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Caminha e seu Concelho

Estamos perante a obra mais extensa de Lourenço Alves, autor que se dedicou afincadamente ao estudo do Alto Minho, no que diz respeito a aspectos arquitectónicos, religiosos e históricos.

Esta obra, abarcando todas as freguesias do concelho de Caminha – Seixas, Lanhelas, Cristelo, Moledo, Arga de Cima, Arga de Baixo, Arga de São João, Dem, Vilar de Mouros, Argela, Venade, Azevedo, Vilarelho, Vila Paria de Âncora, Santa Maria de Âncora, Vile, Riba de Âncora, Orbacém, Gondar e Caminha – é um repositório de dados geográficos, climatéricos, demográficos, históricos, sociais, culturais, etnográficos, económicos, urbanísticos, artísticos, patrimoniais e religiosos.

As mais de setecentas páginas que constituem “Caminha e seu Concelho” oferecem-nos, para além do manancial de informação escrita, fotografias, esquemas, esboços de instrumentos e aparelhos ligados a diversas profissões, assim como de algumas peças de artesanato, desenhos, plantas, gráficos e quadros que permitem uma melhor compreensão dos conteúdos abordados.

Lourenço Alves, assessorado por António Guerreiro Cepa, Torcato Augusto Correia, Francisco Sampaio e João Azevedo, oferece-nos, neste livro, a mais completa monografia do concelho, que, pela vastidão de temas tratados e pela abrangência dos mesmos, merece um destaque especial entre as demais do autor.

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Prefácio

“Desde 1977, várias foram as tentativas frustradas do Município, conducentes à publicação de uma monografia concelhia.
Às constantes solicitações de bibliotecas nacionais e estrangeiras, associações culturais, professores, intelectuais e muitos visitantes, desejosos de conhecer um pouco da história e da vida das nossas gentes, dos seus costumes e tradições, a CÂMARA MUNICIPAL teve, muitas vezes, de responder com o seu silêncio ou a vã promessa da publicação, a curto prazo, da sua monografia.
Assim, não surpreenderá que a CÂMARA MUNICIPAL, ao programar as diversas iniciativas culturais a levar a efeito no ano de 1984, integradas nas comemorações do VII Centenário da Outorga do Foral por D. Dinis ao concelho de Caminha, definisse como um dos objectivos prioritários a publicação da monografia concelhia.

Seja-nos pois permitido manifestar o mais profundo reconhecimento às pessoas e entidades a seguir indicadas que viabilizaram este projecto cultural:

Dr. Lourenço Alves – coordenador de todos os trabalhos produzidos sobre as diversas freguesias do concelho.
A sua colaboração inestimável e incondicional apoio foram determinantes na concretização desta magnífica obra.
A ele se deve todo o trabalho de pesquisa e de recolha dos elementos sobre o património, em todo o concelho, bem como a elaboração dos textos referentes à maior parte das freguesias, e a coordenção e supervisão dos restantes textos.

António Guerreiro Cepa – um apoiante desde a primeira hora de todas as manifestações culturais destas comemorações com seu persistente empenhamento e valiosa colaboração. Representando as publicações culturais do concelho – Jornal Caminhense e Revista Caminiana – prestou a todos os colaboradores um contributo inestimável para esta realização.

Ministério da Cultura – cujo generoso subsídio tornou possível a publicação desta obra.

O Presidente da Câmara

JOSÉ JOAQUIM PITA GUERREIRO”

Outros

Badanas e Contra capa

A badana da capa contém uma síntese biográfica do autor de grande parte da obra e que foi simultaneamente coordenador e organizador literário; e de Francisco Sampaio, autor da parte que retrata Vale do Âncora, Vila Praia de Ãncora, Âncora, Riba de Âncora, Vile, Orbacém e Gondar.
É mencionado também Luís Afonso como autor da fotografia do vitral que ilustra a capa.

Na badana da contracapa surgem referências biográficas de três outros colaboradores:João José Lourenço de Azevedo, autor da parte referente a Venade e a Azevedo; Torcato Augusto Correia, adjunto de coordenação e autor do estudo referente a Vale do Coura e Vilarelho; e António José Guerreiro Cepa, outro dos adjuntos do coordenador.

Excertos

“O VALE DO MINHO

Em toda a bacia do Minho, deparam-se-nos aspectos culturais que fazem jus aos mais rasgados encómios de arqueólogos nacionais e estrangeiros, índice mais que evidente dum povoamento, fixo ou transitório, desde os tempos remotos da Pré-História.

Quando percorremos as margens idílicas do rio Minho, na parte que respeita a Portugal e com mais incidência junto à foz, ficamos surpreendidos com tamanha quantidade de seixos rolados que, nascendo junto das águas rumorejantes do caudal, se estendem por campos e montados, até atingir elevações de 50 a 60 metros.

Afinal, de que se trata?

Durante o período quaternário, em que surgiu a vida humana sobre a terra, o mundo sofreu grandes modificações, quer provocadas por contínuos terramotos, quer por variações climatéricas, a que os cientistas chamaram glaciares.

Estes glaciares foram quatro: Gunz, Mindel, Riss e Wurm. Entre um glaciar e outro, houve longos períodos – os interglaciares – em que as neves, formadas nos glaciares, derretiam, provocando uma subida substancial das águas dos rios e dos mares.

O gelo, ao derreter, arrastava consigo grandes camadas de terra e pedra, depositando-as nas margens e nos estuários dos rios. Inversamente, quando surgia um novo glaciar, as águas retrocediam, deixando nas margens grande quantidade de seixo rolado, devidamente sedimentado. Assim se formaram os terraços do rio Minho.

O homem do quaternário acompanhou os níveis das águas, naquele fluxo e refluxo constantes, deixando vestígios, não só junto às margens actuais, mas também a distâncias maiores e em pontos mais elevados.

Foi Lautensach o primeiro a estudar os terraços do rio Minho. Segundo ele, estes terraços distribuem-se por três níveis. O mais elevado está situado entre os 40 e 60 metros; o médio a uma altura de 16 a 20 metros e o mais baixo a uma altura de 5 metros do nível actual das águas.

Abbé Breuil e Zbyszewsky estudaram também estes terraços, chegando a conclusões semelhantes. Segundo estes pré-historiadores, os terraços do Minho têm três níveis, estando o primeiro, o mais elevado, a uma altura de 50 metros, formado por calhaus rolados de quartzo, de formato pequeno, inseridos numa camada de terra barrenta, amarelada ou cinzenta; o nível médio está a uma altura de 8 a 12 metros, sendo formado por uma camada de calhaus rolados de quartzo, um pouco mais avantajados; e, finalmente, um nível baixo que se situa a uma altura de 4 a 8 metros do nível médio das águas do rio.

Outros cientistas se têm debruçado sobre outro tão candente assunto e as suas opiniões são mais ou menos convergentes com as anteriores.

Quanto a vestígios líticos trabalhados pelo homem, em 1933/34, fez-se uma recolha de 61 objectos entre Monção e Melgaço que os investigadores distribuem por vários períodos da pré-história conforme a sua tipologia.

No que respeita ao espaço compreendido entre a foz e Lanhelas, dá-se conhecimento à frente, quando se faz referência à história das várias localidades situadas na bacia do Minho.

Um dos fenómenos culturais mais polémicos, nestes últimos anos, é a chamada cultura megalítica.

Toda esta região do Noroeste Peninsular e, particularmente, a bacia do Minho, onde existem alguns exemplares identificados, deveria ter sido uma base apreciável desta cultura.

Desde Gordon Childe, a cultura dolménica foi considerada de procedência oriental. Actualmente, esta posição está a ser revista. Sem cairmos no radicalismo de Luís Pericot que considera «os dólmens tão característicos da Galiza que não cruzam a fronteira para sul… nem para oeste», podemos, com Maluguer de Motes, afirmar que «com os novos dados da metodologia moderna, a antiguidade desses aspectos culturais da zona atlântica é muito superior em relação ao desenvolvimento do megalitismo mediterrânico e do sudoeste espanhol».

Não obstante o interesse manifestado por esta cultura, que Maluguer de Motes estudou nas suas incidências económicas e sociais, restam-nos ainda muitas dúvidas acerca da vida e da estrutura económica e social destes povos. Como viviam? De que se alimentavam? Que tipo de habitação possuíam? Quais eram os seus interesses imediatos? Estes monumentos seriam comunitários ou reservados apenas ao chefe e sua família? Seriam os cadáveres enterrados inteiros ou somente as ossadas descarnadas? Enfim, todo um mundo de perguntas à espera de resposta.

Da idade do bronze, possuímos, na foz do Minho, alguns testemunhos valiosos, desde o machado de alvado e de talão, às insculturas rupestres e alguns povoados castrejos, possivelmente desta época.

De todos estes vestígios se dá conta quando se historiarem as freguesias de Caminha situadas nesta corda do rio Minho.

A cultura que mais prevaleceu e maiores reflexos deixou nesta região foi, sem dúvida, a castreja. Pode-se considerar típica desta zona do Noroeste, com maior incidência na Galiza e no Minho.

No vale do Minho, existe uma cadeia de castros muito considerável, todos ele ubicados nas eminências, que sobressaem nestas margens do rio. As suas casas, quase todas de configuração redonda ou ovalada, denunciam uma predominância da cultura pré-celta, com uma quantidade reduzida de casas quadrangulares, o que revela uma fraca romanização.

Sendo conquistada duzentos anos após o primeiro embarque dos romanos na Península, esta região pouco usufruiu dos benefícios da romanização, podendo afirmar com Mário Cardoso que «esses agentes estranhos da cultura (aras, estátuas, pontes, caminhos, marcos miliários, etc.), cujos vestígios são, aliás, reconhecíveis, pode-se dizer que apenas roçaram a epiderme destes povos, rudes e selvagens, isolados nos cerros abruptos de um país ignorado».

A prevalência das formas indígenas, quer na organização social, quer na exploração económica, quer ainda nas formas de vida e nas concepções religiosas e culturais, esteve sempre latente, mesmo quando os romanos impunham novas formas de vida, novos sistemas de exploração agrícola, novas instituições e novos cultos.

«Embora se falasse latim nesta região, pouco romanizada (…) e os documentos escritos, onde aparecem testemunhos das organizações, estejam redigidos em latim, o uso da língua não demonstra uma romanização profunda. É precisamente através destes documentos escritos que podemos conhecer a organização social indígena».

A romanização não implica somente a assimilação da língua, mas também a modificação e a reforma profunda das instituições de ordem política, social, económica, cultural e religiosa. E segundo se depreende do texto de Plínio – «naquelas regiões (noroeste hispânico), não existia a vida urbana e a população vivia de maneira semelhante às formas de vida anteriores à vinda dos romanos».

«A pobríssima romanização do Noroeste fica bem patente nos castros com quase total ausência de sigillata e de moedas até ao Baixo Império, o que indica um comércio paupérrimo com o exterior e a não generalização da economia de intercâmbio monetário».

Nesta zona, sobressaiu a exploração mineira, trabalho que era confiado a escravos e poucos homens livres. Daí a fraca colonização das terras, em contraposição do sul e do centro, onde prevaleceu a exploração agrícola em regime de fundii e vilae.

Esta fraca romanização trouxe como consequência uma reduzida gama de monumentos históricos. A não ser alguns restos de vias romanas, algumas pontes, poucos marcos miliários e uma ou outra ara sacrificial, pouco mais existe.

Na bacia do Minho, especialmente junto à foz do rio, esta fraca romanização mantém-se, com a agravante de não se registarem muitas das manifestações da civilização romana, como pontes, caminhos, torres, aras, etc.

No entanto, participando duma estrutura cultural de conjunto que abarca uma e outra margem do rio, pode-se dizer que esta unidade, suscitada pelas actividades do rio, pela união que este estabelece com a Galiza e com as manifestações duma cultura que vem de tempos muito antigos, o vale do Minho, englobando não só as cinco freguesias de Caminha, Seixas, Lanhelas, Cristelo e Moledo, mas também muitas das freguesias de Cerveira e de Valença, pode-se considerar uma entidade à parte com características bem vincadas, que o destacam no contexto geográfico do Alto Minho.”

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