazendo uma pausa na autobiografia, todo o capítulo é dedicado a reflexões e considerações sobre a vida do deficiente, a visão que dele tem a sociedade e o tratamento de que é alvo por parte dessa mesma sociedade.

Capítulo V Voltando à narração autobiográfica, o protagonista dá-nos conta dos esforços desenvolvidos no sentido de se tornar autónomo e de voltar a ser o pilar e base de sustento da sua família. Refere os problemas de saúde que lhe advieram devido ao trabalho desgastante que desenvolveu, a indiferença da família próxima (quiçá o desrespeito pela sua pessoa e direitos familiares) e a greve de fome que foi obrigado a enfrentar, durante vinte e cinco dias, como única medida capaz de lançar sobre si o olhar de uma sociedade incapaz de lhe prorrogar um prazo para pagamento de uma dívida de IVA.

Capítulo VI Situando-nos temporalmente no início de 2004, o capítulo é dedicado à ruptura do seu casamento e razões que motivaram tal decisão. Alude-se, de passagem, a mais um internamento hospitalar a que o narrador já tinha feito referência anteriormente.

Capítulo VII Depois de referir uma primeira relação afectiva “platónica” com alguém também frequentador do site dos Deficientes Activos, após ter deixado a casa onde residia, o protagonista dá-nos a conhecer momentos de uma segunda relação e as causas que determinaram o seu desenlace.

Capítulo VIII Novamente no hospital, neste capítulo, o leitor é confrontado com o quotidiano desta unidade de saúde, filtrado pela análise subjectiva de quem viveu e sentiu os acontecimentos relatados. Os diversos procedimentos do corpo de enfermagem, as atitudes de certos médicos e outros aspectos da rotina vivida num espaço desta natureza são-nos apresentados, por vezes, num tom irónico, noutras, revestidos de uma ponta de dramatismo, deixando transparecer uma imagem nem sempre elevada de quem se dedica à saúde.

Capítulo IX As barreiras com que Leones Lima se depara após a alta hospitalar (procura de uma casa cujas condições estejam adaptadas a um paraplégico e a sua vida até conseguir um apartamento com tais características, as diligências efectuadas para conseguir um emprego que lhe permita subsistir) constituem o fulcro do capítulo, em que há ainda espaço para nos transmitir a imagem que, segundo o narrador, a sociedade tem de um paraplégico e as capacidades que este possui efectivamente. Uma vez mais o leitor é levado a reflectir sobre os cuidados e atenção que o ser humano (não) dedica ao seu semelhante portador de uma deficiência, o mais das vezes votado ao esquecimento, até por parte da própria família. Para melhor marcar a diferença entre o procedimento do homem e o dos animais relativamente ao seu semelhante, o protagonista recorda as atitudes dos gansos durante as suas migrações, sobretudo quando algum elemento do bando se encontra ferido e não pode seguir a rota de migração juntamente com as outras.

Capítulo X Surge, neste capítulo, a grande analepse da obra. Nele somos enviados para as origens do protagonista, sua infância (passada esta no seio de uma família que valorizava sobretudo o trabalho braçal dos seus membros e menosprezava aqueles que elegiam o conhecimento e a curiosidade intelectual e científica como uma prioridade), adolescência (com a primeira tentativa frustrada de saída do ambiente familiar), primeira juventude (vivida em Setúbal, onde contacta com o movimento hippie), terminando no momento em que decide assinar o contrato de trabalho que o conduzirá até à Venezuela.

Capítulo XI Entremeando a narrativa autobiográfica com algumas descrições, o narrador autodiegético leva-nos a conhecer a maravilhosa selva amazónica, rica em vegetação luxuriante, local onde passou férias inesquecíveis, em contacto com as tribos índias que aí habitam. Tal contacto possibilitou-lhe o conhecimento de lendas e crenças em que esses povos acreditam e que têm passado de geração em geração. Regressando à sua autobiografia, salienta o trabalho desenvolvido na Venezuela, realçando o estado de quase morte em que ficou um dos técnicos que com ele trabalhava e como o conseguiu superar, algumas das suas vivências afectivas, culminando no seu casamento com “a morena mais linda que jamais vira”.

Capítulo XII A primazia dada ao percurso profissional do protagonista, em terras venezuelanas e o enfoque dado aos seus ídolos (Isaac Newton, Robert H. Goddard, Michael Faraday, james Clerk Maxwell e, acima de todos, Albert Einstein), levam o narrador a lançar mão uma vez mais a analepse para se centrar, novamente, na sua infância e relatar episódios dos quais emerge a força de vontade para conseguir vencer a oposição familiar que lhe era movida, sempre que tentava informar-se, através da leitura, sobre assuntos que lhe despertavam interesse. O contacto com literatura de temática científica, sobretudo na área da electricidade e electrónica, permitiu-lhe a aquisição de novos conhecimentos e a realização de experiências rudimentares, mas que serviram para que ele próprio testasse as suas capacidades e apetências para a área da sua predilecção. Nas páginas finais do capítulo, são-nos narradas algumas peripécias que antecederam o nascimento do filho.

Capítulo XIII Deixando transparecer o grande amor e toda a emoção que se vive aquando do nascimento de um filho, o narrador apresenta-nos páginas em que a criança e os seus primeiros anos de vida se tornam o centro do seu mundo. Além deste aspecto e vivendo-se o início dos anos 90, época conturbada na Venezuela, é-nos igualmente narrado o estado caótico em que o país vivia, levando o protagonista e sua família, também eles vítima do saque e do vandalismo da população, a equacionarem verdadeiramente a hipótese de regresso a Portugal, acabando por concretizá-la.

Capítulo XIV O regresso à terra natal e o processo de aculturação, tanto por parte do protagonista, como da esposa, habituados a outro ambiente sócio-cultural, com padrões de vida totalmente diferentes dos vigentes entre a população rural do Alto Minho, são aspectos que sobressaem neste capítulo. É ainda o momento em que o narrador nos confidencia mais algumas feições da sua vida profissional, cujo desenrolar acabará por culminar com a aceitação do convite de trabalho em terras africanas. Ao longo das páginas deste capítulo, são vincados também aspectos relacionados com a hipocrisia social e com o egoísmo e a inveja humanas.

Capítulo XV Quase no terminus da sua autobiografia, José Leones Lima construiu este capítulo à volta do péssimo ambiente de trabalho que o rodeava, o qual veio a motivar a rescisão do contrato e a opção de trabalhar por conta própria.

Capítulo XVI No epílogo da narrativa, o leitor toma contacto com mais alguns factos que despoletaram a aceitação da viagem ao continente africano e é conduzido ao momento em que a narração principia: o acidente aquando da verificação da maquinaria que uma empresa vendia para um Ministério de um país de África. O autor conclui a obra com um agradecimento a todos quantos leram a sua narrativa, deixando-nos a sua certeza de que, apesar de todas as adversidades, está convicto de que vencerá.