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ISBN | 972-95588-6-8 |
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Em Louvor de Viana e Outros Poemas
O livro divide-se em três partes.
A 1ª. Que lhe dá o nome, compõe-se de 19 quase-epifanias de “Viana do Minho” e da Costa Verde, da ponte metálica e das pombas de S. Domingos, da festa, da feira, do castelo e da fé dos pescadores… e mesmo quando a paixão do seu peregrinar o colocou longe da pátria, recorda, ainda assim, Viana, a “bela das mais belas”.
Na 2ª parte, a que chamou Outros poemas, encontramos 13 sonetos onde o autor nos fala sobre a aldeia, os costumes e as tradições (escultores, sardinheiras das Neves, o Monte de S. Silvestre, as sargaceiras, a terra e as danças, as alminhas) e sobre “os nossos poetas”: Diogo Bernardes, Agostinho da Cruz, Sebastião Pereira da Cunha, António Feijó, João Verde, João da Rocha, Alfredo Reguengo, Severino Costa, José Crespo, Pedro Homem de Melo, Francisco Pitta, Maria Manuela Couto Viana, António de Cardielos, Rosália de Castro, Carvcalho Calero, trovadores Minho-galaicos, entre outros.
Na última parte, no Apêndice poético-musical, incluiu textos, alguns musicados (hinos) de “homenagem a esses heróis do trabalhoque tanto amam a sua terra e toda esta região maravilhosa do Alto Minho”.
Prefácio
EXPLICAÇÃO BREVE
Ninguém ouse contestar-me as viagens turísticas que tenho realizado, mesmo as que dependeram de convites para congressos ou se acrescentaram aos dias por eles ocupados, seja nesses países seja noutros limítrofes ou próximos. É que decerto faltar-lhe-á razão suficiente para tal contestação. Este livro, por exemplo, provocou-o uma delas em que estava incluído o Peru, terra que gostaria de revisitar.
Efectivamente, foi numa das muito altas estâncias dos Andes, em Macchu Piccu que o guia, uma distinta universitária, nos falou da resolução que ali tomara Pablo Neruda, em 1943, de recompor em âmbito mais alargado uma obra que desde cinco anos antes o vinha ocupando; e finalmente publicou em 1950 como título de Canto Geral, reportando-se, então, não somente ao Chile, mas a toda a América.
Uma alusão destas, naquelas paragens andinas, fez-me, acabado o passeio e regressado ao ambiente de trabalho, voltar à sola, como se diz no Brasil, isto é, à leitura desse grosso volume que, pelos anos sessenta, adquirira em Paris; e há dias cotejei com a cuidadosa versão portuguesa de Albano Martins, lançada pela editora portuense Campo das Letras.
Aí se lêem, na ‘Apresentação’ do ilustre tradutor, estas lúcidas asserções de Neruda: «Não há material antipoético se se trata das nossas realidades. […] Os factos mais obscuros dos nossos povos devem ser erguidos à luz. As nossas plantas e as nossas flores […] Os nossos vulcões e os nossos rios […] sejam confiados ao mundo pelos nossos poetas».
Um livro, pois, que o acaso turístico motivou. De início confinado à cidade de Viana do Castelo e a pouco mais, estendeu-se à região, eventualmente para além do Neiva e Cávado, acabando até por atravessar a raia, sem dar por isso: terras e gentes, poetas e costumes, tradições e labores. Uma mão-cheia, obviamente incompleta, à espera de complementações. Não se encontrando a inspiração à venda nos mercados, torna-se impossível ajuntar, por compra atempada, temáticas, pessoas ou lugares, no intuito de colmatar brechas jamais intencionadas.
Algumas páginas trazem pequenas notas de traço sóbrio quando
tal se julgou conveniente para o esclarecimento mínimo, dispensável
contudo na generalidade dos casos.
Atendendo à data de certas composições ou à escolha delas, haverá talvez poemas nem sempre integráveis na mesma escola. A história da literatura alerta-nos que isso não constitui novidade nenhuma. Por outro lado, sabe-se que o cânone literário o caracterizam os conceitos de selectividade contingente e de abertura, como acentuam os Mestres das teorias concernentes.
Um conjunto reduzido de poesias aqui insertas não é inédito,
por ter vindo a lume inclusive no Roteiro de Viana. A maior parte,
porém, sai agora pela primeira vez.
É se uma ou outra terá sido de circunstância, eu permito-me, em
remate, perguntar, creio que com Goethe, se alguma haverá no mundo
que rigorosamente o não seja.
A.T
Excertos
As nossas Alminhas
Na nossa Casa, à estrada, no muro fronteiro
Há um nicho das Alminhas, de provecta idade.
Renovada a pintura e a pequenina grade,
Parece novo como já fora o primeiro.
Gente que passa deixa ali algum dinheiro,
Sendo bem clara a própria intencionalidade.
Povo do campo, sim, mas muito da cidade,
Irmanados na Fé, vivendo-a por inteiro.
De vez em quando, minha Mãe, chave na mão,
Lá ia abrir o cofre; e pequeno montão
Eu a via contar de notas e trocados.
Confraria das Almas isso arrecadava
E pelas intenções dos doadores mandava,
Como hoje, celebrar as Missas de finados.
— Em Novembro de 1975.
Sargaceiras
Como um leque chinês, da praia aquele braço
Fez suave aragem acalmar horas soalheiras.
De gadanho e pichel as moçoilas trigueiras
Reiniciam, na tarde, a apanha do sargaço.
Chapéus abados, anchas túnicas inteiras,
Sem mangas a estorvar a azáfama do engaço.
As marés vivas, ao baixarem, largo espaço
Tarjaram de algas para gáudio às sargaceiras.
A lida aquece. Sobre a areia há já recolhas
Em talhões contrastantes: coloridas folhas
Desde o rubro ao castanho, ao verde, ao branco, ao creme.
As cantigas esvoaçam no ar como gaivotas.
E outro tanto parecem as louçãs garotas
Nos adejos da faina, de alma inteira ao leme.
—Algures, na Costa Verde, em 1988.
Alfredo Reguengo (1909-1980)
Procurou ser correcto e lutar pelo ideal
Que em si acalentava, e lhe dava euforia,
De ver estabelecida uma democracia
Onde autocratas tinham posto primordial.
Nem sempre se entendeu a intervenção verbal
Ou pela escrita vária que A Aurora inseria.
E, tal como ao Aurélio, aconteceu-lhe um dia
Sofrer por sua dama a quem sempre foi leal.
Seu busto na Meadela, mais que justo erguê-lo.
E se é certo que em vida eu nunca pude vê-lo,
Conheci a sua pluma e admiro os seus poemas.
Deus o tenha em descanso, ao grande lutador,
Que, em súmula, pugnou por que um viver melhor
Fosse aquele que é digno e liberto de algemas.
Em 1995, a 15 anos da sua morte.
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