Poesia

Variações em Sílaba Aberta

“Varições em Sílaba Aberta” é uma obra dividida em três partes que são introduzidas por textos extra textuais de outros poetas contemporâneos, que surgem como sumários iniciais e veiculadores do pensamento do poeta. Curiosamente levantam a problemática da recepção estética levantada por Jauss, no último quartel do século XX, ainda hoje actualíssima e delineada pelo triângulo:autor, obra e público.

Assim, o primeiro texto, um excerto do poeta António Ramos Rosa, que serviu de base à tese do mestrado do autor, anuncia-nos o papel singular do poeta que traça o seu próprio caminho, um caminho percorrido de palavras. Na segunda parte, um texto do poeta deveras conhecido, Manuel Alegre, refere-se à funcionalidade da obra, o poema que desvenda e inquire. E o terceiro texto que encabeça a terceira e última parte da obra, pertence a Eugénio de Andrade, recentemente galardoado com o prémio Camões, questiona sobre o público leitor, quem recepciona na sua pureza, as palavras ditas que são como cristais?

Passando destas linhas de leitura externa para a produção intertextual vê-se que em”Variações em Sílaba Aberta”a primeira parte é constituída por um único texto, No Litoral do Devaneio (pág.9), em prosa. Na segunda parte aparece uma poesia ao gosto classicista da nossa contemporaneidade mais próxima. A terceira parte é constituída por um longo poema em aberto, interrogativo, intitulado sílabas que “andam no ar”, na expectativa que as agarrem porque elas são ao gosto garrettiano, afagos de mulher e enleios de poeta.

A bonita capa alusiva à memória rupestre do Lindoso, a metáfora titular de todos os poemas inclusos: “Variações em Sílaba Aberta”, a estrutura externa, os textos protocolares, e sobretudo a excelência da poesia deste poeta são mais que pretextos para percorrer´, de lés a lés, este livro.

(texto retirado da apresentação do livro, feita pela Dra. Arlete Faria)

Viagens

São variados e ricos os temas abordados por Francisco Carneiro Fernandes na sua obra Viagens. Um dos poemas iniciais – “Ser poeta” – debruça-se sobre a importância e magnanimidade do ofício do poeta (não é casual que muitos dos seus poemas sejam dedicados a alguns dos maiores vultos da poesia portuguesa, tais como Augusto Gil, António Nobre, Mário de Sá-Carneiro, Alexandre O’Neill, Ary dos Santos, Fernando Pessoa e Cesário Verde). O título Viagens remete para uma nomadização que serve, afinal, de pretexto para uma reflexão ontológica sobre o eu no mundo e na vida (“Viagem”, “Janelas”), assumindo contornos de intervenção activa num contexto de justiça social (“Rotas da Vida”). Assiste-se, inúmeras vezes, ao estabelecimento de uma antinomia passado / presente (“Olhares”, “Nostalgia”), bem como à referência à passagem célere do tempo, à condição efémera do ser humano (“Relógio”). São também marcadas as datas comemorativas importantes tanto para o percurso individual como para o trajecto gregário do sujeito poético: “Dia do Pai”, “Páscoa”, “Balada de Natal”, “Carnaval”, “25 de Abril”. Em “Cidade”, o espaço-cidade é convocado como lugar de euforia sonhada / disforia concretizada. No entanto, são vários, aliás, os espaços urbanos que se desenham afectivamente nestas páginas: “Porto”, “Melgaço”, “Vila Praia de Âncora”, “Ponte de Lima”. São também convocados macro (“Portugal”) e micro-espaços (“Café”), encerrando-se o livro com a meticulosa mimese da obra de arte cesariana “Sentimento de um ocidental”: “O sentimento de um vianense”. Emerge também desta poesia de convicções a defesa de valores humanos intemporais altruistas e construtivos: “Liberdade”, “Amizade”, Humildade”, “Lei da Vida”.

No Vão da Ausência

Eis um novo livro de amor, escrito por amor, para o Amor e com amor onde a presença do tu é uma necessidade pois, como a poeta afirma no texto de entrada, que dá o nome ao livro,

… não basta o frio do Inverno
nem o frio que vem de nós
para as fissuras mais doerem!
Basta que a tua presença se instale
… no vão da ausência.