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À Procura do Tempo

Publicado em 80, este conjunto de 48 textos estão, parece-nos, divididos em três fases: nas duas primeiras o poeta retrata um pouco as suas vivências, em especial as da Guiné onde esteve como furriel enfermeiro; a propósito da terceira, Alberto Antunes de Abreu afirma : “Na terceira parte o livro contém os melhores poemas. Longos, esmeradamente pensados e construídos ao nível estrófico enm gráfico, com os ecos dispostos na vertical, como as ideias paralelas, estes poemas, que até no acento retórico alcançam alto nível de poesia por lhes ser bem realçado o valor fónico, foram, de facto, compostos tanto para serem lidos em gabinete (…) como para serem declamedos; quer dizer, são bons e belos nos planos semântico, fónico e gráfico(…); foram compostos ao sabor da temática social levantada nos anos ’70e têm por tyema o Lumpenproletariat dos que hoje denominamos ‘sem abrigo’, o lavrador, proletário da terra e alicerce do futuro, a sol,idariedade, as crfianças pobres, os marginalizados da sociedade” ( A Poesia Vianense no último Quartel do século XX (1974-2000), Ed. Câmara Municipal de Vana do Castelo, 2005, pp 108/109

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"Agosto de 49. Dia 17. Ainda a manhã se não anunciava e já minha mãe, pesada e em fim de tempo, atravessava o vau do Lima, no embarcadouro do Pinheiro, em Stª Marta de Portuzelo. Ia, com meu pai, carregar um carro com mato, em Mazarefes. O tempo esvaía-se, asinha, e o sol prometia já torresmos. No cocuruto, em contorções, pedia mais paveias. Urgia carregar rápido e ajudar o Luís. Mas as dores engordavam angústias pelo que apressou a descida e com uma tia minha, a Xica, rumou a casa. Era noitinha quando eu nasci. Depois percorri costumeiras veredas: fiz a Primária com o Professor Almeida Fernandes e a catequese com o Padre Albino; fui seminarista em Braga, empregado de escritório na Auto-Lima e na Viúva José de Sousa, funcionário no MDP; mandaram-me para a guerra onde fui enfermeiro e estive na Guiné, no Xime e em Mansambo; fiz filosófico-humanidades na Católica de Braga e, mais tarde, só Humanidades. Quis-me professor.
E cá estou, na Secundária de Monserrate, quase em fim de tempo também. Recordo a Secundária dos Arcos, a de Stª Maria Maior e a das Cavaquinhas, no Seixal ... onde colhi e semeei afectos. Coordeno a Edição do PROFORMA (Boletim do Centro de Formação Contínua de Viana do Castelo), a Associação de Cooperação com a Guiné-Bissau, a construção da BIVAM (Biblioteca Virtual do Alto-Minho) e, com a Lai, sou responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral da Família (Viana). Tenho dois filhos e uma NETA, a Maria. Tenho muitos amigos. Sou feliz! "
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Prefácio

COBAIA POLÍTICA

A noite desceu
molengona
nesta África sonolenta.
Os gaiatos mandingas
correm brincando
na terra poeirenta
enquanto eu
olhando ao longo
sem nada ver
vejo tudo
e sem ser alguém
sou tudo também.
Sou a sombra cerrada
de gente distante;
sou a imagem desfocada
de um povo errante;
sou raspa de livros
pó de secretárias;
sou manejo fácil
de tirana ditadura;
sou bode espiatório
de homens de má catadura;
sou coisa transportada
cambiada
empurrada,
sou coisa encurralada
em trilhos africanos;
sou cobaia de políticas;
sou verme miserando
que ministros desapiedados
pérfidos e corruptos
pisam de quando em quando
e simultraneamente vão mascando
as pontas dos seus charutos.
(Guiné, 15/02/72)

A TI, VELHO LAVRADOR

Carreavas
há pouco
estrume,
suado
e
velho
mas eras tu
bem te vi
cansado
caído
no negrume
do teu viver.
Chegaste a casa moído,
mais velho
mais esfomeado
e o almoço por fazer.

Chorei
na tua cara queimada
por sóis de estio
e
noites mal dormidas.

Carreavas
há pouco
estrume,
suado
e
velho
mas eras tu
homem
impagável
lavrador
solitário
em leirinhas soltas
com muros
e
portas,
estreitas
e
tortas
mas tuas.

Tu
estás velho,
mas outros,
como tu,
um dia
serão
homens
indispensáveis
fundamentais
à nação
porque juntos
farão
das leiras
uma associação.

Hão-de
então
recordar-te
carreando
estrume
rasgando
a
leiva.
Numa estátua
de beleza
e
arte
dirão
que foste tu
a seiva
e
o estrume
da sua associação.
(Meadela, 13/5/76)

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