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Arquitectura Religiosa do Alto Minho I – Século XII a Século XVII

Neste primeiro volume sobre a arquitectura religiosa no Alto Minho, o autor presenteia-nos com uma visão bastante completa das construções de cariz religioso existentes na região referenciada, erigidas não só entre os séculos XII e XVII, como o título sugere, mas ainda recuando no tempo até aos primitivos templos cristãos da época visigótica. Sobre esta época, referencia, na região entre Douro e Minho, a igreja de S. Frutuoso de Montélios, nas proximidades de Braga e a de São Pedro de Balsemão, nos arredores da cidade de Lamego. Formalmente, o volume I é constituído por 368 páginas, contendo um prefácio, três partes (a primeira com quatro capítulos, a segunda e a terceira, cada uma com dois) e uma extensa lista de bibliografia consultada. Tematicamente, cada parte corresponde a um estilo arquitectónico: o românico; o gótico-manuelino; e o maneirismo. Acercando-se do estilo românico, o autor começa por recuar no tempo, dando-nos alguns pormenores sobre a arte pré-românica, que lhe serve de ponto de partida para focar o estilo românico, primeiramente na Europa, e depois, afunilando a área de intervenção, detém-se na Península Ibérica, para referir as influências galegas no românico da região do rio Minho; desta, concentrar-se-á, no final do primiero capítulo, no Alto Minho português. Segue-se, nos dois capítulos subsequentes, uma extensa lista de igrejas e capelas da Ribeira Minho e da Ribeira Lima, enquadradas no estilo em estudo na primeira parte, sendo tecidas, para cada uma delas, considerações de ordem histórica (data de fundação, fundadores, acontecimentos históricos a que ficaram associadas…) ambiental (a paisagem natural em que se inserem) e artística (arquitectónica e escultórica, sobretudo). No último capítulo, são-nos fornecidas, segundo palavras do autor, algumas achegas para uma melhor interpretação da cultura medieval alto-minhota: a arte decorativa românica e a sua simbologia; a origem histórica e social dos símbolos e respectiva interpretação, sejam eles de natureza antropomórfica, teriomórfica, vegetal ou geométrica. Na parte concernente ao Gótico e ao Manuelino (II parte), o procedimento do autor no tratamento destes dois estilos artísticos segue basicamente as coordenadas traçadas anteriormente. Assim, no capítulo primeiro, são-nos igualmente referenciadas, para cada estilo, a sua origem, as condições económicas e sociais que possibilitaram o seu florescimento, qual o espírito que esteve na base do seu surgimento (o religioso ou o profano) as principais características, deixando Lourenço Alves, no ar, a questão se o Manuelino poderá ser considerado um estilo ou simplesmente uma arte. Já no segundo capítulo, encontra-se o inventário de toda a arquitectura religiosa do Alto MInho com características góticas e manuelinas. Estas igrejas e capelas gótico-manuelinas são estudadas segundo os mesmos aspectos das românicas. A parte dedicada ao Maneirismo comporta um estudo não só da origem e características deste estilo, mas também uma referência ao Humanismo e aos “dois” Renascimentos: o primeiro e o pleno. Segue-se o estudo das sete principais igrejas e capelas maneiristas do Alto Minho, cinco em Viana do Castelo, uma em Ponte de Lima e outra em Caminha. Como convém a qualquer obra cuja temática se relacione com a arte, também esta se apresenta abundantemente ilustrada, maioritariamente com a imagem geral do monumento, embora existam casos em que é destacado algum pormenor: porta, arcos, janeletes, retábulos, pórticos, altares, abóbadas… De relevar também a inclusão de três quadros com o inventários do símbolos antropomórficos, teriomórficos e vegetais, e geométricos existentes nos exemplares de arquitectura religiosa românica referenciados na obra.

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Conheça o autor

"Lourenço Alves nasceu em 13 de Agosto de 1931. Concluiu o Curso Teológico em 1956. Licenciou-se em História na Universidade do Porto em 1976. É sacerdote da diocese de Viana do Castelo. Foi pároco de Carreço, professor de Português e História, Director do Departamento do Arquivo Diocesano e Investigação Histórica do Instituto Católico de Viana do Castelo e professor de História da Arte na sua Escola Superior de TEcnologia. Foi também o primeiro presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho; vice-presidente do Centro de Estudos Regionais; membro da Comissão Diocesana de Arte e Cultura e Director Adjunto da revista Caminiana. É autor de: - Aspectos da Cultura Castreja no Alto Minho; - O Românico do Alto Minho; - Do Gótico ao MAnuelino no Alto Minho (três opúsculos); - Os Santos Padroeiros do Concelho de Caminha; - Caminha e seu Concelho; - Arquitectura Religiosa do Alto Minho I; - Arquitectura Religiosa do Alto MInho II; - A Comenda de Santa Maria de Carreço (Monografia); - Iconografia do Dragão nalgumas imagens sacras do Alto Minho; - O Património Cultural do Alto Minho - Sua defesa e protecção; - Monografia de Seixas; - Reflexões sobre a Vida. Foi, igualmente, colaborador das revistas Caminiana, Cadernos Vianenses e Boletim do CER."
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Prefácio

“Este livro, que ora sai à luz da publicidade, não constitui surpresa para ninguém, pois é o fruto de alguns anos de pesquisas, de estudo, de análise e de interpretação dos elementos arquitectónicos e decorativos que povoam o mundo da nossa arquitectura religiosa, desde o século XII até ao século XVII, já quase todo publicado em artigos de jornal e revista.
Por aí, já se pode ver o grau de análise e de interpretação de dados que nos propusemos atingir e o objectivo que sempre tivemos em mira.
Quando estudamos e passamos para o papel os nossos conhecimentos, não nos move a intenção de penetrar no “sancta sanctorum” da cultura, onde os eruditos se desunham, tantas vezes na ânsia de descobrir uma pontinha do véu da ciência que os possa conduzir ao páramo da imortalidade.
Sabemos os limites da nossa capacidade, quer venham eles da exiguidade do espírito de captação e assimilação de conhecimentos, quer da falta de informação de que enferma este tão belo Alto Minho, quer ainda da falta de tempo, um dos factores mais importantes para o estudo da cultura da nossa região.
Nada disto, porém, nos demove a abandonar o objectivo que nos propusemos atingir, quando verificámos que o Alto Minho, ainda na sua pureza original, bem merece o esforço de todos quantos, por herança ou por afinidade, gostam dele.
Integrados numa Comissão Diocesana de Arte e Cultura, Vice-Presidente, desde a sua fundação, do Centro de Estudos Regionais, eleito, pela segunda vez, para presidir aos destinos da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho, pároco, professor, pregador, amigo de passear e de observar, tudo isto contribuiu para que nos abalançássemos a esta obra, que esperamos continuar no futuro.
Não obstante a sua pobreza económica imerecida que se reflecte, necessariamente, na cultura e, no caso vertente, na monumentalidade da arquitectura religiosa, o Alto Minho revela-se ainda duma riqueza incalculável em todos os domínios da cultura, mas especialmente no campo da arte popular.
São centenas de igrejas e capelas, espalhadas por montes de vales, despertando na alma do povo altominhoto laivos de emoção, de amor e de carinho, que o leva a sacrifícios sem conta para as manter sempre bem conservadas, já que ali decorrem os actos mais importantes da sua vida: o baptismo, o casamento, a morte, as festas, as grandes concentrações e as grandes manifestações de solidariedade social.
Perante isto tudo, e numa ânsia incontida de consciencializar este povo para os valores do seu património religioso, percorremos muitos quilómetros, observámos muitas igrejas e capelas, tirámos muitas fotografias e tomámos muitos apontamentos. Depois, consultámos muitos autores e estudámos alguns documentos. Finalmente, elaborámos textos. E a obra apareceu.
Que Deus nos ajude e o leitor amigo não desdenhe do nosso trabalho.
A publicação deste modesto ensaio sobre a nossa arquitectura religiosa do século XII ao Século XVII, só foi possível, graças à insistência com que alguns amigos nos animaram e aos apoios financeiros que algumas entidades públicas nos deram.
Desejamos destacar o Director da Revista CAMINIANA, António G. Cepa, o CENTRO DE ESTUDOS REGIONAIS (CER), a ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS E HOMENS DE LETRAS DO ALTO MINHO e as digníssimas CÂMARAS MUNICIPAIS DE VIANA DO CASTELO E CAMINHA.
Para todos eles vai o nosso agradecimento e o voto de que nunca deixem de apoiar o que, no campo da cultura, se afigura de carácter permanente, em vez de gastar os proventos municipais em projectos e acções, tantas vezes irrisórios, sem grande proveito para a história regional.”

Outros

Badanas

A badana da capa menciona a imagem contida na capa e o seu autor: vitral da igreja de Carreço, de João Roriz

Excertos

“1- MANIFESTAÇÕES DA ARTE VISIGÓTICA Quem se debruçar com alguma atenção sobre a arquitectura do Ocidente, verifica que se abre uma lacuna entre a arte romana que prevaleceu, de forma mais ou menos acentuada, até à invasão dos bárbaros, no início do século V, e a explosão do românico, nos fins do século XI. Convencionou-se chamar a este período da história Alta Idade Média. É uma época de crise profunda e constante, que atinge as instituições políticas, económicas, sociais e religiosas. A decadência do império romano do ocidente inicia-se com o baixo império em que militares da província disputam a chefia do exército e dos mais altos cargos da corte imperial, os deuses coloniais alinham no Panteão lado a lado com os da mitologia clássica, os costumes se ruralizam, a cultura afasta-se das cidades, o cristianismo vai ganhando adeptos, sobretudo nos meios urbanos e os bárbaros, rompendo as fronteiras, se vão instalando na administração e no exército. Na Península Ibérica, como aliás em todas as províncias do Império, a situação é idêntica. Com a invasão dos bárbaros, sobretudo, ostrogodos, visigodos, suevos e francos, a situação agrava-se ainda mais até ao desmantelamento total das estruturas do império, iniciando-se então um processo de transformação e de recuperação que levará muitos anos até atingir alguma estabilidade. Dos bárbaros que se abateram sobre o império romano do ocidente, apenas nos interessam os suevos e os visigodos: os primeiros, por se terem fixado nesta região onde vivemos, formando um reino poderoso com a capital em Braga, que durou cerca de 150 anos; os segundos, porque estando instalados no resto da Península, passaram a dominar esta região, a partir de 585, pela derrota do suevos. Neste confronto entre hispano-romanos e bárbaros não houve vencedores nem vencidos, porque se os primeiros foram dominados pelas armas, estes venceram os bárbaros pela cultura. Daí que as formas culturais dos suevos e visigodos tenham encontrado na cultura hispano-romana o seu principal suporte. O que a princípio foi julgado uma verdadeira calamidade, depressa se transformou num motivo de esperança, de paz e de progresso. Razão tinha Hidácio de Chaves, contemporâneo destes acontecimentos, ao declarar que o bárbaro cedo trocou a espada pelo arado. No princípio do século VIII, a Península foi de novo abalada por outra invasão que transformou por completo a organização do decadente império visigótico apoiado no princípio: «una Lex – unum Rex». Esta região do Alto Minho, embora atingida pelo flagelo do invasor muçulmano, não sentiu demasiado a sua influência, talvez pela sua passagem um tanto meteórica, talvez pela rapidez com que se processou nesta zona a reconquista. O ermamento, se chegou a dar-se como pretendem alguns historiadores de renome, não terá ultrapassado os muros dos poucos e decadentes centros urbanos. A organização eclesiástica, revelada pelo Censual da Sé de Braga do século XI, constitui prova assaz concludente de que a invasão da mourama não teria provocado grande quebra no espírito religioso, sobretudo nos meios rurais. Por outro lado, a hagiotoponímia das paróquias após a reconquista era sensivelmente a mesma do período visigótico, como bem demonstrou Pierre David, prova de que, com a ocupação árabe, não se esvaiu da memória do povo a igreja onde se reunia para rezar, com o seu baptistério, o seu cemitério e, sobretudo, o seu padroeiro. Mas se é relativamente fácil aduzir argumentos para demonstrar esta permanência do culto cristão, nesta região, durante a ocupação árabe e no período da reconquista, não é tão fácil detectar quaisquer vestígios de construções religiosas, quer paroquiais, quer particulares ou cenobíticas. Seriam construções de materiais pouco duráveis? Teriam sido destruídas no período românico para as reconstruir segundo a nova moda? Aarão de Lacerda admite esta hipótese. Seja como for, torna-se difícil, senão impossível, admitir que o culto cristão tivesse prevalecido durante este período sem templos. Até porque, segundo rezam as crónicas da reconquista, o reis e os presores, conforme iam ganhando terreno ao inimigo, proviam à organização económica e religiosa das populações. Convém advertir que no resto da Galiza também não são muito numerosos os restos de monumentos asturianos e moçárabes. E sendo esta região bastante pobre, na época em referência, a falta de monumentos leva-nos a concluir pela fragilidade dos materiais com que eram construídos, não resistindo à acção destruidora do tempo. Se não é fácil encontrar restos de construções pré-românicas dos períodos asturiano e moçárabe, nesta região, o mesmo não se pode dizer em relação ao período suévico-visigótico. Quando se fala de arte suévico-visigótica, necessariamente se deve abordar o intrincado problema da cristianização da Galécia que abrangia toda a região entre o rio Douro e o mar Cantábrico. Embora haja indícios seguros da existência de cristãos nesta região, durante o Baixo Império, pelos relatos do martirológio, nem por isso nos sentimos avalizados para afirmar a institucionalização do cristianismo em dioceses, paróquias e conventos, antes do século IV. O primeiro documento que nos relata concretamente a existência de dioceses e paróquias nesta zona é a «Divisio Theodomiri» ou «Parochiale Suevum». No ano de 569, o rei suevo Teodomiro, convertido à fé cristã por S. Martinho de Dume, convocou um concílio para Lugo, no qual solicitou aos bispos do seu reino uma reorganização da estrutura eclesiástica mais consentânea com os novos condicionalismos. Julgava o rei suevo que as dioceses eram demasiado extensas e que se tornava necessário desmembrá-las, criando também novas paróquias. Desta diligência surgiu o célebre documento, julgado autêntico por Pierre David. Neste documento aparece a Sé de Tuy, abrangendo já esta região do Alto Minho, da qual vem mencionada a paróquia rural «pagus ovinia» que alguns historiadores identificam com a actual Senhora da Vinha de Areosa, nas imediações de Viana do Castelo. Esta lista de igrejas paroquiais revela-nos um processo de formação e organização eclesiástica a partir dos castros, à volta dos quais se foram incrustando povoações que deram origem às vilas e paróquias. Sendo assim, pode-se aventar a hipótese da descida dos habitantes da Citânia de Santa Luzia em direcção à veiga, no sentido oeste, pois a paróquia de Ovínia é a primeira mencionada na periferia da citânia. Dado o número reduzido de igrejas relatado pelo «Parochiale Suevem», somos induzidos a pensar que haveria mais igrejas, talvez de índole particular. Isto se depreende das actas do II Concílio de Braga, em 572, que proibia aos bispos de benzer igrejas particulares. Diaz y Diaz é de opinião que a zona onde a organização eclesiástica se mostrava mais activa era a compreendida entre os rios Douro e Minho. Um dos bispos que mais contribuiu para a cristianização desta região foi S. Martinho de Dume. No período visigótico, S. Frutuoso exerceu uma acção missionária de grande envergadura não só entre as populações rurais, mas também pelo fomento da vida monástica, construindo conventos e provendo-os com uma regra inovadora e actualizada. Esta organização eclesiástica exigia necessariamente a construção de igrejas para o exercício do culto, segundo os modelos daquela época. No período suévico, adoptaram-se formas tardoromanas, paleocristãs e proto-históricas, sobretudo como elementos decorativos. A arte visigótica já é um pouco mais complicada. Geralmente adoptou paramentos de pedra talhada, arco em ferradura, abóbadas e estrutura cruciforme. Detectam-se nela influências tardoromanas, bizantinas, africanas e indígenas, sobretudo nesta região dos castros. Consultando um mapa das localidades onde existem igrejas visigóticas, verifica-se que, nesta região do Noroeste, onde prevaleceu a cultura castreja, há duas do lado de Portugal (S. Frutuoso de Montélios e S. Pedro de Balsemão) e uma do lado espanhol (Santa Comba de Bande, perto de Orense). Ora, a acreditar em Diaz y Diaz, nesta região entre Douro e Minho, deveria haver um grande número de igrejas visigóticas, embora se conheçam poucos vestígios, até agora. Que se saiba, nesta região do Alto Minho, existem alguns capitéis no Museu de Viana do Castelo, oriundos da freguesia de Vila Mou do mesmo concelho. Quando se procedia a obras de restauro da igreja paroquial, em 1892, encontraram-se estes capitéis juntamente com outras pedras da mesma época que o Dr. Figueiredo da Guerra recolheu no Museu da cidade. Estes capitéis foram estudados e descritos por J. Rosa de Araújo, numa comunicação ao Colóquio Bracarense de Estudos Suévico-Bizantinos, em 1960. Como estes restos, outros haverá por aí, inseridos no aparelho das paredes de muitas igrejas, à espera de uma oportunidade, se já não foram desfeitos em rebos para tapar buracos!”

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