Prefácio
Tenho vindo, ultimamente, a transmitir aos vindouros, através da palavra escrita, o que foi a vida da região vianense, há uns cinquenta e tal anos.
Foi tanta a mudança que se verificou, nos mais diversos aspectos da vida social, que a actual geração não faz a mais pequena ideia do que foi a vida dos seus avoengos.
Além disso, parece-me mais útil e verídico o testemunho presencial, pese embora, quando fôr o caso, a interpretação pessoal, do que a análise feita, a anos de distância, com base em deduções e pontos de vista subjectivos.
(…)
Dentro dos mesmos parâmetros, através de contos regionais e com base em movimentos sociológicos e culturais, publiquei DOBADOURA DE CONTOS, CONTOS DE RIBA LIMA, e, em contexto de maior expressão, a novela SANTA BÁRBARA DA MONTANHA.
Surge, agora, o romance A PROCURAÇÃO.
Alicerçado no surto migratório para o Brasil que, se tem páginas brilhantes bem expressas nas diversas “casas de brasileiros” e na preponderante posição social e económica na terra da naturalidade, não deixa, porém, de registar, cá e lá, verdadeiros dramas humanos, quase sempre baseados na prolongada separação do casal migratório.
Carlindo Vieira
Outros
Badanas
Considerações expressas sobre o autor por personalidades da região.
Contra capa
Considerações expressas sobre o autor por individualidades da região e excertos de artigos de jornais regionais.
Excertos
Capítulo I
O sonho do emigrante
O quim chegara a casa, cansado de corpo e abatido de alma.
Encostou o cabo da sachola a uma das ombreiras que lhe segurava o tranqueiro da porta e, reverentemente, descobriu a cabeça, ao transpor o limiar da habitação.
Passou a mão espalmada por testa e cabelos, a enxugar as inúmeras gotas de suor, que teimavam em orvalhar-lhe o rosto; em seguida, despe o colete do cotio e vai pendurá-lo ao lado do ensebentado boné.
Depois, senta-se no “mocho” do boralho e recorre a duas interjeições, que tinham tanto de cansaço, como de desânimo.
-Uf…Puf!…
A Linda, apesar de só estar casada com ele há seis meses, já o conhecia muito bem.
Por isso, qual gata boralheira, solícita e dengosa, aproxima-se e enche-o de carícias namoradeiras.
Ele, compreensivo, agradece o carinho, enlaçando a esposa.
-Nunca mais chega a “Carta de Chamada”, Linda!…diz, meio triste, meio amargurado.
-Oh! homem! tem paciência. O Brasil fica muito longe. As cartas demoram um mês a chegar, porque o vapor não tem a pressa do avião.
(…)
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