Excertos
DEDICATÓRIA Ao meu amado filho Alejandro, e à minha filha do coração, Ana, para que nunca me esqueçam. A todos os deficientes, aqueles que lutam para sobreviver e que sobreviveram para vencer.
TEXTO EM VERSO (MOTE) Estava radiante o dia, tudo calmo e em paz. Aromas de Natal arrastados pela cálida brisa alegravam os semblantes, indiciando que em harmonia estava o mundo. Mas, (há sempre um mas)… Mais rápido que um mortífero raio, desabou uma trágica tormenta, trazendo odores de dor e de derrota. Sem contemplações destruiu o meu corpo e a minha vida, marginalizando o meu futuro, espalhando sofrimento, acabando com os amigos e com a família. COMENTÁRIOS E REFLEXÕES Sobre Deus e a religião “Não acredito em religiões, porém aceito, com algumas reservas, filosofias que contêm doutrinas do tipo Budista, mas tenho também a minha forma muito particular de acreditar num arquitecto responsável pelo projecto de tudo o que nos rodeia, incluindo-nos. Chamemos DEUS a esse supra Arquitecto, ou o que queiramos: fonte de energia positiva, força das forças, força do bem, princípio de todos os princípios. Há quem acredite que a teoria do Big Bang, essa titânica explosão cósmica que deu origem ao nosso Universo, esteja actualmente em descrédito, pois não explica de maneira satisfatória o momento inicial. Outras teorias explicarão, ou tentarão fazê-lo, mas para mim, nesse “momento inicial da criação”, sempre lá estará o Arquitecto Supremo. Aceito o momento inicial como uma singularidade, com todas as suas possíveis teorias Físicas, mas também como indicador absoluto do poder do meu Deus. E esta fé não tem por que estar em desacordo com a ciência mais avançada. Numa terra que tem céus azuis de nitrogénio, oceanos de água líquida, florestas calmas e prados agradáveis, um belo globo fervilhando de vida, aceito a evolução das espécies por selecção natural, como Charles Darwin demonstrou, porque também eu prefiro ser um macaco transformado a ser um filho degenerado de Adão. Não me sinto paralisado por um obscurantismo endémico e desafio constantemente as nossas crenças mais enraizadas, embora continue a acreditar no meu Arquitecto Supremo que tudo planeou, permitindo que a natureza seguisse o seu curso prodigioso de selecção. Sim, quero acreditar em Deus, um Deus pai, protector da sua criação, um pai que ama os seus filhos, mesmo que estes não percorram o caminho certo, um Deus que perdoa a ignorância dos seus, pois a ignorância, ao existir, só por ELE pôde ser programada no momento da nossa criação. Mas, e porquê? Somos, ou não, um produto totalmente feito e programado por Deus? Mesmo acreditando em ti, meu Deus, tenho as minhas dúvidas e não encontro respostas para muitos dos teus mistérios. Um espírito aberto, corajoso e inquisitivo é uma ferramenta essencial para ir diminuindo a nossa ignorância colectiva sobre o tema da existência do nosso Arquitecto Supremo. Corro o risco de me chamarem ateu, mas atenção, porque ateu é aquele que tem a certeza de que Deus não existe, e eu só tenho imensas dúvidas. Quiçá, “Tu”, meu Deus, sejas realmente o Deus de Spinoza, que se revelou na harmonia de todos os seres. Mas quem pode saber? Quero acreditar num Deus benevolente, que não quer sacrifícios nem sofrimentos, mas que nos dá a liberdade de seguirmos o caminho escolhido, crescendo intelectualmente no sentido desejado. Não acredito na existência dos supostos anjos, nem em intermediários que comercializam espaços no céu; não acredito em religiões, definitivamente. A ideia pode até ser romântica, porém não me cativa; todavia gosto de acreditar que a influência de Deus mais uma vez me protegeu. Obrigado, Senhor, e perdoa-me pelas minhas genuínas dúvidas.” (capítulo I) Sobre o egoísmo humano “Já li em algum lado que uma das causas de divórcio inerentes a quase todos os povos, é a incompatibilidade dentro do quarto de casal, quando se perde o respeito e se invade o espaço do outro e quando os horários não são compatíveis. Mas, pior do que isso, é quando esses horários, sim, são compatíveis e um dos dois fica sentado na cama, não começando geralmente a dormir à mesma hora, ficando, por exemplo, acordado a ver TV, a ler ou a escrever, ou ainda “chateando” com os amigos na NET. Uma noite ou duas, até passa, mas anos seguidos, acaba com a paciência de qualquer santo, e mais rápido ainda com a de um simples mortal.” (capítulo V) Sobre a visão que a sociedade desenvolve de um deficiente “Que importância pode ter um deficiente para uma sociedade tão hipócrita, materialista e plástica? Absolutamente nenhuma, para a maioria. Nem toda a sociedade será assim, mas em muitos casos, por mim conhecidos, através do meu site dos Deficientes Activos, em http://webleones.home.sapo.pt e com o e-mail: webleones@sapo.pt , posso confirmar e constato continuamente, a pouca atenção que a sociedade em geral dedica aos deficientes e como encobertamente, em alguns casos, são maltratados no seio da própria família.” (capítulo IV) “Esta sociedade, que me envergonha em tantas das suas negativas facetas, continua a exibir certos comportamentos e formas erróneas de pensar que me agridem. Quando, no meu quotidiano, sou obrigado a cruzar o caminho de algumas soltas línguas, que gostam de falar barato, escuto como empregam muito do seu tempo de saldo, lamentando abertamente e em bom som, a minha desdita, comentando o facto da nefasta experiência que me roubou parte da minha eficiência a todos os níveis, e em surdina afirmam em tom pejorativo e com uma aura de curiosidade ignorante no olhar: “pobre rapaz, já não é um homem completo…” Este tipo de comentário, muito generalizado, é sempre proferido e com uma intenção de ser interpretado no sentido sexual.” Sobre a vida “Na trama das nossas vidas, parece que tudo aquilo que nos acontece, nos ajuda a projectar o passo seguinte do nosso caminho. Envolvidos pelas trevas de uma noite de tormenta, somos obrigados a procurar uma luz que nos permita afastar das bermas do abismo. Devemos acreditar, por muito que demore, que após uma noite negra e fria, sempre surgirá de novo o sol, que nos rodeará com a sua cálida luz e com o seu benigno calor, permitindo que dentro de nós se mantenha inalterada a confiança no dia de amanhã. Desde o momento em que pela primeira vez enfrentamos este vasto universo, começamos a desenvencilhar-nos cada vez mais pelos próprios meios; vivemos seguindo os padrões e o caminho escolhido, até que, chegado o Outono final da vida, acabamos a nossa caminhada olhando para trás e vendo o grande e penoso percurso que a natureza humana sempre tenta vencer, lutando por deixar, na maioria dos casos, referências positivas que nos projectem com orgulho nos tempos, depois da nossa partida.” (capítulo II) “Sempre a creditei que tudo tem solução. O tempo passa e os problemas solucionam-se; só que, muitas vezes, a solução não é a ideal e fica muito longe do desejado, chega mesmo a ser o inverso do esperado. Certo é que nada, nem ninguém, fica “atrasado no tempo”, para encontrar uma solução; de uma forma ou outra, tudo encontra o seu lugar e chega ao seu fim. O tempo é a grande solução, tudo limpa e purifica no seu percurso; impávido, passa, arrastando-nos com os seus problemas, forçando-nos a agir.” (capítulo III) Sobre a força do destino “Certas filosofias acreditam em várias “passagens ou vivências” por este nosso grão de areia e que cada passagem tem como finalidade tentarmos subir de nível, a caminho da possível meta da perfeição. Está implícito no princípio destas filosofias que, durante uma destas vivências, tanto podemos avançar como retroceder, tudo depende do nosso desempenho no jogo a caminho da meta. Terão algum significado, dentro do princípio referido, estes dois segundos terroríficos que vivi? Terei sido penalizado no meu próprio jogo? Ou apenas me terei desviado dum caminho equivocado, para seguir aquele que realmente me compete?” (capítulo I) “Por favor, não pensem que acredito no destino. Ninguém pode afirmar que, se não tivesse corrido para África, não poderia, em qualquer outro sítio ou circunstância, ter sofrido algo idêntico ou ainda mais dramático. Verdadeiramente ninguém conhece o dia de amanhã e ninguém está livre do seu futuro.” (capítulo XVI) Sobre o dia a dia de um paraplégico “Tive alta hospitalar em Julho de 1998. Estive praticamente acamado até ao final desse ano. Poucas vezes me sentava na cadeira, pois as dores de todo o meu tronco não me permitiam muitos movimentos, mas também sentia um grande medo de que a minha coluna não suportasse, por si só, sem o auxílio dos músculos inactivos, o peso em causa. Pouco a pouco, lá me fui afastando da cama protectora e então comecei a fazer exactamente o contrário: levantava-me às oito horas da manhã, para só regressar ao leito às duas da madrugada. Hoje, é lógico para mim, mas não o era na altura, que tanto tempo sentado é contraproducente e nada bom para os tecidos em constante atrito e contacto com a almofada de ar que uso. E assim começou uma muito negativa odisseia de escaras de pressão que desequilibraram completamente a minha vida. O calcanhar de Aquiles de alguns deficientes motores são exactamente as maleitas derivadas das úlceras de decúbito e das infecções urinárias. Desde 1999 a 2005, já realizei umas sete intervenções cirúrgicas de reconstrução ou operações plásticas, devido às maléficas escaras que sempre aparecem na região esquiática. (…) Como nunca fui gordo (1,74 m de altura e nunca pesei mais de 70 quilos; hoje peso muito menos), não tenho uma almofada natural que me proteja, nas áreas em constante contacto e fricção com a almofada. Mesmo uma das melhores de protecção a ar, como a que eu uso, não consegue minimizar o atrito, se não tenho descansos intercalados nas minhas horas de rodagem, quando estou trabalhando ou gozando simplesmente a vida, dedicando algum tempo a nada fazer”. (capítulo III) Quando uma pessoa, por necessidades de saúde, tem de enfrentar longos períodos acamada, a sua auto-estima tende a diminuir. Creio que ninguém gosta obrigatoriamente de depender dos outros, mas quando essa dependência é necessária, sentimos que somos um problema, pois ninguém tem culpa da nossa dependência e muito menos é obrigado a ajudar-nos a ultrapassar os nossos problemas. Se temos possibilidades de pagar para que nos sirvam, quem nos serve está recebendo um salário e assim a nossa dependência dá origem a um emprego e é vista de forma positiva; mas se não podemos pagar o trabalho que geramos com essa dependência, acabamos por ser um problema, quer seja para familiares ou amigos. No início da dependência, tudo parece fácil e todos ajudam com um sorriso de solidariedade; mas passado um tempo, todos começam a encontrar desculpas para estar cada dia menos a nosso lado. E com o tempo, até a nossa autoridade, nas diversas vertentes inerentes, começa a ser posta em causa. A esposa já não nos vê como o homem por quem se apaixonou e os filhos já não nos vêem como um exemplo a seguir. Esse comportamento começa por ser espontâneo a todos os envolvidos e pouco a pouco estabelece-se com norma. A cada dia que passa, vamo-nos dando conta de que temos menos valor para os demais. Mesmo que a nossa precária saúde nos permita fazer algo para aligeirar a carga dos outros, eles nunca ficam satisfeitos; para eles começamos a perder a nossa identidade de ser prestável. Entendemos que somos um peso no grupo familiar, ainda que as pessoas que nos rodeiam tentem demonstrar o contrário, mas nem sempre, e quando chega o dia, para alguns, de poderem colaborar com o seu trabalho e ordenado para o bem-estar do grupo familiar, tal é visto como algo de pouco valor, a quem ninguém dá muita importância, mas sofregamente guardam o produto do esforço do deficiente.” (capítulo IV) Sobre a mulher “No grupo dos Deficientes Activos, entre as dezenas de sócios, muitas amizades vão crescendo e geram-se também algumas cumplicidades; estes cúmplices, para além de doces picardias, nas mensagens cruzadas, pouco mais se aventuram a avançar no campo sentimental. Também tive a minha confidente preferida e depois de muito tempo a cruzarmos mensagens sobre a problemática das nossas vidas e estando livres de compromissos sentimentais, começámos a deslizar a uma velocidade vertiginosa para uma paixão arrebatadora. Marcámos um encontro num hotel, mas como a esperada alta hospitalar não se deu na data programada, ficou pendente o encontro. Entretanto, continuávamos consumindo-nos num fogo que nos queimava as entranhas. Porém, o amor platónico só funciona bem em alguns corações; outros necessitam de calor e de sentir a adrenalina espalhando-se, enquanto carinhosamente trocam sequências infindáveis de ADN. Num dia lindo de Primavera (que se podia admirar pelas amplas janelas do meu quarto hospitalar), numa tarde de Maio, um sorriso radiante de mulher madura, mas ainda bela e fresca, iluminou e aqueceu bastante aquele quarto. Chega de sorriso aberto e pronta para amar (pensava com todas as fibras saltitando). Falámos de tudo um pouco, mas os nossos olhos diziam muitas outras coisas. Quando chegou o momento da despedida, pedi-lhe o número do telefone. Ela, sorrindo e olhando-me profundamente, respondeu: – Claro que sim, mas também tem de me dar o seu. Parecia haver uma promessa implícita naquela resposta e naquele olhar profundo, e a partir daquele momento disse para as minhas células, já muito aquecidas por aquele sorriso escaldante: “estou de novo metido em problemas”. No dia seguinte, pelo telefone, depois de várias confidências, aceitamos que nos sentíamos bem juntos, e mal, muito mal, quando longe um do outro. Estava assente que queríamos estar de novo juntos e assim começou uma louca relação. Para não me sentir tão canalha, a minha consciência obrigou-me a acabar com a paixão gerada na NET. Não me saí muito bem dessa tarefa, pois utilizei uma amiga mútua para gerar um conflito e acabar com aquele amor platónico. Senti-me um verme, mas quem pode comandar tais sentimentos? Eu não consigo. Por isso afirmo que as doces, complicadas mas sempre desejadas mulheres são o meu karma.” (capítulo VII) “Sempre gostei e admirei a beleza da simplicidade, e graças a Deus, as melhores enfermeiras, todas elas boas profissionais, eram eficientes e simples, de uma simplicidade com bom gosto e de um nível cultural invejável, pessoas sérias e honestas, sem falsas modéstias ou hipocrisias nas suas relações, pessoas que aceitavam galanteios sinceros e sem perigo, pessoas que têm o dom de saber levar a vida a brincar, sendo e fazendo os outros felizes. Outras, porém, ficavam beata e hipocritamente indignadas, quando um piropo lhes era sincera e educadamente dirigido. Aparentando uma falsa segurança, empinavam o feio nariz e fuzilando-me com um olhar de virgens ultrajadas, diziam: – Dispenso esse tipo de conversa. – Mas, enfermeira, realmente tem hoje o cabelo muito lindo. Não a quis ofender, mas apenas dizer-lhe que resultou. Como homem, acho que esse penteado lhe fica muito bem. – Esse tipo de comentários está a mais neste trabalho. Que vão pensar as outras pessoas? Não sei a que se referia a tão ingrata enfermeira, mas sei que jamais lhe daria um piropo referindo-me à sua (inexistente) beleza. A mulher é feia de verdade, mas naquele dia até tinha um lindo penteado que ajudava a passar aquele rosto de terceira. Um dia, depois do banho, ao fazerem-me a limpeza de um cateter para administração de um antibiótico, a azarada enfermeira de turno arrancou, por falta de cuidado, o mesmo. – Então, amiga, você arrancou o cateter? Deveria ter mais cuidado, não é verdade? – Bom, agora tem de ser picado outra vez. Como leram, não houve um pedido de desculpas, como seria de esperar. Simplesmente teria de ser picado de novo. Mas, porque tinha eu de pagar o erro da enfermeira? Errar é próprio do ser humano, mas eu, quando erro, peço desculpa, se necessário, e muito mais pediria se tivesse de provocar dor com o meu erro. A resposta da enfermeira foi a gota que provocou a minha ira, pois desde há muito que eu sabia que ela era o pior elemento de enfermagem daquela enfermaria e detesto a falta de profissionalismo. – Então a senhora comete um erro e tenho de ser eu a pagar? Posso e devo ser picado de novo, mas não pela enfermeira. Chame outra colega sua. Passado um momento, voltou, dizendo-me que o turno ia acabar e que não tinha uma colega disponível; assim, teria mesmo de ser ela a picar-me. – Enfermeira, que parte foi que a senhora não entendeu, quando lhe disse que não aceitava que me picasse, nem hoje nem nunca mais? – Mas, porque não? Explique-me, ainda não entendi! – Chame a enfermeira chefe, eu falo com ela; com a senhora não quero nada mais. Depois, ao falar com a chefe de enfermagem, expliquei-lhe que conhecia e cumpria com todos os meus deveres perante o hospital, mas que também conhecia todos os meus direitos e que exigia nunca mais ser tratado pela tal medíocre enfermeira. Assim foi. A partir daquele dia, enfermeira desastre ficou bem longe de mim. Como devem calcular, não foi só o facto de ela ter arrancado o cateter que provocou o meu lado reptiliano; já antes tinham sucedido diversos episódios que lesavam os meus direitos. Com este péssimo elemento de enfermagem, o cateter foi só e uma vez mais a última gota.” (capítulo VIII) “Uma verdadeira dama, de rosto lindo e olhos meigos, pertencia, como não poderia deixar de ser, ao grupo dos excelentes profissionais. Imaginem uma mulher com as medidas quase exactas em todas as curvas, meiga e supostamente doce, com uma voz melodiosa e um olhar profundo e inteligente, uma verdadeira Deusa grega. Esta mulher alterava-me, sempre que simpaticamente me dirigia a palavra. Adorava escutá-la, gostava imenso de admirar aquele corpo, mas era um fruto proibido. Como quase todas as suas colegas, também ela era casada, e pode parecer que não, mas respeito muito as convenções deste tipo: mulher com aliança é fruto para cheirar mas não para comer. Para além da Deusa grega, também por ali andava em órbita a Melancólica. Era esta uma mulher de uma inteligência fora do normal. Não era muito linda, mas era tão simpática que se tornava uma flor, daquelas que logo que vemos, sentimos uma grande vontade de cheirar e acariciar. E então que poderei dizer da Esbelta, que também era tão simpática e sempre pronta a ajudar? Posso afirmar que é uma verdadeira senhora com um grande coração e uma boa profissional. Mas, minha amiga, tenho que lhe dizer, mesmo correndo o risco de machucar a nossa amizade, tem de começar a gastar dinheiro em outro tipo de perfume. Por fim, recordo nostalgicamente a enfermeira Caracóis, mulher de carácter forte, mas de um sorriso que aquece corações, linda e de um exotismo nada comum. Neste caso, penso que não existiam sinais de convenções, nada indicava que era uma mulher proibida e se não fosse paraplégico, teria tentado o impossível, “longe do hospital”, como é lógico. Agradeço a estas boas profissionais e a muitas outras a quem não faço referências, deste e doutros hospitais, os seus cuidados, o seu carinho e principalmente a sua amizade. Também devo agradecer às técnicas auxiliares a sua simpatia e os bons e picantes momentos de anedotas, altamente revigorantes e pecadoras, com as quais me ajudavam a passar o tempo. Obrigado pela vossa boa disposição. Recordo visões maravilhosas, que devo agradecer a quem desenhou aquele tipo de uniforme de enfermagem que permite roubar visões “calientes”, quando em certos ângulos podia avistar aqueles seios de arquitecturas muito diferentes entre si, mas todos gostosamente sensuais. Obrigado por todas as visões exóticas, abundantes e sensuais paisagens de sonho, que aceleradamente admirava.” (capítulo VIII) AS PAISAGENS PARADISÍACAS DO AMAZONAS E TRIBOS QUE AÍ HABITAM “Dirigindo-nos, depois, para a fronteira com o Brasil, muito antes de entrar nesse grande país, somos envolvidos por aquele mundo majestoso que é toda a região do Amazonas. Ao passar pelo território de Guyana e saindo uns quilómetros da estrada que nos acerca da fronteira com o norte daquelas que já foram terras de Santa Maria, pudemos seguir em direcção a Canaima. Aí encontrámos uma queda de água chamada Salto Angel. Acreditem que ver um grande volume de água cair oitocentos metros na vertical, chocar contra a falésia e continuar a cair mais duzentos metros, é de tirar o fôlego a qualquer um. Com efeito, jamais o olhar humano contemplou espectáculo tão sublime como a queda das águas da maior catarata do mundo, no Auyantepuy, na Venezuela. Amazonas, um nome que encerra grandeza e entranha imensidão, havendo algo especial no silêncio que inunda esta maravilhosa floresta. Terras prodigiosas, com as suas selvas primárias, de exuberante beleza, com árvores selváticas que formam uma cerrada abóbada, que apenas permite o passar silencioso dos raios solares. Caminhar abrindo caminho, por baixo dessa coberta verde inimitável, é encontrar-se com uma selva acolhedora, silenciosa, hospitaleira, repleta de caprichosas e fantásticas figuras vegetais: orquídeas parasitas, raízes aéreas que seguem os seus caminhos em busca de alimento; selvas chuvosas ou bosques pluviais macro-térmicos com árvores de até sessenta metros de altura, servindo de suporte ao mundo das trepadoras que se agarram desesperadamente aos troncos de árvores seculares – panorama de beleza quase de sortilégio, onde se destaca, pela sua simplicidade e beleza, a multiplicidade do mundo das referidas parasitas. Gostava de me refugiar nestas regiões de sonho, para pensar e descansar, sempre que tinha um tempo livre ou nas minhas férias. Normalmente, íamos em grupo; porém, algumas vezes, aventurava-me sozinho naquele mundo fantástico, banhado pelas águas do Orinoco, do Ventuari, do rio Negro, etc., rios que se perdem no poente, formando um arco que se funde numa gama de mil cores. Acampava nas margens desses rios, em terrenos seguros, esperando, até que deslizando nas calmas águas, apareciam os fenícios do Amazonas nas suas canoas, os índios makiritares ou “homens do rio”, excelentes navegadores e bons comerciantes. Era fácil conseguir uma passagem a bordo das suas embarcações, depois de passar pelo ritual das demoradas e elaboradas negociações, sempre na base da troca, para a qual ia sempre prevenido com várias e pequenas coisas, como facas de mato, lupas, isqueiros, sapatilhas, etc. Depois de negociado e pago o transporte, sempre oferecia um presente ao chefe do grupo, o que me mantinha nas boas graças daquele amável povo. Zonas impressionantes, de selvas milenárias, de caudalosos rios e misteriosas montanhas. Terras de índios makiritares, waikas e piaroas, famílias indígenas que durante séculos viveram sem ter mais companhia que a própria selva. Gozei do privilégio de viver nas aldeias dos índios makiritares e dos yanomanos, aprendendo a viver o quotidiano, sempre observando como procediam exactamente os verdadeiros senhores e donos inquestionáveis daquele paraíso praticamente incontaminado pela influência do mundo exterior. Podia e devia colaborar nas lides da aldeia, mas só até onde era permitido a um forasteiro; alimentava-se, como eles, da caça, da pesca, de fruta e de um pão feito de raízes da yuca amarga. Era rara a vez que arroz ou outros géneros mais ao gosto da nossa sociedade entravam na ementa diária, mas tinham um azeite de palmeira Seje (Jessenia bataua) que rivalizava em sabor e em qualidade com o nosso azeite de oliveira. Os índios makiritares eram diferentes em quase tudo dos yanomanos. Caracterizam-se, por exemplo, pela sua mobilidade, fazendo travessias de até seis meses por rios e selvas, num caminhar intenso. Diziam que conheciam todo o alto Orinoco e as profundezas da selva Brasileira. Fisicamente são indivíduos de uma forte musculatura e bem nutridos, com esbeltas mas sujas mulheres, e muito audazes na guerra. Os yanomanos, descendentes da raça Waica, convivem com os marikitares descendentes da raça Caribe, nos territórios destes últimos; isto deu lugar a uma simbiose etnológica que põe em manifesto uma espécie de vassalagem dos yanomanos em relação aos makiritares.” (capítulo XI) CRENÇAS E LENDAS DOS POVOS DA AMAZÓNIA “Os yanomanos têm uma bela lenda para explicarem a origem do fogo e do homem: Ibarame, o caimán (crocodilo), antes de ser dono da água como o é hoje, era gente como todos os animais de então. O dono do fogo era um caimán, que embora fosse todos os dias para a água banhar-se, vivia em covas e grutas. Todos os outros comiam os alimentos crus, porque não sabiam como produzir fogo. Muitos sabiam que Ibarame comia saborosos manjares e por isso era mais forte do que todos eles. Sabedores disto, levavam ao fim do dia carne, que deixavam à porta da cova, para que o caimán a assasse. Ao amanhecer iam buscar a carne assada durante a noite por Ibarame, mas nunca ninguém pôde ver o seu fogo, porque sempre o escondia na boca. Lançava-o contra a lenha para conseguir uma fogueira, onde assava assim as viandas que levavam os caçadores. Um dia, um rapaz índio perdido na selva entrou sem querer na cova do caimán que dormia. Regressou assustado para junto dos seus pais e contou-lhes que, por mais que tentasse, lhe fora impossível encontrar o fogo. Desde então iniciaram um estratagema para roubar o fogo ao caimán. O pai do rapaz organizou uma festa à qual assistiram numerosos convidados, entre eles, o caimán. Todos riam e gritavam, mas Ibarame permanecia com a boca fortemente fechada. Nem sequer Hashimón, a galinácea azul, com o seu estrambólico baile conseguiu fazer-lhe abrir a boca. Nem o conseguiu Imã, o cão palhaço. Por fim, veio o astuto pássaro das montanhas pequeno e vermelho, como o fogo, que com tanta graça dançava excentricamente em frente do caimán, que este soltou uma grande gargalhada, o que permitiu que o fogo saísse em grandes chamas. O pássaro Mipomoue entrou rapidamente na boca de Ibarame e roubou-lhe a bola de fogo que escondeu no coração da árvore pooloi. Desde então, o caimán, envergonhado, foi viver para a água, enquanto os yonomanos puderam ir buscar o fogo ao coração da árvore sagrada Pooloi.” (capítulo XI) “Assim explicam os índios, por que razão se pintam com onoto: os “híkola” ou espíritos abandonam quem não se preocupa ou descuida esta secular maquilhagem. E dizem mais: “Pintamos os nossos corpos para indicar que as nossas almas, o nosso espírito e o sopro vital interior, estão repletos de força, saúde e bem-estar”.” (capítulo XI) “Quanto à origem do homem, os yanomanos têm um mito especial: Polipulibará, ou seja, a lua, era uma bruxa do céu, que roubava os cadáveres dos primeiros índios chamados Sanemá-Yanoma, que ainda não tinham verdadeiro sangue humano e morriam como as borboletas depois de alguns dias de vida. Polipulibará tinha abundante sangue celeste e pedras vermelhas impregnadas do sangue da vida, mas roubava os recentes cadáveres que tinham sangue de água e onoto, para manter sempre a mesma quantidade nos seus depósitos. Os yanomanos não podiam continuar a permitir tal situação e decidiram enterrar os cadáveres antes que fossem roubados. Luas mais tarde, exumavam-nos para cremá-los. Não resultou, porque a lua sempre conseguia roubar os cadáveres sem lhes dar tempo a enterrá-los. Para cúmulo, a lua baixava de noite e afogava as mulheres, roubando-lhes o sangue e o coração. Foi então que um grupo de índios decidiu lançar as suas setas contra a lua. A seta no arco tenso, disparada com todas as forças pelo primeiro bruxo, falhou o alvo e caiu na terra. Outro bruxo, tomando todas as precauções, fez um novo disparo, mas também este não alcançou Polipulibará. Os restantes bruxos também tentaram, mas fracassaram igualmente. A lua ria-se, gozando com eles e continuava roubando os cadáveres. Tocou por fim o turno ao chefe máximo dos bruxos. Deitado de costas, retesou a corda do seu arco até onde lhe foi possível e disparou a seta que se cravou no umbigo da lua, que começou a sangrar. Uma após outra, as gotas de sangue iam caindo sobre os primeiros índios ou Sanemá-Yanoama ainda frágeis pela mistura de água e onoto que tinham no sangue. Nas mulheres, as gotas produziam um efeito especial: entravam no seu ventre até enchê-las, mas ficavam tão pesadas que deviam expulsar pela vulva o excedente sanguíneo. Foi a partir daí que as mulheres ficaram com o período menstrual e se vêem obrigadas a repousar, sentadas no chão, durante três dias. Nos homens, as gotas tinham outro efeito: davam-lhes força e prolongavam a vida. Polipulibará não morreu, porque era uma bruxa, mas a seta cravada no seu umbigo fá-la sangrar constantemente, dando abundância de vida ao povo, aos fetos, aos frutos e aos animais. Condenada a este martírio, Polipulibará só tem três dias para ocultar-se na sua casa e fartar-se do sangue roubado a outros povos, mas jamais aos yonomanos. Durante esses três dias, os índios, na sua maioria, dormem juntos, fora dos seus acampamentos, pois preferem estar unidos para não cair de novo nas garras da Polipilibará que os espia do seu esconderijo. O sangue, para estes índios, é a essência da vida e o seu mais significativo símbolo. Por isso são tão encarniçados nos combates: porque devem derramar o sangue dos seus inimigos. Afirmam que, se não se guerreia, o sangue não corre e não haverá frutos.” (capítulo XI) SITUAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL VIVIDA NA VENEZUELA NOS ANOS 80 E 90 “No princípio da década de 80, a Venezuela entrou numa espiral inflacionária que fez perder dinheiro a muita gente, incluindo-me. Recordo-me que tínhamos estado a passar férias em Portugal e amigos empresários atentos às políticas internacionais vaticinavam que o melhor que eu podia fazer era vender tudo e partir para outro país, ou regressar a Portugal. Ofuscado pelo brilho da vivência do quotidiano naquele país, não fui capaz de prever o momento exacto e propício para partir, ou melhor, para partirmos. Quando se casa com uma mulher do país de acolhimento, sabemos que não será fácil, mesmo que necessário, para ela, um dia, abandonar o seu país, família e amigos, mas o casamento é isso mesmo, união: para onde um vai, o outro deve, se quiser, acompanhar. Assim, o tempo foi passando. De vez em quando, sondava a minha mulher no sentido de saber o que ela opinava sobre o facto de virmos viver para Portugal. Quase sempre a resposta era em tom depreciativo. A sociedade venezuelana via Portugal e os portugueses como um conjunto de seres humanos pobres, que subsistiam principalmente da agricultura, com pouca cultura, e que viviam na sua maioria no campo e entre montes. – O quê! Ir viver para Portugal, deixar a minha família e amigos, o meu país?! – Carinho, o certo é que o teu país está cada vez pior. Quando cá cheguei em 1977, o câmbio do dólar era de 4,50 Bolívares por Dólar e hoje está a 30 Bs.; dentro de pouco tempo não se vai poder viver aqui. – Veremos. Creio que aqui sempre será melhor do que no teu pobre país, Lima. E assim passou mais uma década. No final da década de 80, as coisas começaram a piorar. O nosso chalé que estava instalado numa urbanização fechada, situada numa encosta, começou a ser assaltado, devido aos muitos problemas sociais que aquela sociedade enfrentava. Os assaltos sucediam sempre e quando não estava ninguém em casa. Normalmente tínhamos empregada doméstica, mas se por alguma razão a empregada tinha de sair, alguém deveria ficar guardando a casa, porque se assim não fosse, o mais certo era ser assaltada. O problema era que na urbanização, a nossa vivenda era a última subindo a encosta, ficando retirada da casa mais próxima uns quinhentos metros; a partir do nosso chalé para cima, existiam terrenos urbanizados e prontos para neles se construírem mais vivendas. Supostamente, as pessoas que entravam no espaço da urbanização iam para esses terrenos, mas nem sempre era assim; muitas vezes, entravam para roubar. A primeira vez que nos roubaram, levaram as televisões, a aparelhagem de música, um órgão electrónico bastante bom, quadros pintados a óleo e roupas. Chamámos a polícia, mas eles nada puderam fazer; disseram-nos que deveríamos ter uma arma e que se alguém tentasse assaltar a casa connosco no interior, que atirássemos a matar sem medo, mesmo que eles, os ladrões, ainda estivessem na rua, porque depois de baleados, era só passá-los para o jardim e chamá-los a eles, polícias, que tudo ficava arrumado. Comprei uma Beretta de 9 milímetros, uma arma considerada de guerra em Portugal, mas não na Venezuela, e foi um dos próprios polícias que me vendeu a arma e bastantes munições. Passei muitas noites com a pistola debaixo da travesseira e quando sentia algum ruído estranho, saltava da cama já com a arma empunhada e pronta a disparar. A Venezuela, naquele fim de década, estava muito pior do que eu previra anos antes. O descontentamento social voltava-se para as classes com mais poder de compra, entre elas um grande número de emigrantes portugueses, quase todos empresários. Em Setembro de 1989, assaltaram-nos pela segunda vez. Nessa ocasião, encontrámos os ladrões ainda dentro de casa. Naquele dia, estávamos a chegar um pouco mais cedo que o habitual, porque eu estava sem carro. Cada dia da semana e de acordo com o último número da matrícula, não podiam circular os correspondentes veículos, entre as sete e as dezanove horas. No caso do Ford Sierra da minha mulher, não podia circular às segundas-feiras, o meu Jipe não podia circular naquele dia que era quarta-feira e tinha aproveitado para o levar muito cedo para a oficina, para a respectiva assistência mensal. Quando víamos já ao longe o chalé, disse à minha mulher que estava conduzindo: – Pára o automóvel! Está um carro estranho em frente da nossa casa. Ela parou a uma distância prudente. Eu saí da viatura e aproximei-me para observar o que se passava. Foi um erro, pois os ladrões tinham-nos visto a chegar e estavam à nossa espera. Logo que me aproximei do carro deles, vi no assento da parte de trás do automóvel várias das nossas coisas: computadores, roupa, electrodomésticos, etc. Virei-me para a minha esposa e gritei-lhe para que se afastasse, mas naquele momento saíram correndo três homens e uma mulher. Um deles, de arma em punho, apontou à cabeça do meu pequeno filho, que entretanto tinha saído do carro seguindo a mãe. O ladrão, enfrentando-me, disse-me para estar quieto, continuando a apontar a pistola. Imaginem o que se sofre num momento como este! Estão a roubar-nos e ainda nos dizem para estarmos quietos, garantindo a nossa imobilidade cobardemente, servindo-se de uma criança e de uma arma de fogo apontada à cabeça de um inocente. É claro que nada fiz enquanto a arma estava apontada. Logo os bandidos entraram no carro deles e no da minha mulher, que estupidamente o tinha deixado em funcionamento, e aí mesmo, dando a volta ao veículo, destruíram as traseiras do mesmo, embatendo, ao retroceder em alta velocidade, contra umas pedras. Tentei, no meio daquela confusão, agarrar uma pedra, para no mínimo partir o vidro da frente do carro da minha mulher e do deles, se possível. Seria uma forma de chamar a atenção da polícia de trânsito, mas não consegui a tempo a pedra ideal. Tudo se passava rapidamente; a minha esposa agarrou-se às traseiras do carro dela e foi levada a reboque e aos gritos. Eu tinha conseguido meter uma mão pela janela do lado do condutor do carro dos ladrões e tentava forçar o volante para que saíssem da estrada, mas como não tinha estabilidade nenhuma, pois o carro estava em andamento e um deles estava-me agredindo o braço, fui obrigado a desistir. Gritámos pedindo ajuda, mas ainda era muito cedo para os vizinhos terem chegado dos seus empregos, pois ninguém compareceu ao pedido de auxílio. Por sorte ou não, naquele dia, eu não tinha a pistola comigo. Ainda hoje me pergunto o que se teria passado se a tivesse ao meu alcance. Acredito que, provavelmente, tendo a possibilidade de disparar, o teria feito sem pensar, pois a raiva que nos invade quando nos sentimos roubados, é uma força que não nos permite razoar com equilíbrio. Naquela noite, disse à minha mulher que, com eles ou só, regressaria a Portugal e comecei a fazer os preparativos para essa viagem.” (capítulo XIII) PROPRIEDADES MEDICINAIS DE ALGUMAS PLANTAS E FRUTOS “No meu caso particular, quando tenho uma infecção urinária, começo por beber muitos líquidos, no mínimo uns três litros de água cada vinte e quatro horas, e tento que a drenagem da urina seja máxima. Os líquidos que bebo são o resultado de uma infusão proveniente de uma fruta de cor vermelha, “Vaccinium vitis-idea”, ou arándano vermelho em Castelhano. É um arbusto que não ultrapassa os quarenta centímetros de altura, as suas folhas pequenas são persistentes e de um verde-escuro. O fruto é um globo de sabor ácido que fica vermelho escarlate quando maduro por alturas do Outono. O arándano vermelho tem-se utilizado durante anos como remédio para prevenir infecções urinárias. Pensava-se que a sua acidez impedia a proliferação bacteriana, mas este mecanismo resultou por não ser o correcto. O arándano vermelho, conhecido em inglês por cranberry, segundo estudos recentes, protege as infecções urinárias por meio de um mecanismo que previne a adesão das bactérias ao trato urinário. Durante anos, o arándano vermelho utilizou-se como remédio tradicional para as infecções urinárias, ainda que se desconhecesse a forma como actuava. A hipótese mais divulgada era a de que a acidez do arándano vermelho impedia as bactérias (fundamentalmente a E. Coli) de se reproduzirem; contudo, investigações recentes revelaram que o mecanismo de protecção é outro. Segundo identificou a equipa de Amy Howell do centro Marucci de investigação em Blueberry da Universidade de Nova Jersey (Estados Unidos), um composto da citada fruta, as proancianidinas, impedem a bactéria E. Coli de aderir às células uroepiteliais, evitando a sua proliferação e que por fim infectem. Além de tudo, confirmaram que a fruta não impede a adesão de outras células, revelando uma acção muito específica. Os arándanos constituem um grupo de espécies nativas principalmente no hemisfério norte, que pertencem ao género Vaccinium da família das Ericáceas. Numa dieta baseada em 2000 calorias/dia, a composição nutricional do arándano vermelho numa porção de 142 gramas, representa, entre os seus componentes mais relevantes, o aporte de 1% de gorduras, 9% de carboidratos, 14% de fibra e 15% de vitamina C. Em síntese, é um excelente alimento, especial para dietas hiposódicas e hipocalóricas e com um grande nível de fibra e vitamina C, cujas virtudes são bem conhecidas. Ultimamente, no âmbito científico, publicita-se o arándano como um poderoso antioxidante, redutor do colesterol e protector de riscos cardiovasculares. É possível, se não se conseguir directamente o fruto, a aquisição de comprimidos de arándano vermelho. Estão à venda nas casas de medicina natural, ou nas farmácias espanholas. (capítulo III)
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