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Caminhos da História da Arte no Noroeste de Portugal

APRESENTAÇÃO GLOBAL

Obra composta por introdução, cinco itens (cada um deles versando sobre a biografia e a obra de cinco nomes que se destacaram no âmbito da arquitectura militar e/ou civil e/ou religiosa, sobretudo no noroeste de Portugal), dois apêndices (um referente às obras efectuadas no actual Museu Municipal de Viana do Castelo, outro sobre “as obras setecentistas do Convento do Carmo”) e listagem das publicações de que António Matos Reis é autor. O corpo do texto é complementado por várias notas de rodapé e ilustrado com fotografias de peças arquitectónicas da autoria dos engenheiros/arquitectos em destaque.

LINHAS TEMÁTICAS

A temática central da obra debruça-se sobre construções arquitectónicas levantadas de raiz ou que sofreram obras de restauro, de ampliação ou de qualquer tipo de modificação em finais da centúria de seiscentos e na primeira metade do século XVIII, sobretudo no espaço aglutinado pela então arquidiocese de Braga. Característica comum a todas as obras mencionadas é a intervenção por parte de engenheiros e/ou arquitectos nascidos na região minhota ou que nela deixaram a sua marca: Miguel de Lescol, Manuel Pinto de Vilalobos, Manuel Fernandes da Silva, António Bernardes e José Fernandes Pinto Alpoim. Por vezes, Matos Reis espraia o horizonte geográfico até outras paragens, em virtude de tais engenheiros e/ou arquitectos terem assinado projectos e dirigido a construção de espécimes da arquitectura civil, religiosa e militar noutras regiões de Portugal Continental e até do império português, nomeadamente no Brasil. Na introdução, o autor põe-nos ao corrente da importância da existência de várias escolas regionais, da relação existente entre as edificações de cariz militar e a sua função na defesa das fronteiras do território nacional, após a restauração da nossa independência em 1640 e de como, a partir do momento em que se assinou o tratado de paz com Espanha, a arquitectura militar deixou de ter a primazia que até então lhe fora atribuída, para dar espaço também à arquitectura religiosa e à civil. Relativamente aos cinco arquitectos em destaque, são-nos fornecidos os dados biográficos de cada um e uma referência sucinta às obras de maior vulto a que cada um se associa. É ainda feita referência aos livros da autoria de Miguel de Lescol e elencam-se as traduções e as obras compostas por Manuel Pinto de Vilalobos. No primeiro apêndice, o leitor depara-se com pormenores sobre as diligências efectuadas para a construção do palacete onde actualmente se encontra o Museu Municipal, assim como com uma descrição bastante detalhada do mesmo. O segundo apêndice oferece-se ao leitor indicações sobre a documentação existente acerca das obras efectuadas no convento do Carmo, assim como uma descrição do convento, com base nos desenhos datados da década final do século XVII e primeira metade da centúria imediata.

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Conheça o autor

"António Matos Reis nasceu nos arredores de Ponte de Lima, em 21 de Abril de 1943, e reside e trabalhou em Viana do Castelo, desde 1975 até à data de aposentação. É mestre em História pela Universidade do Minho, apresentando uma dissertação em História Medieval, posteriromente publicada em 1991, com o título "Origem dos Municípios Portugueses". Tal obra veio a tornar-se uma referência obrigatória para quantos se debruçam sobre a história do municipalismo em Portugal. Obteve o doutoramento, em 2004 com a defesa de tese sobre "Os Concelhos na primeira dinastia". Especializou-se em Museologia, na U.I.A. de Florença, em 1977, e pós-graduou-se em Estudos Especiais de História e Crítica de Arte, na mesma Universidade, em 1984. A sua actividade profissional repartiu-se até à data de aposentação, entre o ensino secundário oficial (1966 - 1999) e a direcção do Museu Municipal de Viana do Castelo (1989 - 2006). Neste museu exerceu o cargo de Conservador. Foi também Director do Departamento de Desenvolvimento Económico, Social e Cultural da Câmara Municipal de Viana do Castelo, desde 10 de Maio de 1990 até 31 de Dezembro de 1993. Tem exercido funções de direcção em várias associações: Vice-Presidente e depois Presidente da Direcção do Centro de Estudos Regionais; Secretário-geral e depois Vice-Presidente do Instituto Cultural Galaico‑Minhoto; sócio fundador e membro da Comissão Instaladora do Instituto Limiano - Museu dos Terceiros; sócio fundador, membro da comissão instaladora e Presidente da Direcção da Associação de Jornalis­tas e Homens de Letras do Alto Minho. É membro de várias associações, entre as quais se destacam: a Sociedade Portuguesa de Estudos Medie­vais; a Sociedade de Museologia, de Florença; o ICOM (International Council of Museums); a APOM (Associação Portuguesa de Museologia); a ASPA; a APH; a APAC. Foi Presidente da Comissão Organizadora das IV Jornadas Regionais sobre Monumentos Histórico‑Militares (Valença, 1984); membro da Comissão Organizadora do Congresso sobre a Ordem de Cister em Espanha e Portugal (Ourense, 1992) e da Comissão Organizadora do V.º e do VI.º Colóquios Galaico-Minhotos (Braga, 1994; Ourense, 1996). Reorganizou o Arquivo Histórico da Misericórdia de Ponte de Lima, e promoveu a publicação do respectivo catálogo. Em 1995, fez o levantamento do Património Cultural, situado entre Caminha e Esmoriz, para o Plano de Ordenamento da Orla Costeira. É autor de cerca de centena e meia de títulos, entre livros, estudos e artigos publicados em diversas revistas. Proferiu já várias conferências, em congressos e colóquios, em Portugal e no estrangeiro. Por deliberação unânime de 27 de Janeiro de 1997, a Câmara de Ponte de Lima atribuiu-lhe a "Medalha de mérito cultural" que lhe foi entregue no dia 4 de Março do mesmo ano, na sessão solene comemorativa da fundação da vila."
Autor:

Concelho do autor:

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Data de Edição:

Local de Edição:

ISBN

972-9397-17-1

Prefácio

“A história da arte portuguesa será tanto melhor entendida quanto mais se clarificar o importante contributo dado, em vários momentos, pelas diversas escolas regionais. Como sucede em relação a outros sectores da história, os investigadores têm dedicado, nos últimos anos, uma atenção crescente a tal estudo. Nessa perspectiva, decidimos interrogar-nos acerca dos caminhos trilhados pela arte, e especialmente pela arquitectura, nos finais do século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII, na província do Minho ou, mais concretamente, no espaço que então correspondia à arquidiocese de Braga e que teve na cidade desse nome e na de Viana os seus pólos mais activos. Braga era a cidade arquiepiscopal, a partir da qual os Arcebispos conduziam a vida religiosa do seu rebanho, estabelecendo regras, dando orientações, impondo obras e exercendo um eficaz mecenatismo. Viana, mercê da importância que adquiriu no desenrolar das guerras da Restauração, tornou-se o centro coordenador das acções militares do extremo norte de Portugal e, em sequência, da planificação e controle das obras públicas, realçando-se o papel insubstituível dos engenheiros militares, pela sua formação e superioridade técnica, referência obrigatória na edilícia civil e religiosa. Durante as guerras da Restauração (1640 – 1668), todos os esforços humanos e financeiros foram absorvidos pela defesa da integridade das fronteiras e, através delas, da independência do estado. A realização do tratado de paz com a Espanha, a seguir a um período em que tudo se faz para concluir as fortalezas inacabadas, para reparar os danos que as acções bélicas tinham causado e para actualizar os quartéis militares, permitirá que as atenções e os recursos económicos se disponibilizem para a execução de outros trabalhos, como os de regularização hidráulica ou de logística portuária. Os ânimos serão favoráveis à realização de obras que exprimem gratidão a Deus e aos Santos, celebram e desejam garantir o seu patrocínio ou criam as melhores condições de espaço para o sereno desenvolvimento da vida religiosa conventual. Reformam-se e constroem-se conventos, igrejas e capelas por toda a arquidiocese. Em casos excepcionais, as obras foram exigidas pelas alterações relacionadas com a construção ou o alargamento das fortificações, mas, em geral, foram requeridas quer pelo crescimento do número daqueles que, espontaneamente ou não, se sentiram impelidos a abraçar a vida religiosa, no caso dos conventos, quer pelo incremento das manifestações exteriores de piedade. A dupla vertente eclesiástica, de nível diocesano ou não, e civil, de ascendência militar – contribuirá para definir os caminhos seguidos pela arquitectura, no noroeste de Portugal, no ocaso do século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII.”

Excertos

AS OBRAS DO PALACETE DO LARGO DE S. DOMINGOS, EM VIANA (MUSEU MUNICIPAL) Em 1724 Manuel Fernandes da Silva forneceu a planta para o palacete mandado construir pelo imediato colaborador do Arcebispo, o Cónego António Felgueira Lima, no Largo de S. Domingos, de Viana, onde hoje se encontra instalado o Museu Municipal. O primeiro contrato para a construção do palacete encomendado pelo Cónego António Felgueira Lima é de 28 de Dezembro de 1723 e nele se obrigavam os mestres pedreiros arrematantes da obra, os irmãos Jerónimo e Manuel de Oliveira, a dar por concluída a sua parte, pela importância de um conto e oitocentos mil reis, em Agosto do ano seguinte. Surgindo discrepâncias entre o Cónego António Felgueira Lima e os mestres pedreiros, o contrato anterior foi anulado por outro, datado de 14 de Março de 1724, para erecção “das mesmas casas na forma de huma nova planta”, pela importância de 1.322.373 reis. Um terceiro contrato, esclarecendo e rectificando o anterior, foi outorgado em 19 de Março de 1724, desta vez assinado pelo próprio encomendante, que outorgara os anteriores por procuração: o trabalho de pedraria passou a custar 1.454.217 reis. É através deste último contrato que ficamos a saber o nome do artista que delineou o edifício, o já referido mestre bracarense Manuel Fernandes da Silva. Com efeito, e tendo entre as testemunhas o Coronel Manuel Pinto Vilalobos, nele se diz que seriam enviados de Braga os novos apontamentos “feitos pelo mestre Manuel Fernandes que fabricou a planta”, sem esquecer que “não difere a fronteira da mesma obrigação e forma da planta primeira”. Este esclarecimento é suficiente para comprovar a influência de Manuel Pinto de Vilalobos no estilo deste edifício, a cuja construção, apesar de tudo, o vemos ligado desde o primeiro instante. A esta obra, com efeito, se refere um acórdão municipal, de 25 de Setembro de 1723, que concedeu uma pena de água para os consumos do palacete. E entre os presentes, que assinam o acórdão, em representação dos mestres ou do povo, encontra-se o mestre vianês, que nem antes nem depois desse dia volta a participar nas reuniões da Câmara. Além das três escrituras já mencionadas, outros actos notariais dizem respeito a esta obra: – Em 14 de Março de 1725, o Cónego Felgueira Lima, considerando que, confrontando do lado poente com a de Domingos Marinho, oficial maior da Vedoria Geral, e necessitando, com a autorização deste, de reforçar e tornar mais alta a parede meeira, declarava que ele e os seus herdeiros ficavam autorizados a servir-se da mesma parede e cunhal para levantar a sua casa, quando o desejasse. – O Reverendo Francisco Lopes, morador em casas situadas do lado nascente, mais baixas do que as que o Cónego está a construir, autoriza-o a fazer desse lado as janelas que precisar para ter mais luz na sua residência, sem qualquer outra paga, porquanto lhe devia muitas obrigações. – Em 6 de Julho de 1725, o fidalgo António Correia de Sá vende a Felgueira Lima umas casas térreas que tem “na entrada da Rua de S. Sebastião vindo de São Domingos”, que partiam “do poente com o heirado do chafariz de São Domingos”. A fachada principal do Museu, voltada para o largo de S. Domingos, tem um ar majestoso, que lhe advém do rigor das linhas e, ao mesmo tempo, dos vigorosos contrastes de luz e sombra; está dividida em seis panos, por uma platibanda cruzada por pilastras, em correspondência com a estrutura interna do edifício. As aberturas – portas e janelas – com molduras rectangulares no primeiro piso e frontões de linhas rectas no andar nobre, estão rematadas por falsas aduelas, de inspiração serliana, em correspondência com os “bozzati” ou almofadas no rodapé e nas pilastras. Na decoração, o palácio acusa a influência do vizinho edifício da Vedoria militar, cuja função de modelo, nesta parte, é aliás declarada no primeiro contrato com os mestres pedreiros, mas suplanta-o em perfeição e harmonia. A decoração das gárgulas coaduna-se com a experiência de um artista que na fachada principal de alguns templos bracarenses ensaiara imitações em granito da talha em madeira em voga na época e é característica do estilo que depois de Robert Smith se chama “barroco nacional”. A solução, pouco ortodoxa, para o conjunto da porta principal e duas janelas contíguas, estreitecidas estas para tornar mais larga a primeira, encontra paralelo noutras obras executadas por Manuel Fernandes da Silva na cidade de Braga. Na rectaguarda, o edifício possui, no rés-do-chão, uma arcada assente em pilares de secção quadrangular, e, no segundo piso, uma airosa varanda de colunas toscanas. No ângulo nordeste, saindo para fora, localiza-se a pequena capela, benzida em 3 de Dezembro de 1726, pelo próprio Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles. Em 22 de Outubro de 1726, D. Rodrigo passara uma provisão que autorizava o Cónego Felgueira Lima a ter um oratório na sua casa, e que nele se celebrasse missa e outros ofícios divinos, e dava poderes ao pároco de Monserrate para proceder à sua bênção. o Arcebispo resolveu, no entanto, premiar a dedicação do seu colaborador, procedendo ele mesmo à bênção da capela, no dia 3 de Dezembro de 1726, como consta da certidão assinada pelo pároco de Monserrate, em 12 de Janeiro de 1727. O edifício sofreu alterações no decorrer do tempo. Entre elas conta-se o desaparecimento dos “mezaninos” que existiam entre o rés-do-chão e o andar nobre, do lado norte, dos quais apenas um subsiste, com a entrada a meio das escadas, assim como o anexo, com comunicação através de um trecho de corredor, que foi acrescentado ao conjunto, para servir de cozinha, possivelmente depois de algum dos incêndios que vitimaram o palacete. É através dessa área que se faz a comunicação com a ala nova do Museu Municipal, concluída para 1993, segundo um projecto elaborado pelo arquitecto Luís Teles. Na segunda metade do século XIX, foi-lhe acrescentada uma balaustrada sobre a cornija da frente meridional, tendo-se colocado, sobre os plintos que separavam os vários tramos, quatro esculturas em terracota, executadas numa oficina parisiense (está lá a assinatura GOSSIN F.rss, PARIS, não obstante na literatura local, incluindo os escritos de Luís de Figueiredo da Guerra, se dizer que foram encomendadas a uma oficina portuense), das quais duas, representando guerreiros de diferentes épocas (um romano e outro quinhentista) em diferente estado de conservação, ainda existem no Museu.”

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