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Editora | (Autor) |
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ISBN | 989-95025-0-2 |
Culpado me Confesso
APRESENTAÇÃO GLOBAL
Culpado me Confesso é uma narrativa autobiográfica em dezasseis capítulos, antecedidos de um prólogo. Precede a narrativa propriamente dita uma dedicatória, em que o autor oferta a obra aos seus filhos (um biológico e outro afectivo) e a todo o ser humano portador de uma qualquer deficiência, e que, malgrado esta, ousa lutar e vencer. Ainda antes da narrativa, o leitor depara-se com um texto em verso que constitui o mote da mesma e, de certa forma, marca a antítese passado/presente na vida de José Leones Lima, confrontando o leitor com a efemeridade da vida e fazendo-o constatar que não é mais do que um “bicho da terra tão pequeno”, perante a força do tempo, do destino ou simplesmente do acaso.
Na badana da capa, encontra-se um excerto de um dos escritos de Albert Einstein e na contracapa uma apreciação crítica à obra.
LINHAS TEMÁTICAS
Tratando-se de uma narrativa autobiográfica (conquanto nos seja referido na página em que se encontra inserida a dedicatória que se trata de uma “obra de ficção” e que “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”, o que o narrador/protagonista vai desmentindo ao longo da narração), a linha temática geral de Culpado me Confesso é constituída pelas vivências do autor, com enfoque especial para as circunstâncias que motivaram o acidente ocorrido durante a sua estada, por motivos profissionais, num país do continente africano, que nunca é identificado, e do qual resultou a paraplegia.
Dispersos pela obra, identificam-se, no entanto, três temas fundamentais, que o autor faz questão de destacar dos demais, todos analisados segundo o seu ponto de vista, muitas vezes deixando transparecer uma certa ironia, outras uma profunda raiva, outras ainda um misticismo e um desejo de comunhão com o infinito e a divindade que, segundo Leones Lima, está na origem do mundo, da vida e do ser humano. São esses temas: a mulher (como profissional e afectivamente), a luta do deficiente pela sobrevivência e Deus (o Arquitecto Supremo). É com o relato do momento mais dramático da sua vida (sábado, dia 13 de Dezembro de 1997) e das consequências físicas, psicológicas, sociais e afectivas posteriores que o autor inicia a narrativa e ao qual dedica, em sequência temporal linear, por vezes interrompida por analepses e prolepses, os primeiros nove capítulos, não se abstendo também de fazer comentários e reflexões sobre as temáticas dominantes na obra, assim como algumas outras que nela são afloradas: Deus, sua omnipotência e a religião; o egoísmo humano; a visão, o mais das vezes errada, que a sociedade desenvolve de um deficiente motor (paraplégico); a própria vida; a força do destino e a mulher.
No décimo capítulo, usando uma analepse, a narrativa recua até à infância do narrador, para prosseguir com a narração dos acontecimentos mais marcantes dos anos que antecederam a viagem a África, terminando com um grito de esperança de que, apesar das vicissitudes que a vida lhe destinou (e continuará a destinar?), acredita firmemente que vencerá.
Merecem destaque especial, nesta narrativa, os momentos em que José Leones Lima nos transporta para o continente americano e nos coloca em contacto com as paisagens paradisíacas do Amazonas e tribos selvagens que aí habitam, suas crenças, lendas e modos de vida (capítulo XI), assim como quando nos dá a conhecer a situação política e social vivida na Venezuela nos anos 80 e 90 do século XX (capítulo XIII) ou ainda quando informa sobre as propriedades medicinais de alguns frutos (capítulo III). De salientar, também, que, ao longo da obra, o narrador/autor interpela frequentemente o seu narratário, convidando-o a recordar passagens anteriores, a reflectir sobre o relato e comentários que o acompanham. Deixa no ar questões, pretendendo que as mesmas se transformem em pontos de meditação para o narratário/leitor.
VISÃO GLOBAL DE CADA CAPÍTULO
Capítulo I Razões familiares, sentimentais (principalmente) e profissionais levaram o protagonista a aceitar o convite para trabalhar num país do continente africano. A estada que, a princípio, seria de alguns meses, acaba por se prolongar por três anos e, dois dias antes do regresso, aquando da realização do último trabalho, eis que sofre um brutal acidente que o deixa paraplégico.
Capítulo II Acordando de um estado de quase morte e lutando com todas as forças para resistir ao abismo que constantemente o convidava a claudicar, o protagonista é transportado a um hospital local onde é intervencionado cirurgicamente. Aí recebe a notícia de que havia fortes hipóteses de ficar para sempre dependente de uma cadeira de rodas. A dor de tal constatação aliava-se a outra ainda maior: a de comunicar à família a ocorrência e as consequências que daí adviriam. Assim se passam doze dias, tempo que mediou entre o acidente e a viagem de regresso a Portugal.
Capítulo III A chegada ao aeroporto traz consigo o primeiro contacto com a família, sobretudo com a esposa e filho, então com dez anos, recusando-se este a aceitar que o protagonista era, de facto, o pai que ele conhecera. É internado no hospital de Santa Maria, em Lisboa e submetido a várias intervenções cirúrgicas, a primeira das quais com o intuito de debelar um problema respiratório devido à rotura, em dois locais diferentes, do diafragma. Três meses volvidos, regressa ao Alto Minho, onde é internado numa unidade hospitalar da zona. Aí, depois de várias peripécias que o protagonista relata, e após alguma preparação, que o próprio considera insuficiente, para enfrentar o mundo com a sua nova condição “ de deficiente”, volta a casa. Estava-se em Julho de 1998. Sujeito, como a maioria dos deficientes motores, às chamadas úlceras de decúbito, também estas acabam por conduzi-lo a novos internamentos, alguns dos quais se prolongaram por vários meses.
Capítulo IV Fazendo uma pausa na autobiografia, todo o capítulo é dedicado a reflexões e considerações sobre a vida do deficiente, a visão que dele tem a sociedade e o tratamento de que é alvo por parte dessa mesma sociedade.
Capítulo V Voltando à narração autobiográfica, o protagonista dá-nos conta dos esforços desenvolvidos no sentido de se tornar autónomo e de voltar a ser o pilar e base de sustento da sua família. Refere os problemas de saúde que lhe advieram devido ao trabalho desgastante que desenvolveu, a indiferença da família próxima (quiçá o desrespeito pela sua pessoa e direitos familiares) e a greve de fome que foi obrigado a enfrentar, durante vinte e cinco dias, como única medida capaz de lançar sobre si o olhar de uma sociedade incapaz de lhe prorrogar um prazo para pagamento de uma dívida de IVA.
Capítulo VI Situando-nos temporalmente no início de 2004, o capítulo é dedicado à ruptura do seu casamento e razões que motivaram tal decisão. Alude-se, de passagem, a mais um internamento hospitalar a que o narrador já tinha feito referência anteriormente.
Capítulo VII Depois de referir uma primeira relação afectiva “platónica” com alguém também frequentador do site dos Deficientes Activos, após ter deixado a casa onde residia, o protagonista dá-nos a conhecer momentos de uma segunda relação e as causas que determinaram o seu desenlace.
Capítulo VIII Novamente no hospital, neste capítulo, o leitor é confrontado com o quotidiano desta unidade de saúde, filtrado pela análise subjectiva de quem viveu e sentiu os acontecimentos relatados. Os diversos procedimentos do corpo de enfermagem, as atitudes de certos médicos e outros aspectos da rotina vivida num espaço desta natureza são-nos apresentados, por vezes, num tom irónico, noutras, revestidos de uma ponta de dramatismo, deixando transparecer uma imagem nem sempre elevada de quem se dedica à saúde.
Capítulo IX As barreiras com que Leones Lima se depara após a alta hospitalar (procura de uma casa cujas condições estejam adaptadas a um paraplégico e a sua vida até conseguir um apartamento com tais características, as diligências efectuadas para conseguir um emprego que lhe permita subsistir) constituem o fulcro do capítulo, em que há ainda espaço para nos transmitir a imagem que, segundo o narrador, a sociedade tem de um paraplégico e as capacidades que este possui efectivamente. Uma vez mais o leitor é levado a reflectir sobre os cuidados e atenção que o ser humano (não) dedica ao seu semelhante portador de uma deficiência, o mais das vezes votado ao esquecimento, até por parte da própria família. Para melhor marcar a diferença entre o procedimento do homem e o dos animais relativamente ao seu semelhante, o protagonista recorda as atitudes dos gansos durante as suas migrações, sobretudo quando algum elemento do bando se encontra ferido e não pode seguir a rota de migração juntamente com as outras.
Capítulo X Surge, neste capítulo, a grande analepse da obra. Nele somos enviados para as origens do protagonista, sua infância (passada esta no seio de uma família que valorizava sobretudo o trabalho braçal dos seus membros e menosprezava aqueles que elegiam o conhecimento e a curiosidade intelectual e científica como uma prioridade), adolescência (com a primeira tentativa frustrada de saída do ambiente familiar), primeira juventude (vivida em Setúbal, onde contacta com o movimento hippie), terminando no momento em que decide assinar o contrato de trabalho que o conduzirá até à Venezuela.
Capítulo XI Entremeando a narrativa autobiográfica com algumas descrições, o narrador autodiegético leva-nos a conhecer a maravilhosa selva amazónica, rica em vegetação luxuriante, local onde passou férias inesquecíveis, em contacto com as tribos índias que aí habitam. Tal contacto possibilitou-lhe o conhecimento de lendas e crenças em que esses povos acreditam e que têm passado de geração em geração. Regressando à sua autobiografia, salienta o trabalho desenvolvido na Venezuela, realçando o estado de quase morte em que ficou um dos técnicos que com ele trabalhava e como o conseguiu superar, algumas das suas vivências afectivas, culminando no seu casamento com “a morena mais linda que jamais vira”.
Capítulo XII A primazia dada ao percurso profissional do protagonista, em terras venezuelanas e o enfoque dado aos seus ídolos (Isaac Newton, Robert H. Goddard, Michael Faraday, james Clerk Maxwell e, acima de todos, Albert Einstein), levam o narrador a lançar mão uma vez mais a analepse para se centrar, novamente, na sua infância e relatar episódios dos quais emerge a força de vontade para conseguir vencer a oposição familiar que lhe era movida, sempre que tentava informar-se, através da leitura, sobre assuntos que lhe despertavam interesse. O contacto com literatura de temática científica, sobretudo na área da electricidade e electrónica, permitiu-lhe a aquisição de novos conhecimentos e a realização de experiências rudimentares, mas que serviram para que ele próprio testasse as suas capacidades e apetências para a área da sua predilecção. Nas páginas finais do capítulo, são-nos narradas algumas peripécias que antecederam o nascimento do filho.
Capítulo XIII Deixando transparecer o grande amor e toda a emoção que se vive aquando do nascimento de um filho, o narrador apresenta-nos páginas em que a criança e os seus primeiros anos de vida se tornam o centro do seu mundo. Além deste aspecto e vivendo-se o início dos anos 90, época conturbada na Venezuela, é-nos igualmente narrado o estado caótico em que o país vivia, levando o protagonista e sua família, também eles vítima do saque e do vandalismo da população, a equacionarem verdadeiramente a hipótese de regresso a Portugal, acabando por concretizá-la.
Capítulo XIV O regresso à terra natal e o processo de aculturação, tanto por parte do protagonista, como da esposa, habituados a outro ambiente sócio-cultural, com padrões de vida totalmente diferentes dos vigentes entre a população rural do Alto Minho, são aspectos que sobressaem neste capítulo. É ainda o momento em que o narrador nos confidencia mais algumas feições da sua vida profissional, cujo desenrolar acabará por culminar com a aceitação do convite de trabalho em terras africanas. Ao longo das páginas deste capítulo, são vincados também aspectos relacionados com a hipocrisia social e com o egoísmo e a inveja humanas.
Capítulo XV Quase no terminus da sua autobiografia, José Leones Lima construiu este capítulo à volta do péssimo ambiente de trabalho que o rodeava, o qual veio a motivar a rescisão do contrato e a opção de trabalhar por conta própria.
Capítulo XVI No epílogo da narrativa, o leitor toma contacto com mais alguns factos que despoletaram a aceitação da viagem ao continente africano e é conduzido ao momento em que a narração principia: o acidente aquando da verificação da maquinaria que uma empresa vendia para um Ministério de um país de África. O autor conclui a obra com um agradecimento a todos quantos leram a sua narrativa, deixando-nos a sua certeza de que, apesar de todas as adversidades, está convicto de que vencerá.
Prefácio
PRÓLOGO “Sempre que penso nas razões que me levaram a aceitar um determinado negócio no continente africano, sinto que provavelmente têm razão aqueles que afirmam que sou um grande egoísta. Esta difícil constatação obriga-me a uma análise profunda e dolorosa sobre o meu “eu”. O desafio profissional do risco inerente à concretização e ao êxito da tarefa a realizar em terras africanas, juntamente com o desejo de aventuras tipo “as mil e uma noites”, que docemente se vivem no continente das muitas lendas, com todo o poder do seu exotismo e mistério, também tiveram influência na resolução de partir. Estes pormenores influenciaram-me a tal ponto que não prestei atenção aos conselhos dos meus familiares e amigos e ao não fazê-lo, provavelmente mudei o rumo da minha vida. Não sendo minimamente supersticioso, mais convencido fiquei de que deveria partir, depois de uma brincadeira em família com uma tábua “oiya”. O resultado da “oiya” indicava que a viagem seria muito negativa. Este resultado actuou como a última gota, para confirmar definitivamente a partida. Sempre tive um toque de espírito de contradição, e uma vez mais remei contra a corrente, errado reconheço. (Mas que raio, sou apenas humano! Não esperem encontrar, na minha narrativa, indícios de que sou um santo; muito pelo contrário: se o Inferno existe, serei um candidato à direcção das suas sobreaquecidas instalações). A área a visitar estava em guerra e o negócio em si mesmo não era garantia de melhoras significativas nas finanças da minha família; porém, existia, em estudo, a possibilidade de outros negócios se concretizarem, o que me dava ânimo para prosseguir. Assim, com esperança de melhores dias e uma curiosidade com sabor a aventura, inclinou-se a balança irrevogavelmente para o lado do caos, do desconhecido. Todos os ingredientes para um desenlace infeliz estavam presentes; o factor sorte (embora acredite que a sorte se constrói, passo a passo, e que dá muito trabalho a obtê-la) que tantas vezes antes facilitou certos momentos críticos da minha vida familiar, social e profissional, estava e continua a estar de férias sabáticas em todo o continente africano. Assim, o que antes parecia uma simples transacção comercial, acabou da maneira mais vil, para quem erradamente não escutou aqueles que acertadamente vaticinavam o pior. Ninguém, entre os meus amigos ou familiares, estava de acordo com esta viagem para terras africanas, e constrangidos diziam-me: – O teu nível de vida é óptimo, estás muito bem por aqui, tens um bom trabalho como empresário em nome individual, uma boa vivenda com um lindo jardim, cada um de vocês tem um bom carro, tens uma excelente família. Que mais queres? Nunca soube responder concreta e honestamente a esta pergunta, mas como alguém disse: “Prosseguias o teu próprio caminho”.”
Outros
Badanas
“A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério. Ele é a fonte de toda a verdadeira arte e ciência. Aquele que é estranho a esta emoção, aquele que já não consegue admirar-se e deixar-se arrebatar pelo deslumbramento, é como se estivesse morto; tem os olhos fechados (…) Saber que o que é impenetrável para nós realmente existe, manifestando-se como a sabedoria mais elevada e a beleza mais radiosa que as nossas capacidades embotadas apenas podem apreender nas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento, é o centro da verdadeira religiosidade. Neste sentido, e só neste sentido, eu pertenço às fileiras dos devotos religiosos.” Albert Einstein
Contra capa
“Em Culpado me Confesso, o leitor é colocado ante uma narrativa autobiográfica, em que a nostalgia de um passado carregado de momentos verdadeiramente emocionantes nos conduz ao mundo e às vivências de alguém que aprendeu sozinho, que viajou por partes longínquas e que, sem medo de arriscar, penetrou no que há de mais puro e exótico na civilização e na alma do ser humano. Igualmente é um convite ao conhecimento da realidade e dos problemas com que se debatem, actualmente, os paraplégicos portugueses. Ao percorrermos a obra, somos inevitavelmente confrontados com o dia a dia do protagonista que, fruto de uma situação imprevista, se vê rodeado de barreiras da mais variada natureza que por si só tem de contornar e vencer. É, sem dúvida, uma obra forte, uma narrativa realista, levemente entrecortada de ficção, narrada na primeira pessoa, em que o autor, José Leones Lima, nos deixa a mensagem de que o paraplégico ama, vive a vida com toda a intensidade e jamais desiste de lutar. Culpado me Confesso – um livro para ler, compreender e meditar.”
Excertos
DEDICATÓRIA Ao meu amado filho Alejandro, e à minha filha do coração, Ana, para que nunca me esqueçam. A todos os deficientes, aqueles que lutam para sobreviver e que sobreviveram para vencer.
TEXTO EM VERSO (MOTE) Estava radiante o dia, tudo calmo e em paz. Aromas de Natal arrastados pela cálida brisa alegravam os semblantes, indiciando que em harmonia estava o mundo. Mas, (há sempre um mas)… Mais rápido que um mortífero raio, desabou uma trágica tormenta, trazendo odores de dor e de derrota. Sem contemplações destruiu o meu corpo e a minha vida, marginalizando o meu futuro, espalhando sofrimento, acabando com os amigos e com a família. COMENTÁRIOS E REFLEXÕES Sobre Deus e a religião “Não acredito em religiões, porém aceito, com algumas reservas, filosofias que contêm doutrinas do tipo Budista, mas tenho também a minha forma muito particular de acreditar num arquitecto responsável pelo projecto de tudo o que nos rodeia, incluindo-nos. Chamemos DEUS a esse supra Arquitecto, ou o que queiramos: fonte de energia positiva, força das forças, força do bem, princípio de todos os princípios. Há quem acredite que a teoria do Big Bang, essa titânica explosão cósmica que deu origem ao nosso Universo, esteja actualmente em descrédito, pois não explica de maneira satisfatória o momento inicial. Outras teorias explicarão, ou tentarão fazê-lo, mas para mim, nesse “momento inicial da criação”, sempre lá estará o Arquitecto Supremo. Aceito o momento inicial como uma singularidade, com todas as suas possíveis teorias Físicas, mas também como indicador absoluto do poder do meu Deus. E esta fé não tem por que estar em desacordo com a ciência mais avançada. Numa terra que tem céus azuis de nitrogénio, oceanos de água líquida, florestas calmas e prados agradáveis, um belo globo fervilhando de vida, aceito a evolução das espécies por selecção natural, como Charles Darwin demonstrou, porque também eu prefiro ser um macaco transformado a ser um filho degenerado de Adão. Não me sinto paralisado por um obscurantismo endémico e desafio constantemente as nossas crenças mais enraizadas, embora continue a acreditar no meu Arquitecto Supremo que tudo planeou, permitindo que a natureza seguisse o seu curso prodigioso de selecção. Sim, quero acreditar em Deus, um Deus pai, protector da sua criação, um pai que ama os seus filhos, mesmo que estes não percorram o caminho certo, um Deus que perdoa a ignorância dos seus, pois a ignorância, ao existir, só por ELE pôde ser programada no momento da nossa criação. Mas, e porquê? Somos, ou não, um produto totalmente feito e programado por Deus? Mesmo acreditando em ti, meu Deus, tenho as minhas dúvidas e não encontro respostas para muitos dos teus mistérios. Um espírito aberto, corajoso e inquisitivo é uma ferramenta essencial para ir diminuindo a nossa ignorância colectiva sobre o tema da existência do nosso Arquitecto Supremo. Corro o risco de me chamarem ateu, mas atenção, porque ateu é aquele que tem a certeza de que Deus não existe, e eu só tenho imensas dúvidas. Quiçá, “Tu”, meu Deus, sejas realmente o Deus de Spinoza, que se revelou na harmonia de todos os seres. Mas quem pode saber? Quero acreditar num Deus benevolente, que não quer sacrifícios nem sofrimentos, mas que nos dá a liberdade de seguirmos o caminho escolhido, crescendo intelectualmente no sentido desejado. Não acredito na existência dos supostos anjos, nem em intermediários que comercializam espaços no céu; não acredito em religiões, definitivamente. A ideia pode até ser romântica, porém não me cativa; todavia gosto de acreditar que a influência de Deus mais uma vez me protegeu. Obrigado, Senhor, e perdoa-me pelas minhas genuínas dúvidas.” (capítulo I) Sobre o egoísmo humano “Já li em algum lado que uma das causas de divórcio inerentes a quase todos os povos, é a incompatibilidade dentro do quarto de casal, quando se perde o respeito e se invade o espaço do outro e quando os horários não são compatíveis. Mas, pior do que isso, é quando esses horários, sim, são compatíveis e um dos dois fica sentado na cama, não começando geralmente a dormir à mesma hora, ficando, por exemplo, acordado a ver TV, a ler ou a escrever, ou ainda “chateando” com os amigos na NET. Uma noite ou duas, até passa, mas anos seguidos, acaba com a paciência de qualquer santo, e mais rápido ainda com a de um simples mortal.” (capítulo V) Sobre a visão que a sociedade desenvolve de um deficiente “Que importância pode ter um deficiente para uma sociedade tão hipócrita, materialista e plástica? Absolutamente nenhuma, para a maioria. Nem toda a sociedade será assim, mas em muitos casos, por mim conhecidos, através do meu site dos Deficientes Activos, em http://webleones.home.sapo.pt e com o e-mail: webleones@sapo.pt , posso confirmar e constato continuamente, a pouca atenção que a sociedade em geral dedica aos deficientes e como encobertamente, em alguns casos, são maltratados no seio da própria família.” (capítulo IV) “Esta sociedade, que me envergonha em tantas das suas negativas facetas, continua a exibir certos comportamentos e formas erróneas de pensar que me agridem. Quando, no meu quotidiano, sou obrigado a cruzar o caminho de algumas soltas línguas, que gostam de falar barato, escuto como empregam muito do seu tempo de saldo, lamentando abertamente e em bom som, a minha desdita, comentando o facto da nefasta experiência que me roubou parte da minha eficiência a todos os níveis, e em surdina afirmam em tom pejorativo e com uma aura de curiosidade ignorante no olhar: “pobre rapaz, já não é um homem completo…” Este tipo de comentário, muito generalizado, é sempre proferido e com uma intenção de ser interpretado no sentido sexual.” Sobre a vida “Na trama das nossas vidas, parece que tudo aquilo que nos acontece, nos ajuda a projectar o passo seguinte do nosso caminho. Envolvidos pelas trevas de uma noite de tormenta, somos obrigados a procurar uma luz que nos permita afastar das bermas do abismo. Devemos acreditar, por muito que demore, que após uma noite negra e fria, sempre surgirá de novo o sol, que nos rodeará com a sua cálida luz e com o seu benigno calor, permitindo que dentro de nós se mantenha inalterada a confiança no dia de amanhã. Desde o momento em que pela primeira vez enfrentamos este vasto universo, começamos a desenvencilhar-nos cada vez mais pelos próprios meios; vivemos seguindo os padrões e o caminho escolhido, até que, chegado o Outono final da vida, acabamos a nossa caminhada olhando para trás e vendo o grande e penoso percurso que a natureza humana sempre tenta vencer, lutando por deixar, na maioria dos casos, referências positivas que nos projectem com orgulho nos tempos, depois da nossa partida.” (capítulo II) “Sempre a creditei que tudo tem solução. O tempo passa e os problemas solucionam-se; só que, muitas vezes, a solução não é a ideal e fica muito longe do desejado, chega mesmo a ser o inverso do esperado. Certo é que nada, nem ninguém, fica “atrasado no tempo”, para encontrar uma solução; de uma forma ou outra, tudo encontra o seu lugar e chega ao seu fim. O tempo é a grande solução, tudo limpa e purifica no seu percurso; impávido, passa, arrastando-nos com os seus problemas, forçando-nos a agir.” (capítulo III) Sobre a força do destino “Certas filosofias acreditam em várias “passagens ou vivências” por este nosso grão de areia e que cada passagem tem como finalidade tentarmos subir de nível, a caminho da possível meta da perfeição. Está implícito no princípio destas filosofias que, durante uma destas vivências, tanto podemos avançar como retroceder, tudo depende do nosso desempenho no jogo a caminho da meta. Terão algum significado, dentro do princípio referido, estes dois segundos terroríficos que vivi? Terei sido penalizado no meu próprio jogo? Ou apenas me terei desviado dum caminho equivocado, para seguir aquele que realmente me compete?” (capítulo I) “Por favor, não pensem que acredito no destino. Ninguém pode afirmar que, se não tivesse corrido para África, não poderia, em qualquer outro sítio ou circunstância, ter sofrido algo idêntico ou ainda mais dramático. Verdadeiramente ninguém conhece o dia de amanhã e ninguém está livre do seu futuro.” (capítulo XVI) Sobre o dia a dia de um paraplégico “Tive alta hospitalar em Julho de 1998. Estive praticamente acamado até ao final desse ano. Poucas vezes me sentava na cadeira, pois as dores de todo o meu tronco não me permitiam muitos movimentos, mas também sentia um grande medo de que a minha coluna não suportasse, por si só, sem o auxílio dos músculos inactivos, o peso em causa. Pouco a pouco, lá me fui afastando da cama protectora e então comecei a fazer exactamente o contrário: levantava-me às oito horas da manhã, para só regressar ao leito às duas da madrugada. Hoje, é lógico para mim, mas não o era na altura, que tanto tempo sentado é contraproducente e nada bom para os tecidos em constante atrito e contacto com a almofada de ar que uso. E assim começou uma muito negativa odisseia de escaras de pressão que desequilibraram completamente a minha vida. O calcanhar de Aquiles de alguns deficientes motores são exactamente as maleitas derivadas das úlceras de decúbito e das infecções urinárias. Desde 1999 a 2005, já realizei umas sete intervenções cirúrgicas de reconstrução ou operações plásticas, devido às maléficas escaras que sempre aparecem na região esquiática. (…) Como nunca fui gordo (1,74 m de altura e nunca pesei mais de 70 quilos; hoje peso muito menos), não tenho uma almofada natural que me proteja, nas áreas em constante contacto e fricção com a almofada. Mesmo uma das melhores de protecção a ar, como a que eu uso, não consegue minimizar o atrito, se não tenho descansos intercalados nas minhas horas de rodagem, quando estou trabalhando ou gozando simplesmente a vida, dedicando algum tempo a nada fazer”. (capítulo III) Quando uma pessoa, por necessidades de saúde, tem de enfrentar longos períodos acamada, a sua auto-estima tende a diminuir. Creio que ninguém gosta obrigatoriamente de depender dos outros, mas quando essa dependência é necessária, sentimos que somos um problema, pois ninguém tem culpa da nossa dependência e muito menos é obrigado a ajudar-nos a ultrapassar os nossos problemas. Se temos possibilidades de pagar para que nos sirvam, quem nos serve está recebendo um salário e assim a nossa dependência dá origem a um emprego e é vista de forma positiva; mas se não podemos pagar o trabalho que geramos com essa dependência, acabamos por ser um problema, quer seja para familiares ou amigos. No início da dependência, tudo parece fácil e todos ajudam com um sorriso de solidariedade; mas passado um tempo, todos começam a encontrar desculpas para estar cada dia menos a nosso lado. E com o tempo, até a nossa autoridade, nas diversas vertentes inerentes, começa a ser posta em causa. A esposa já não nos vê como o homem por quem se apaixonou e os filhos já não nos vêem como um exemplo a seguir. Esse comportamento começa por ser espontâneo a todos os envolvidos e pouco a pouco estabelece-se com norma. A cada dia que passa, vamo-nos dando conta de que temos menos valor para os demais. Mesmo que a nossa precária saúde nos permita fazer algo para aligeirar a carga dos outros, eles nunca ficam satisfeitos; para eles começamos a perder a nossa identidade de ser prestável. Entendemos que somos um peso no grupo familiar, ainda que as pessoas que nos rodeiam tentem demonstrar o contrário, mas nem sempre, e quando chega o dia, para alguns, de poderem colaborar com o seu trabalho e ordenado para o bem-estar do grupo familiar, tal é visto como algo de pouco valor, a quem ninguém dá muita importância, mas sofregamente guardam o produto do esforço do deficiente.” (capítulo IV) Sobre a mulher “No grupo dos Deficientes Activos, entre as dezenas de sócios, muitas amizades vão crescendo e geram-se também algumas cumplicidades; estes cúmplices, para além de doces picardias, nas mensagens cruzadas, pouco mais se aventuram a avançar no campo sentimental. Também tive a minha confidente preferida e depois de muito tempo a cruzarmos mensagens sobre a problemática das nossas vidas e estando livres de compromissos sentimentais, começámos a deslizar a uma velocidade vertiginosa para uma paixão arrebatadora. Marcámos um encontro num hotel, mas como a esperada alta hospitalar não se deu na data programada, ficou pendente o encontro. Entretanto, continuávamos consumindo-nos num fogo que nos queimava as entranhas. Porém, o amor platónico só funciona bem em alguns corações; outros necessitam de calor e de sentir a adrenalina espalhando-se, enquanto carinhosamente trocam sequências infindáveis de ADN. Num dia lindo de Primavera (que se podia admirar pelas amplas janelas do meu quarto hospitalar), numa tarde de Maio, um sorriso radiante de mulher madura, mas ainda bela e fresca, iluminou e aqueceu bastante aquele quarto. Chega de sorriso aberto e pronta para amar (pensava com todas as fibras saltitando). Falámos de tudo um pouco, mas os nossos olhos diziam muitas outras coisas. Quando chegou o momento da despedida, pedi-lhe o número do telefone. Ela, sorrindo e olhando-me profundamente, respondeu: – Claro que sim, mas também tem de me dar o seu. Parecia haver uma promessa implícita naquela resposta e naquele olhar profundo, e a partir daquele momento disse para as minhas células, já muito aquecidas por aquele sorriso escaldante: “estou de novo metido em problemas”. No dia seguinte, pelo telefone, depois de várias confidências, aceitamos que nos sentíamos bem juntos, e mal, muito mal, quando longe um do outro. Estava assente que queríamos estar de novo juntos e assim começou uma louca relação. Para não me sentir tão canalha, a minha consciência obrigou-me a acabar com a paixão gerada na NET. Não me saí muito bem dessa tarefa, pois utilizei uma amiga mútua para gerar um conflito e acabar com aquele amor platónico. Senti-me um verme, mas quem pode comandar tais sentimentos? Eu não consigo. Por isso afirmo que as doces, complicadas mas sempre desejadas mulheres são o meu karma.” (capítulo VII) “Sempre gostei e admirei a beleza da simplicidade, e graças a Deus, as melhores enfermeiras, todas elas boas profissionais, eram eficientes e simples, de uma simplicidade com bom gosto e de um nível cultural invejável, pessoas sérias e honestas, sem falsas modéstias ou hipocrisias nas suas relações, pessoas que aceitavam galanteios sinceros e sem perigo, pessoas que têm o dom de saber levar a vida a brincar, sendo e fazendo os outros felizes. Outras, porém, ficavam beata e hipocritamente indignadas, quando um piropo lhes era sincera e educadamente dirigido. Aparentando uma falsa segurança, empinavam o feio nariz e fuzilando-me com um olhar de virgens ultrajadas, diziam: – Dispenso esse tipo de conversa. – Mas, enfermeira, realmente tem hoje o cabelo muito lindo. Não a quis ofender, mas apenas dizer-lhe que resultou. Como homem, acho que esse penteado lhe fica muito bem. – Esse tipo de comentários está a mais neste trabalho. Que vão pensar as outras pessoas? Não sei a que se referia a tão ingrata enfermeira, mas sei que jamais lhe daria um piropo referindo-me à sua (inexistente) beleza. A mulher é feia de verdade, mas naquele dia até tinha um lindo penteado que ajudava a passar aquele rosto de terceira. Um dia, depois do banho, ao fazerem-me a limpeza de um cateter para administração de um antibiótico, a azarada enfermeira de turno arrancou, por falta de cuidado, o mesmo. – Então, amiga, você arrancou o cateter? Deveria ter mais cuidado, não é verdade? – Bom, agora tem de ser picado outra vez. Como leram, não houve um pedido de desculpas, como seria de esperar. Simplesmente teria de ser picado de novo. Mas, porque tinha eu de pagar o erro da enfermeira? Errar é próprio do ser humano, mas eu, quando erro, peço desculpa, se necessário, e muito mais pediria se tivesse de provocar dor com o meu erro. A resposta da enfermeira foi a gota que provocou a minha ira, pois desde há muito que eu sabia que ela era o pior elemento de enfermagem daquela enfermaria e detesto a falta de profissionalismo. – Então a senhora comete um erro e tenho de ser eu a pagar? Posso e devo ser picado de novo, mas não pela enfermeira. Chame outra colega sua. Passado um momento, voltou, dizendo-me que o turno ia acabar e que não tinha uma colega disponível; assim, teria mesmo de ser ela a picar-me. – Enfermeira, que parte foi que a senhora não entendeu, quando lhe disse que não aceitava que me picasse, nem hoje nem nunca mais? – Mas, porque não? Explique-me, ainda não entendi! – Chame a enfermeira chefe, eu falo com ela; com a senhora não quero nada mais. Depois, ao falar com a chefe de enfermagem, expliquei-lhe que conhecia e cumpria com todos os meus deveres perante o hospital, mas que também conhecia todos os meus direitos e que exigia nunca mais ser tratado pela tal medíocre enfermeira. Assim foi. A partir daquele dia, enfermeira desastre ficou bem longe de mim. Como devem calcular, não foi só o facto de ela ter arrancado o cateter que provocou o meu lado reptiliano; já antes tinham sucedido diversos episódios que lesavam os meus direitos. Com este péssimo elemento de enfermagem, o cateter foi só e uma vez mais a última gota.” (capítulo VIII) “Uma verdadeira dama, de rosto lindo e olhos meigos, pertencia, como não poderia deixar de ser, ao grupo dos excelentes profissionais. Imaginem uma mulher com as medidas quase exactas em todas as curvas, meiga e supostamente doce, com uma voz melodiosa e um olhar profundo e inteligente, uma verdadeira Deusa grega. Esta mulher alterava-me, sempre que simpaticamente me dirigia a palavra. Adorava escutá-la, gostava imenso de admirar aquele corpo, mas era um fruto proibido. Como quase todas as suas colegas, também ela era casada, e pode parecer que não, mas respeito muito as convenções deste tipo: mulher com aliança é fruto para cheirar mas não para comer. Para além da Deusa grega, também por ali andava em órbita a Melancólica. Era esta uma mulher de uma inteligência fora do normal. Não era muito linda, mas era tão simpática que se tornava uma flor, daquelas que logo que vemos, sentimos uma grande vontade de cheirar e acariciar. E então que poderei dizer da Esbelta, que também era tão simpática e sempre pronta a ajudar? Posso afirmar que é uma verdadeira senhora com um grande coração e uma boa profissional. Mas, minha amiga, tenho que lhe dizer, mesmo correndo o risco de machucar a nossa amizade, tem de começar a gastar dinheiro em outro tipo de perfume. Por fim, recordo nostalgicamente a enfermeira Caracóis, mulher de carácter forte, mas de um sorriso que aquece corações, linda e de um exotismo nada comum. Neste caso, penso que não existiam sinais de convenções, nada indicava que era uma mulher proibida e se não fosse paraplégico, teria tentado o impossível, “longe do hospital”, como é lógico. Agradeço a estas boas profissionais e a muitas outras a quem não faço referências, deste e doutros hospitais, os seus cuidados, o seu carinho e principalmente a sua amizade. Também devo agradecer às técnicas auxiliares a sua simpatia e os bons e picantes momentos de anedotas, altamente revigorantes e pecadoras, com as quais me ajudavam a passar o tempo. Obrigado pela vossa boa disposição. Recordo visões maravilhosas, que devo agradecer a quem desenhou aquele tipo de uniforme de enfermagem que permite roubar visões “calientes”, quando em certos ângulos podia avistar aqueles seios de arquitecturas muito diferentes entre si, mas todos gostosamente sensuais. Obrigado por todas as visões exóticas, abundantes e sensuais paisagens de sonho, que aceleradamente admirava.” (capítulo VIII) AS PAISAGENS PARADISÍACAS DO AMAZONAS E TRIBOS QUE AÍ HABITAM “Dirigindo-nos, depois, para a fronteira com o Brasil, muito antes de entrar nesse grande país, somos envolvidos por aquele mundo majestoso que é toda a região do Amazonas. Ao passar pelo território de Guyana e saindo uns quilómetros da estrada que nos acerca da fronteira com o norte daquelas que já foram terras de Santa Maria, pudemos seguir em direcção a Canaima. Aí encontrámos uma queda de água chamada Salto Angel. Acreditem que ver um grande volume de água cair oitocentos metros na vertical, chocar contra a falésia e continuar a cair mais duzentos metros, é de tirar o fôlego a qualquer um. Com efeito, jamais o olhar humano contemplou espectáculo tão sublime como a queda das águas da maior catarata do mundo, no Auyantepuy, na Venezuela. Amazonas, um nome que encerra grandeza e entranha imensidão, havendo algo especial no silêncio que inunda esta maravilhosa floresta. Terras prodigiosas, com as suas selvas primárias, de exuberante beleza, com árvores selváticas que formam uma cerrada abóbada, que apenas permite o passar silencioso dos raios solares. Caminhar abrindo caminho, por baixo dessa coberta verde inimitável, é encontrar-se com uma selva acolhedora, silenciosa, hospitaleira, repleta de caprichosas e fantásticas figuras vegetais: orquídeas parasitas, raízes aéreas que seguem os seus caminhos em busca de alimento; selvas chuvosas ou bosques pluviais macro-térmicos com árvores de até sessenta metros de altura, servindo de suporte ao mundo das trepadoras que se agarram desesperadamente aos troncos de árvores seculares – panorama de beleza quase de sortilégio, onde se destaca, pela sua simplicidade e beleza, a multiplicidade do mundo das referidas parasitas. Gostava de me refugiar nestas regiões de sonho, para pensar e descansar, sempre que tinha um tempo livre ou nas minhas férias. Normalmente, íamos em grupo; porém, algumas vezes, aventurava-me sozinho naquele mundo fantástico, banhado pelas águas do Orinoco, do Ventuari, do rio Negro, etc., rios que se perdem no poente, formando um arco que se funde numa gama de mil cores. Acampava nas margens desses rios, em terrenos seguros, esperando, até que deslizando nas calmas águas, apareciam os fenícios do Amazonas nas suas canoas, os índios makiritares ou “homens do rio”, excelentes navegadores e bons comerciantes. Era fácil conseguir uma passagem a bordo das suas embarcações, depois de passar pelo ritual das demoradas e elaboradas negociações, sempre na base da troca, para a qual ia sempre prevenido com várias e pequenas coisas, como facas de mato, lupas, isqueiros, sapatilhas, etc. Depois de negociado e pago o transporte, sempre oferecia um presente ao chefe do grupo, o que me mantinha nas boas graças daquele amável povo. Zonas impressionantes, de selvas milenárias, de caudalosos rios e misteriosas montanhas. Terras de índios makiritares, waikas e piaroas, famílias indígenas que durante séculos viveram sem ter mais companhia que a própria selva. Gozei do privilégio de viver nas aldeias dos índios makiritares e dos yanomanos, aprendendo a viver o quotidiano, sempre observando como procediam exactamente os verdadeiros senhores e donos inquestionáveis daquele paraíso praticamente incontaminado pela influência do mundo exterior. Podia e devia colaborar nas lides da aldeia, mas só até onde era permitido a um forasteiro; alimentava-se, como eles, da caça, da pesca, de fruta e de um pão feito de raízes da yuca amarga. Era rara a vez que arroz ou outros géneros mais ao gosto da nossa sociedade entravam na ementa diária, mas tinham um azeite de palmeira Seje (Jessenia bataua) que rivalizava em sabor e em qualidade com o nosso azeite de oliveira. Os índios makiritares eram diferentes em quase tudo dos yanomanos. Caracterizam-se, por exemplo, pela sua mobilidade, fazendo travessias de até seis meses por rios e selvas, num caminhar intenso. Diziam que conheciam todo o alto Orinoco e as profundezas da selva Brasileira. Fisicamente são indivíduos de uma forte musculatura e bem nutridos, com esbeltas mas sujas mulheres, e muito audazes na guerra. Os yanomanos, descendentes da raça Waica, convivem com os marikitares descendentes da raça Caribe, nos territórios destes últimos; isto deu lugar a uma simbiose etnológica que põe em manifesto uma espécie de vassalagem dos yanomanos em relação aos makiritares.” (capítulo XI) CRENÇAS E LENDAS DOS POVOS DA AMAZÓNIA “Os yanomanos têm uma bela lenda para explicarem a origem do fogo e do homem: Ibarame, o caimán (crocodilo), antes de ser dono da água como o é hoje, era gente como todos os animais de então. O dono do fogo era um caimán, que embora fosse todos os dias para a água banhar-se, vivia em covas e grutas. Todos os outros comiam os alimentos crus, porque não sabiam como produzir fogo. Muitos sabiam que Ibarame comia saborosos manjares e por isso era mais forte do que todos eles. Sabedores disto, levavam ao fim do dia carne, que deixavam à porta da cova, para que o caimán a assasse. Ao amanhecer iam buscar a carne assada durante a noite por Ibarame, mas nunca ninguém pôde ver o seu fogo, porque sempre o escondia na boca. Lançava-o contra a lenha para conseguir uma fogueira, onde assava assim as viandas que levavam os caçadores. Um dia, um rapaz índio perdido na selva entrou sem querer na cova do caimán que dormia. Regressou assustado para junto dos seus pais e contou-lhes que, por mais que tentasse, lhe fora impossível encontrar o fogo. Desde então iniciaram um estratagema para roubar o fogo ao caimán. O pai do rapaz organizou uma festa à qual assistiram numerosos convidados, entre eles, o caimán. Todos riam e gritavam, mas Ibarame permanecia com a boca fortemente fechada. Nem sequer Hashimón, a galinácea azul, com o seu estrambólico baile conseguiu fazer-lhe abrir a boca. Nem o conseguiu Imã, o cão palhaço. Por fim, veio o astuto pássaro das montanhas pequeno e vermelho, como o fogo, que com tanta graça dançava excentricamente em frente do caimán, que este soltou uma grande gargalhada, o que permitiu que o fogo saísse em grandes chamas. O pássaro Mipomoue entrou rapidamente na boca de Ibarame e roubou-lhe a bola de fogo que escondeu no coração da árvore pooloi. Desde então, o caimán, envergonhado, foi viver para a água, enquanto os yonomanos puderam ir buscar o fogo ao coração da árvore sagrada Pooloi.” (capítulo XI) “Assim explicam os índios, por que razão se pintam com onoto: os “híkola” ou espíritos abandonam quem não se preocupa ou descuida esta secular maquilhagem. E dizem mais: “Pintamos os nossos corpos para indicar que as nossas almas, o nosso espírito e o sopro vital interior, estão repletos de força, saúde e bem-estar”.” (capítulo XI) “Quanto à origem do homem, os yanomanos têm um mito especial: Polipulibará, ou seja, a lua, era uma bruxa do céu, que roubava os cadáveres dos primeiros índios chamados Sanemá-Yanoma, que ainda não tinham verdadeiro sangue humano e morriam como as borboletas depois de alguns dias de vida. Polipulibará tinha abundante sangue celeste e pedras vermelhas impregnadas do sangue da vida, mas roubava os recentes cadáveres que tinham sangue de água e onoto, para manter sempre a mesma quantidade nos seus depósitos. Os yanomanos não podiam continuar a permitir tal situação e decidiram enterrar os cadáveres antes que fossem roubados. Luas mais tarde, exumavam-nos para cremá-los. Não resultou, porque a lua sempre conseguia roubar os cadáveres sem lhes dar tempo a enterrá-los. Para cúmulo, a lua baixava de noite e afogava as mulheres, roubando-lhes o sangue e o coração. Foi então que um grupo de índios decidiu lançar as suas setas contra a lua. A seta no arco tenso, disparada com todas as forças pelo primeiro bruxo, falhou o alvo e caiu na terra. Outro bruxo, tomando todas as precauções, fez um novo disparo, mas também este não alcançou Polipulibará. Os restantes bruxos também tentaram, mas fracassaram igualmente. A lua ria-se, gozando com eles e continuava roubando os cadáveres. Tocou por fim o turno ao chefe máximo dos bruxos. Deitado de costas, retesou a corda do seu arco até onde lhe foi possível e disparou a seta que se cravou no umbigo da lua, que começou a sangrar. Uma após outra, as gotas de sangue iam caindo sobre os primeiros índios ou Sanemá-Yanoama ainda frágeis pela mistura de água e onoto que tinham no sangue. Nas mulheres, as gotas produziam um efeito especial: entravam no seu ventre até enchê-las, mas ficavam tão pesadas que deviam expulsar pela vulva o excedente sanguíneo. Foi a partir daí que as mulheres ficaram com o período menstrual e se vêem obrigadas a repousar, sentadas no chão, durante três dias. Nos homens, as gotas tinham outro efeito: davam-lhes força e prolongavam a vida. Polipulibará não morreu, porque era uma bruxa, mas a seta cravada no seu umbigo fá-la sangrar constantemente, dando abundância de vida ao povo, aos fetos, aos frutos e aos animais. Condenada a este martírio, Polipulibará só tem três dias para ocultar-se na sua casa e fartar-se do sangue roubado a outros povos, mas jamais aos yonomanos. Durante esses três dias, os índios, na sua maioria, dormem juntos, fora dos seus acampamentos, pois preferem estar unidos para não cair de novo nas garras da Polipilibará que os espia do seu esconderijo. O sangue, para estes índios, é a essência da vida e o seu mais significativo símbolo. Por isso são tão encarniçados nos combates: porque devem derramar o sangue dos seus inimigos. Afirmam que, se não se guerreia, o sangue não corre e não haverá frutos.” (capítulo XI) SITUAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL VIVIDA NA VENEZUELA NOS ANOS 80 E 90 “No princípio da década de 80, a Venezuela entrou numa espiral inflacionária que fez perder dinheiro a muita gente, incluindo-me. Recordo-me que tínhamos estado a passar férias em Portugal e amigos empresários atentos às políticas internacionais vaticinavam que o melhor que eu podia fazer era vender tudo e partir para outro país, ou regressar a Portugal. Ofuscado pelo brilho da vivência do quotidiano naquele país, não fui capaz de prever o momento exacto e propício para partir, ou melhor, para partirmos. Quando se casa com uma mulher do país de acolhimento, sabemos que não será fácil, mesmo que necessário, para ela, um dia, abandonar o seu país, família e amigos, mas o casamento é isso mesmo, união: para onde um vai, o outro deve, se quiser, acompanhar. Assim, o tempo foi passando. De vez em quando, sondava a minha mulher no sentido de saber o que ela opinava sobre o facto de virmos viver para Portugal. Quase sempre a resposta era em tom depreciativo. A sociedade venezuelana via Portugal e os portugueses como um conjunto de seres humanos pobres, que subsistiam principalmente da agricultura, com pouca cultura, e que viviam na sua maioria no campo e entre montes. – O quê! Ir viver para Portugal, deixar a minha família e amigos, o meu país?! – Carinho, o certo é que o teu país está cada vez pior. Quando cá cheguei em 1977, o câmbio do dólar era de 4,50 Bolívares por Dólar e hoje está a 30 Bs.; dentro de pouco tempo não se vai poder viver aqui. – Veremos. Creio que aqui sempre será melhor do que no teu pobre país, Lima. E assim passou mais uma década. No final da década de 80, as coisas começaram a piorar. O nosso chalé que estava instalado numa urbanização fechada, situada numa encosta, começou a ser assaltado, devido aos muitos problemas sociais que aquela sociedade enfrentava. Os assaltos sucediam sempre e quando não estava ninguém em casa. Normalmente tínhamos empregada doméstica, mas se por alguma razão a empregada tinha de sair, alguém deveria ficar guardando a casa, porque se assim não fosse, o mais certo era ser assaltada. O problema era que na urbanização, a nossa vivenda era a última subindo a encosta, ficando retirada da casa mais próxima uns quinhentos metros; a partir do nosso chalé para cima, existiam terrenos urbanizados e prontos para neles se construírem mais vivendas. Supostamente, as pessoas que entravam no espaço da urbanização iam para esses terrenos, mas nem sempre era assim; muitas vezes, entravam para roubar. A primeira vez que nos roubaram, levaram as televisões, a aparelhagem de música, um órgão electrónico bastante bom, quadros pintados a óleo e roupas. Chamámos a polícia, mas eles nada puderam fazer; disseram-nos que deveríamos ter uma arma e que se alguém tentasse assaltar a casa connosco no interior, que atirássemos a matar sem medo, mesmo que eles, os ladrões, ainda estivessem na rua, porque depois de baleados, era só passá-los para o jardim e chamá-los a eles, polícias, que tudo ficava arrumado. Comprei uma Beretta de 9 milímetros, uma arma considerada de guerra em Portugal, mas não na Venezuela, e foi um dos próprios polícias que me vendeu a arma e bastantes munições. Passei muitas noites com a pistola debaixo da travesseira e quando sentia algum ruído estranho, saltava da cama já com a arma empunhada e pronta a disparar. A Venezuela, naquele fim de década, estava muito pior do que eu previra anos antes. O descontentamento social voltava-se para as classes com mais poder de compra, entre elas um grande número de emigrantes portugueses, quase todos empresários. Em Setembro de 1989, assaltaram-nos pela segunda vez. Nessa ocasião, encontrámos os ladrões ainda dentro de casa. Naquele dia, estávamos a chegar um pouco mais cedo que o habitual, porque eu estava sem carro. Cada dia da semana e de acordo com o último número da matrícula, não podiam circular os correspondentes veículos, entre as sete e as dezanove horas. No caso do Ford Sierra da minha mulher, não podia circular às segundas-feiras, o meu Jipe não podia circular naquele dia que era quarta-feira e tinha aproveitado para o levar muito cedo para a oficina, para a respectiva assistência mensal. Quando víamos já ao longe o chalé, disse à minha mulher que estava conduzindo: – Pára o automóvel! Está um carro estranho em frente da nossa casa. Ela parou a uma distância prudente. Eu saí da viatura e aproximei-me para observar o que se passava. Foi um erro, pois os ladrões tinham-nos visto a chegar e estavam à nossa espera. Logo que me aproximei do carro deles, vi no assento da parte de trás do automóvel várias das nossas coisas: computadores, roupa, electrodomésticos, etc. Virei-me para a minha esposa e gritei-lhe para que se afastasse, mas naquele momento saíram correndo três homens e uma mulher. Um deles, de arma em punho, apontou à cabeça do meu pequeno filho, que entretanto tinha saído do carro seguindo a mãe. O ladrão, enfrentando-me, disse-me para estar quieto, continuando a apontar a pistola. Imaginem o que se sofre num momento como este! Estão a roubar-nos e ainda nos dizem para estarmos quietos, garantindo a nossa imobilidade cobardemente, servindo-se de uma criança e de uma arma de fogo apontada à cabeça de um inocente. É claro que nada fiz enquanto a arma estava apontada. Logo os bandidos entraram no carro deles e no da minha mulher, que estupidamente o tinha deixado em funcionamento, e aí mesmo, dando a volta ao veículo, destruíram as traseiras do mesmo, embatendo, ao retroceder em alta velocidade, contra umas pedras. Tentei, no meio daquela confusão, agarrar uma pedra, para no mínimo partir o vidro da frente do carro da minha mulher e do deles, se possível. Seria uma forma de chamar a atenção da polícia de trânsito, mas não consegui a tempo a pedra ideal. Tudo se passava rapidamente; a minha esposa agarrou-se às traseiras do carro dela e foi levada a reboque e aos gritos. Eu tinha conseguido meter uma mão pela janela do lado do condutor do carro dos ladrões e tentava forçar o volante para que saíssem da estrada, mas como não tinha estabilidade nenhuma, pois o carro estava em andamento e um deles estava-me agredindo o braço, fui obrigado a desistir. Gritámos pedindo ajuda, mas ainda era muito cedo para os vizinhos terem chegado dos seus empregos, pois ninguém compareceu ao pedido de auxílio. Por sorte ou não, naquele dia, eu não tinha a pistola comigo. Ainda hoje me pergunto o que se teria passado se a tivesse ao meu alcance. Acredito que, provavelmente, tendo a possibilidade de disparar, o teria feito sem pensar, pois a raiva que nos invade quando nos sentimos roubados, é uma força que não nos permite razoar com equilíbrio. Naquela noite, disse à minha mulher que, com eles ou só, regressaria a Portugal e comecei a fazer os preparativos para essa viagem.” (capítulo XIII) PROPRIEDADES MEDICINAIS DE ALGUMAS PLANTAS E FRUTOS “No meu caso particular, quando tenho uma infecção urinária, começo por beber muitos líquidos, no mínimo uns três litros de água cada vinte e quatro horas, e tento que a drenagem da urina seja máxima. Os líquidos que bebo são o resultado de uma infusão proveniente de uma fruta de cor vermelha, “Vaccinium vitis-idea”, ou arándano vermelho em Castelhano. É um arbusto que não ultrapassa os quarenta centímetros de altura, as suas folhas pequenas são persistentes e de um verde-escuro. O fruto é um globo de sabor ácido que fica vermelho escarlate quando maduro por alturas do Outono. O arándano vermelho tem-se utilizado durante anos como remédio para prevenir infecções urinárias. Pensava-se que a sua acidez impedia a proliferação bacteriana, mas este mecanismo resultou por não ser o correcto. O arándano vermelho, conhecido em inglês por cranberry, segundo estudos recentes, protege as infecções urinárias por meio de um mecanismo que previne a adesão das bactérias ao trato urinário. Durante anos, o arándano vermelho utilizou-se como remédio tradicional para as infecções urinárias, ainda que se desconhecesse a forma como actuava. A hipótese mais divulgada era a de que a acidez do arándano vermelho impedia as bactérias (fundamentalmente a E. Coli) de se reproduzirem; contudo, investigações recentes revelaram que o mecanismo de protecção é outro. Segundo identificou a equipa de Amy Howell do centro Marucci de investigação em Blueberry da Universidade de Nova Jersey (Estados Unidos), um composto da citada fruta, as proancianidinas, impedem a bactéria E. Coli de aderir às células uroepiteliais, evitando a sua proliferação e que por fim infectem. Além de tudo, confirmaram que a fruta não impede a adesão de outras células, revelando uma acção muito específica. Os arándanos constituem um grupo de espécies nativas principalmente no hemisfério norte, que pertencem ao género Vaccinium da família das Ericáceas. Numa dieta baseada em 2000 calorias/dia, a composição nutricional do arándano vermelho numa porção de 142 gramas, representa, entre os seus componentes mais relevantes, o aporte de 1% de gorduras, 9% de carboidratos, 14% de fibra e 15% de vitamina C. Em síntese, é um excelente alimento, especial para dietas hiposódicas e hipocalóricas e com um grande nível de fibra e vitamina C, cujas virtudes são bem conhecidas. Ultimamente, no âmbito científico, publicita-se o arándano como um poderoso antioxidante, redutor do colesterol e protector de riscos cardiovasculares. É possível, se não se conseguir directamente o fruto, a aquisição de comprimidos de arándano vermelho. Estão à venda nas casas de medicina natural, ou nas farmácias espanholas. (capítulo III)
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