Prefácio
CHAMARAM-ME MUXICONGO, que ocupa já o nono lugar na série literária ascensional de Porfírio P. da Silva, no escasso período de 16 anos de profícuo labor em prosa e em verso, tem além disso o condão especial de ser a primeira obra sua a brindar-nos com a entrosagem da arte e da vida, da incidência comportamental e da história de um povo injustamente martirizado em consequência de irresponsáveis apressados na outorga e na aceitação do poder.
Tendo partido em 1960, aos três anos e meio, para Angola, aí fez a instrução primária em Maquela do Zombo e S. Salvador do Congo. Frequentou o Liceu Salvador Correia de Sá e a Escola Técnica Paulo Dias de Novais, em Luanda; o Colégio dos Irmãos Maristas, em Silva Porto, e o do Negage, regressando a Portugal, por dificuldades financeiras dos Pais, em 1971. Ao todo, 11 anos de experiências, as mais variadas e enriquecedoras, não só no plano geográfico ou tópico, como sobretudo no cultural, social e político.
Conheceu, deste modo, e bem de perto, a Angola das múltiplas etnias, costumes e tradições; a Angola dos milicianos a caírem no mato e dos quadros em sossego nas cidades; a Angola minada pelas intrigas e interesses ocultos de países hipocritamente amigos, inclusive através de missionários das terras do «Tio Sam»; a Angola da parafrenália militar fornecida por aqueles cujos tiranetes disfarçados de vendedores de banha da cobra pretenderam submeter o mundo às super-ditaduras; a Angola que teve a inaudita desgraça de ser uma região riquíssima, para afinal vir a encher os cofres dos Midas ambiciosos, e a expulsar, despojados de tudo, e na miséria, tantos que a ajudaram a tornar-se adulta e senhora. Porfírio P. da Silva, embora retornado três anos antes da grande diáspora provocada por um nacionalismo estulto e bisonho, acicatado aliás por certos vendilhões de pátrias e desertores, ao menos não esquece jamais que esse antigo rei da Frigia tinha, apesar do ouro a rodos, as orelhas de burro, tal como outros Midas de hoje.
Disse uma vez Napoleão que «uma cabeça sem memória é como uma praça desguarnecida». Não acontece assim com o autor deste livro fielmente testemunhal, cujos eventos que o recheiam, se mantêm actualíssimos e a acrescerem aos que há 25 anos ele próprio justamente protagonizou ou co-exaltou ao raiar da aurora da liberdade, essa mesma que já este ano festejámos e esteve quase a redundar num fracasso terrível quando as toupeiras do ódio correram Seca e Meca no intuito de a verter no sinónimo pulha da democracia das estepes, onde «a alegria era a principal característica», de acordo com a asserção cínica do seu «Big Brother» em 1935.
«O poeta escreve para o mundo, sobretudo quando não escreve ao gosto do mundo» — sentenciou Lessing. Porfírio P. Silva é também poeta de mérito, já reafirmado em cinco obras. Embora aqui convivamos apenas com o prosador-narrador omnisciente, aplica-se-lhe com justiça o dito de Lessing. Não foi, com efeito, o desejo de agradar que lhe moveu a pena, até porque algumas verdades podem amargar. Escreveu, sim, para o mundo, para a história. São estas abordagens que possibilitarão um dia as grandes visões de conjunto, nas quais a imparcialidade e objectividade ressaltarão finalmente por sobre todas as ambiguidades e desmemorias que teimam ainda em impor-se-nos ou impingir-nos.
CHAMARAM-ME MUXICONGO, contributo valioso com que Porfírio P. da Silva, ilustre universitário e Presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho, marca novamente presença nas Letras, vem, portanto, na hora certa, qual a das comemorações do 25 de Abril levadas brilhantemente a efeito pelas forças vivas e povo de Viana do Castelo, em louvor dos cinco lustros festivos, neste ano solenemente comemorativo.
AMADEU TORRES (CASTRO GIL)
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Contra capa
«O poeta escreve para o mundo, sobretudo quando não escreve ao gosto do mundo» — sentenciou Lessing. Porfírio P. Silva é também poeta de mérito, já reafirmado em cinco obras. Embora aqui convivamos apenas com o prosador-narrador omnisciente, aplica-se-lhe com justiça o dito de Lessing. Não foi, com efeito, o desejo de agradar que lhe moveu a pena, até porque algumas verdades podem amargar. Escreveu, sim, para o mundo, para a história. São estas abordagens que possibilitarão um dia as grandes visões de conjunto, nas quais a imparcialidade e objectividade ressaltarão finalmente por sobre todas as ambiguidades e desmemorias que teimam ainda em impor-se-nos ou impingir-nos.
AMADEU TORRES
(Castro Gil)
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