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Cem Anos de Uma Escola
Com um prefácio do então Presidente do Conselho Directivo da Escola Secundária de Monserrate, Dr José Luis Carvalhido da Ponte, o livro tem três partes distintas: 1ª parte – 100 anos ao Serviço da Educação. O autor, Dr Manuel Inácio Rocha, ao tempo professor efectivo do 10ºA do referido establecimento, faz a história da educação em Viana do Castelo desde 1888 a 1988 e assim vamos tomando contacto com os vários nomes que a Escola Secundária de Monserrate teve ao lon go dessa centena de anos. 2ª parte – Registo das palavras que foram intenção – aqui inserem-se todos os textos que a propósito deste evento ( centenário da escola) foram produzidos por alguns dos então intervenientes na efeméride. 3ª parte – Registo dos actos que foram festa – galeria de fotos que ajudam a entender as comemorações.
Prefácio
Texto de abertura
ABERTURA EM 4 ANDAMENTOS
1.A história faz-se de sonhos. De sonhos que a realidade materializa. De outros que fluem, eternos, num espaço sem retornos.
Mas faz-se!
2. De sonhos se constroem também as escolas. De sonhos/certezas e lonjuras sem perfil, sem linhas divisórias entre os Sanchos e os Quixotes das nossas cinzentas digestões.
Para comemorar os nossos sonhos fizeram-se festas e discursos e jantares e, às vezes, discutiu-se a Escola (não esta, mas a). Por fim gizou-se este livro que se compõe de três partes, como a seguir se verá.
3. Se as discussões nem sempre geram resultados concludentes, lançam na ribalta, pelo menos, pertinentes trocas de opinião. E isso é necessário até porque urge quotidianamente questionar a ESCOLA em todas as suas componentes — muito mais hoje que tantos a vergastam ímpia e barbaramente.
Por todo um ano se repetiram ideias (já velhas) sobre o Sistema Educativo e os professores e os alunos e os programas e os orçamentos e todo o tudo.
Sem prejuízo de quaisquer outras razões que possam aduzir-se contra ou a favor de esta ou de aquela filosofia, permitam-me algumas linhas sobre um aspecto fundamental (talvez como tantos outros, dirão) para uma escola do sucesso: a sua relação com o meio.
Vivemos acelaradamente a história do ano 2000. Construímos desajeitadamente a história da nossa própria história. Foi-nos dado um tempo em que o avanço da tecnologia corre, febril, em busca de novas verdades para que seja VERDADE. A ciência vasculha, ininterrupta e sôfrega, a ponte necessária entre o dia-a-dia e a nossa eterna busca de felicidade. Deste vasculhar nascem as máquinas-todas, tentando facilitar a vida ao homem — ao homem apressado, sem tempo, infeliz, à procura da felicidade. Ao homem apresssado! Os homens correm para o autocarro ou comboio, e correm à saída do autocarro ou comboio; para o café e à saída do café; para a fabrica e à saída da fábrica. Da fábrica correm para casa. Em casa, já noite, correm cansados para a mesa e depois para a T.V. e depois para a cama e depois, mesmo assim, apressados correm para o amor. E para o sono. E para a madrugada. E, sempre apressados, deixam fluir o tempo até que a vida se esfume e o vazio os possua.
E o convívio humano? E o diálogo com os outros? Quando acontece é na agressividade dos casais, dos pais com os filhos, dos vizinhos, dos países. E o homem sistematicamente aumenta o medo pelas guerras anunciadas.
Vivemos este tempo e este espaço e neles se debate esta escola divorciada da sociedade, (se é que alguma vez com ela se uniu) em solidão impenitente vomitando continuamente fornadas de cursos para o desemprego. A escola quase sempre é um lugar à parte, um serviço militar a cumprir, uma fábrica de produtos duvidosos. E isto é tanto mais incómodo quanto poderia e terá de ser de outra forma.
Nenhuma ciência inventa o quer que seja que não exista já, ainda que sem transformar, na natureza. Nenhum professor, portanto, ensina, porque nenhum cria do nada, antes ajuda (ou deve ajudar) o aluno a compreender o que o rodeia. A escola para responder às milhentas questões do dia-a-dia terá de ser isso mesmo:
mostruário analítico da sua circunstância. Terá portanto de derrubar os seus muros, abrir as portas e sair à rua para ver. Ver, ouvir, perguntar, sentir, dizer. Então elaborara programas de acordo com os interesses da localidade e não fabricará cursos de proveta. Então os alunos senti-la-ão como uma colectividade onde alguns mais velhos os iniciam nos rituais do nosso viver colectivo. Sentir-se-ão válidos. Senti-la-ão válida e amiga. A não ser assim, sentem-na agressiva e agridem-na, por resposta. Razão, por isso, tinham os iluministas ao afirmarem que a condição necessária para que se fechassem cadeias seria abrir escolas, como razão tinham ainda os pedagogos da chamada Escola Nova ao afirmarem que se aos políticos cabe discutir a guerra compete aos educadores construir a paz.
A vida agitada que levamos isola-nos e quase nos maquiniza e quanto mais isolado e maquinizado está o homem mais agressivo se torna. Quanto mais isolada estiver a escola mais agressiva, porque estranha, se tornará e, por inevitável reacção, mais violentos serão os alunos.
Aos educadores e à escola compete construir a paz. Para isso, importa que se abrande a correria e regresse ao silêncio das montanhas. Urge que a escola abandone os seus domínios senhoriais para, extra muros, estudar toda a sociedade que a rodeia, que a compõe, que a sustenta.
Para que a escola se cumpra e nos cumpra deverá, com Caeiro, ser capaz de afirmar:
Ainda assim, sou alguém.
Sou o descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.
4. Que a comemoração dos nossos sonhos, perpetuada neste livro, permita a toda a comunidade escolar entender o seu tempo, dissecar o seu espaço e ser, ela mesma, o seu universo.
E que todos nós jamais alienemos a ousadia do sonho.
O Presidente do Conselho Directivo
José Luís Carvalhido da Ponte
Excertos
As iniciativas de António Augusto de Aguiar foram audazmente prosseguidas pelo seu sucessor na pasta das Obras Públicas, Comércio e Indústria Emídio Júlio Navarro (1886-1889) que criou novas escolas, ampliou as já existentes dotando-as com mobília e material didáctico aperfeiçoado, mandou construir ou adquirir edifícios aperfeiçoados para algumas delas, criou novas disciplinas e recrutou no estrangeiro pessoal devidamente habilitado para este nove ramo do ensino. Foi também com este ministro que, pela primeira vez em Portugal se legislou sobre o ensino profissional feminino, ao criar na Escola Marquês de Pombal duas secções — obras de agulha e trabalho de pintura — com o objectivo de preparar as alunas para a execução de lavores femininos.
Entre as várias reformas que levou a cabo, por Decreto de 23 de Fevereiro de 1888 (Diário do Governo n,° 44 de 24-2-L888.), Navarro aprovou o Regulamento das escolas industriais e das escolas de desenho industrial, destinando-se estas a ministrar o ensino do desenho com aplicação à indústria ou indústrias predominantes nas localidades onde se achassem estabelecidas, O ensino do desenho dividir-se-ia em dois graus: elementar ou geral (destinado a crianças de ambos os sexos, de seis a doze anos de idade e a adultos que desejassem preparar-se para a matrícula no desenho industrial) e industrial ou especial (destinado a adultos de ambos os sexos, aprendizes operários e mestres de várias indústrias e ofícios) (art.° 4.°). O desenho elementar distribuir-se-ia por duas classes: preparatório e complementar (art.° 5°). O desenho industrial compreenderia três ramos: ornamental, arquitectural e mecânico (art.° 9.°).
As escolas industriais teriam como objectivos: ministrar noções úteis aos operários; dar instrução preliminar aos indivíduos que se destinassem aos cursos industriais; habilitar com o ensino especial técnico, teórico ou prático, os indivíduos que pretendessem dedicar-se, como contra-mestres, mandadores ou operários, a qualquer indústria; e, finalmente, ensaiar, por ordem do Governo ou a pedido de particulares, os aparelhos, matérias e processos susceptíveis de vantajoso emprego na indústria e divulgar os aperfeiçoamentos que pudessem ser introduzidos na indústria (art.° 39).
Foi assim que Emidio Navarro criou várias escolas industriais e de desenho industrial, entre as quais a de Viana do Castelo, conforme o decreto que a seguir se transcreve:
«Usando da autorização concedida ao Governo pelo decreto, com força de lei, de 20 de Setembro de 1864, e visto o disposto no § único do decreto de 3 de Janeiro de 1884: hei por bem decretar o seguinte:
Artigo I.° — É criada urna escola de desenho industrial em cada uma das seguintes localidades: Bragança, Faro, Figueira da Foz, Leiria, Setúbal, Viana do Castelo e Vila Real.
§ único. — Estas escolas terão por fim ministrar o ensino do desenho com aplicação à indústria ou indústrias predominantes na localidade.
Artigo 2.° — Cada uma das escolas de que se trata terá um professor provido em harmonia com o que preceitua o § único do artigo 4.° do decreto de 3 de Janeiro de 1884.
Artigo 3.° — Janto de cada mna das referidas escolas serao estabelecidas pequenas oficinas necessárias para o ensino manual dos alunos.
Artigo 4.° — Será inscrita no orçamento do Estado para o ano económico de 1888-1889 averba necessária para a dotação e pessoal das escolas criadas por este decreto.
Os ministros e secretários de estado dos negócios da fazenda e das obras públicas, comércio e indústria, assim o tenham entendido e façam executar. Paço, em 13 de Junho de 1888— REI — Marianno Cyrillo de Carvalho — Emygdio Julio Navarro» (Diário do Governo n,° 185 de 16-8-1888)
(pp 22/23 – M.el Inácio Rocha)
SOMOS UMA ESCOLA ABERTA
DISCURSO PROFERIDO, NA SESSÃO DE ABERTURA DAS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE MONSERRASE PELA Drª ROSALINA MARTINS, PRESIDENTE DO CONSELHO DIRECTIVO:
Se não é uma originalidade a comemoração do centenário duma escola secundária, não é, com certeza, uma comemoração frequente.
Primeiro, porque há cem anos no eram abundantes as escolas de nível
secundário.
Em segundo lugar porque não dispõem as escolas de recursos de excepção,
nem orçamentais nem humanos, para promoverem com a dignidade merecida,
o que compete fazer numa comemoração centenária.
A Escola Industrial e Comercial, hoje Escola Secundária de Monserrate, tem raízes grandes e fortes, criou compromissos tão poderosos, deixou em tantos alunos e professores o sentido to agudo de responsabilidade que não pode, mesmo sem recursos de excepção, enjeitar na vida da cidade e até da região, este ano centenário, que hoje, nesta sesso, com a presença solene de V. Ex.’ aqui inauguradas.
Esta escola é diferente, cultiva a diferença e quer continuar a ser diferente…
Esta escola não sabe nem quer fechar-se na rotina cómoda de ensinar matérias de compêndios.
Esta escola não sabe e quer continuar o processo educativo como aventura fascinante de responsabilização e libertação quotidianas da Comunidade escolar implica e envolve os que aqui trabalham, os que por aqui passaram e todos aqueles que podem ser tocados pela dinâmica desta Escola.
Assumir o binómio responsabilidade/liberdade tem sido o grande objectivo
do processo pedagógico da Escola Secundária de Monserrate.
Colocada num espaço periférico, longe do prestigio da capital, este estabelecimento de ensino, tem sabido criar a sua própria imagem, tem sabido estabelecer relações e desenvolver iniciativas que fazem dele, no espaço nacional uma escola louvada ou censurada, mas sempre uma escola conhecida.
A Escola de Monserrate foi e é pioneira nas práticas da Escola aberta, na busca pertinente ou impertinente de relações úteis com o meio, no aprofundamento dos laços culturais, na pesquisa e na experimentação de procedimentos técnico-pedagógicos até com escolas da vizinha Galiza.
Vamos cumprir o centenário, O que nos falta em meios sobeja-nos em vontade, para darmos dimensão, prestígio e intemporalidade a este nosso centenário. Não queremos reduzir o centenário a um conjunto de episódios precários e festivos. Queremos, como é timbre e tradição desta nossa Escola, promover e articular iniciativas com a cidade e com a região, deforma institucionalizada ou não, para deixarmos marcas duráveis de prestígio e dignidade.
Este é um ano abundante de centenários. Comemora-se o 5° centenário dos Descobrimentos, o primeiro centenário do Jornal de Notícias e da primeira edição de «Os Maias,>, e hoje, exactamente hoje, e por sinal a esta hora, no n.° 4 do Largo de S. Carlos em Lisboa, faz cem anos que nasceu Fernando Pessoa, essa figura dramaticamente incómoda da cultura mundial.
Temos um plano de actividades que articula e inter-activa o nosso centenário
com estas outras comemorações.
Queremos perpetuar a dinâmica da Escola, dar-lhe espaços compatíveis, espaços de segurança na área fronteira e ter aí um monumento ao Estudante.
Queremos afirmar a tradição e a competência histórica de Viana e da Escola para as artes gráficas e demonstrar esta competência num museu operacional de artes gráficas cuja manutenção seja feita pelos nossos professores e alunos. Queremos colaborar na consolidação da monumentalidade histórica de Viana, reafirmando a competência de uma caravela-réplica das caravelas de quinhentos e que possa ser, em Viana, Museu vivo e pólo de atracção Turística.
Queremos dramatizar na Praça da República — o melhor auditório de
Viana — o jantar do Hotel Central de «Os Maias», com mostra de trajos e
costumes fidalgos e populares de há cem anos.
Queremos perpetuar o centenário em peças cerâmicas para que seja nítida
importância histórica das artes cerâmicas em Viana e também na Escola,
Queremos organizar um ciclo de conferências quer além de incluírem os temas centenários se orientam também para as perspectivas de desenvolvimento
de Viana e da Região.
Queremos promover concertos, exposições, sessões de cinema que comprometam a Escola e a Comunidade,
Queremos um livro-histórico do centenário que seja testemunho do passado
e do presente para ser estímulo do futuro.
E também queremos obviamente a grande festa. Vamos estar no cortejo da Sr. a da Agonia e vamos estar a partir de hoje, nas outras festas da cidade. Não queremos é estar sozinhos como Escola-fechada, como instituição reservada ou secreta que esta Escola nunca foi.
Garantimos hoje aqui, perante ‘V. Ex?’ nesta sessão solene que abre o centenário, a grande disponibilidade dos que vivem e viveram esta Escola para perpetuarem as Comemorações.
Sr. Governador Civil
Sr. Presidente da Cmara –
Sr. Representante do Bispo de Viana do Castelo
Sr. Presidente da Junta de Freguesia
Ex.m Autoridades civis e militares
Caríssimos colegas, funcionários e alunos, minhas senhoras, meus senhores, aqui deixamos os nossos agradecimentos pela vossa presença, até porque sabemos que ela é o aval necessário para darmos corpo aos nossos projectos. Todos nós seremos demais para tornarmos a Escola mais activa e participativa, para fazermos de Viana e da sua região a terra próspera e boa que todos desejamos.
(pp.166/168)
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