Excertos
DEDICATÓRIA
Inesquecíveis anos se passaram Correndo como potente cavalo Ao longo de extensa planície. Dois anjos nos ampararam, As estrelas nos iluminaram E inspiraram Neste vasto trilho, Carregado de surpresas e magia, De desilusões e incertezas. Uma mão terna e cheia de sabedoria Nos protegeu, acarinhou E nos deu ânimo Para prosseguirmos neste mundo Cheio de contrastes. E é com a maior ternura que entregamos este trabalho a quem nos deu a vida e a dá por nós, a quem canta quando tem vontade de chorar e a quem dá a força que tem para nos ajudar a vencer os obstáculos ao longo desta caminhada: os nossos pais – nossos mestres e nosso exemplo.
AGRADECIMENTOS
Trabalho de equipa, suores que correram em resultado de imagens interiores reflectidas num lago calmo e sereno onde não existe turbulência, mas apenas luzes cintilantes que acompanham e apoiam diariamente a evolução de uma juventude nem sempre pacífica. Não descurando a importância de todos os que nos incentivaram para que a nossa aposta tivesse corpo, inicialmente, os nossos agradecimentos dirigem-se aos nossos pais e familiares, que serviram de inspiração a vários textos e apenas souberam deste projecto quando, já transformado em realidade, surgiu um convite para passarmos juntos uma noite que especialmente lhes foi dedicada. Em seguida, mas sem ordem de preferência, demonstramos gratidão pelo esforço e sacrifício da nossa professora de Língua Portuguesa, Maria Humberto Bordalo Morais, a qual, desde o início, mostrou determinação e plena confiança em nós e nas nossas capacidades. Aqui fica também um profundo “Bem Haja” ao nosso querido amigo Escultor Armando Paula. Honraremos para sempre quem dispensou tanto tempo a dar vivacidade a algumas páginas de ESPELHOS DE ALGUÉM e agradecemos-lhe a coragem e o esforço reflectidos neste trabalho em que nos apoiou incessantemente, da primeira à última página. Guardaremos, em nossos corações, a imagem de quem tão vivamente nos cativou e permitiu que o sentíssemos tão próximo de nós. Jamais esqueceremos a mestria com que nos ensinou a transmitir para o papel as sensações gráficas que pretendíamos comunicar. E como não referir também o quanto ficamos sensibilizados com a incondicional confiança do Senhor Doutor Padre Miguel, Director do Colégio, que apoiou a nossa aspiração até ao fim, sem nunca deixar de acreditar e incentivar uma obra para nós tão desejada? Certamente que, se não o sentíssemos sempre ao nosso lado, ser-nos-ia muito mais difícil caminharmos com a segurança de que necessitámos. Também àqueles que não foram nomeados, mas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a resolução bem sucedida destes espelhos mágicos, o nosso obrigado.
Sois! Não sois! Sois… Bem, sois a árdua estaca de apoio De uma chama imatura Onde o sangue azul corre E separa o finito do infinito, Com a pureza de um melodioso sonido. Sois o mergulho de um golfinho Sobre o chilrear de um pardal. Sois o colorido arco-íris Que, ao se afogar no pranto e na dor, Nos olha e acena sorrindo. Sois um vale na montanha E uma nascente no meio do oceano. Não sois mais nem menos do que isso: Sois o reviver alcançado pelo adormecer. André Filipe de Lima Capão A melhor prenda é para ti, Mãe É um grande amor. É um amor do tamanho do mundo. Talvez isso seja a única prenda que lhe poderia dar. Embora eu saiba que, para retribuir tudo o que fez por mim desde a “primeira hora de vida”, seria necessário ficar na Terra biliões e biliões de anos. Eu, antes, pensava que a mamã era a minha melhor amiga; agora digo “amiga mãe” e, quando for velhinha, direi “ minha velhinha amiga”, “a minha companheira de horas escuras ao relento, de dias tristes passados sem ninguém”. Às vezes penso: “Hoje vou dar alguma coisinha à minha mãe, apenas porque quero que se sinta feliz”. Mas, quando me sento e reflicto convenientemente, chego a uma conclusão: “por que lhe vou dar uma prenda bonita, brilhante e que dá nas vistas, quando tenho amor e mais que amor de sobra para dar?” Porque a melhor prenda para ti é, sem dúvida, a minha vida, aquela que se renova a cada hora, a cada dia que passa, a cada instante em que digo e não me canso nunca de dizer: “És minha mãe. A minha grande prenda”. Ana Rita Pontes Geraz Caldas Pai, meu Anjo da Guarda Pai, teus olhos me embalavam ao som de uma canção, tão expressivos e tão belos, que eu adormecia e sonhava com eles, porque me transmitiam paz. Da tua boca, só saem palavras meigas, confortadoras, encorajadoras, que me dão força para vencer todas as batalhas e guerras da vida. A tua dedicação a mim é magnífica, porque fazes o que podes e o que não podes para me ver feliz. Pai, o teu sorriso é terno e afectuoso e o teu olhar é lindo e transmissor de paz e de segurança. A ti devo todo o meu respeito, porque o mereces, pai. Tu és o meu ídolo, a minha luz, a minha estrela. Entre poucos e insignificantes defeitos – que não são de salientar – , a tua alma é feita de ternura, o teu corpo de coragem e a tua vida de afectividade. Acho que todas as palavras do mundo não servem para exprimir o amor por ti. Maria João Ferreira de Matos Partilhar Não Te pedi Estrelas… Pedi-te somente Pão para comer. Não Te pedi Ouro, prata… Pedi-te Água para beber. Não Te pedi O teu fogo… Pedi-te um pouco De calor para me aquecer. Nunca Te pedi Riquezas sem fim… Pedi-te um lar Onde viver. Não Te pedi O sol brilhante… Pedi-te apenas Um sorriso verdadeiro. Nunca Te pedi O mundo… Pedi-te um pouco De amor. Somente pão, água, Calor, um lar, Um sorriso, muito amor, Te peço hoje, Amanhã e sempre. É fácil Viver pobre E miserável. Mas… Não é possível Nunca Viver Sem amor. André Carlos Fernandes de Sá de Araújo Ribeiro Maria, também és minha Mãe Maria, como ajudaste o teu Filho no Calvário e em todos os teus momentos de angústia, também me auxilias a mim, quando Te invoco. Maria, que és mãe de todos e ajudas todas as pessoas, Tu que subiste ao Céu em corpo e alma e que nasceste sem pecado original, tens o direito de ser Mãe de Jesus e Mãe de todos nós. Maria, Tu que és o exemplo da bondade e da ternura, nunca desamparas ninguém que a Ti recorre. Mãe, tudo Te pertence no Céu e na Terra: as Aves, os Peixes, os Animais do abismo e os das planícies… tudo é Teu, Senhora do Mundo! Maria, a seguir a Deus e a Jesus, és a pessoa a quem mais amo. No meu dia a dia, o Teu exemplo me guia. Recordo que, quando nasceu o Teu filho, não tinhas as coisas necessárias que uma Mãe precisa para lhe dar; mas, mesmo assim, continuavas alegre e com fé em Deus. Mãe do Céu, por tudo isto Te louvo e te agradeço. Samuel Lima Jácome Nove anos da minha vida Anos verdes, maduros, indiscretos, cheios todos eles de alegres tristezas imaturas. O desconhecido se erguia perante mim, o furor da descoberta, a chama da desconfiança. Andava eu na sala da inexperiência, mesmo ali, junto de uma imponente porta apelidada de “amarela”. Tudo era um jogo, brincadeiras… As letras não eram mais do que simples e duvidáveis pares unidos para explicar, exprimir e divertir. Assim se passou parte da minha infância, antes de passar para a sala 2: a sala da descoberta. Tudo era diferente, a vida começou a ganhar sabor, bastante azedo e adocicado, por sinal… A vida não era um mar de rosas, de jogos, de faltas; a responsabilidade crescia, a maturidade respondia. Seguiram-se dois indescritíveis anos, um misto curioso de um saber inexplicável, com uma paixão fortalecida e duvidável. Eram as salas do “grandes”, modelos e artesãos de tudo o que se passava. Clima semelhante pairava quando, naquela alegre e curiosa manhã, entrei finalmente no grande corredor, já em tempos desejado. Vários professores me esperavam; tudo era diferente, digamos que um pouco, no primeiro ano. De verdes tornaram-se rosados, ainda que não vermelhos, esses anos. O suco era mais forte, a pele mais rugosa. Hoje, à porta de uma nova etapa, me pergunto: “Serei eu um colosso? Não, apenas mais uma etapa daquela maratona chamada vida”… José Carlos Vegar Alves Velho Recordações É quase impossível ter recordações dos meus bisavós, porque o que sei resume-se a fotografias e é fruto dos contos mágicos que saíram da boca da minha avó. Mas, quando eu ainda não era quem sou, havia um padrinho da minha mãe que, embora já de certa idade, reagia como se tivesse forças para sempre acumuladas. Era ágil e desembaraçado, e era só ele que queria cuidar do jardim da nossa quinta: plantar, transplantar, semear as flores, regá-las e até cobri-las da neve gelada do Inverno. S alguém mexesse nas flores, ele, meio a brincar, meio a sério, proibia-nos de fazer tal coisa. Mas o resultado de tanto cuidado (que eu achava exagerado) via-se todos os dias. A terra do jardim não possuía um espaço para respirar, porque nem sequer havia terra à vista! Além do seu jardim garrido, ele tinha outro local preferido para passar as tardes quentes de Verão: debaixo de uma amendoeira. Quem o quisesse visitar aos Sábados e Domingos à tarde, depois do almoço, tinha de ir ter com ele. Era ali que eu estava ao colo dele, coberta de flores cor-de-rosa, que eu pensava que caíam do céu. Mas, um dia, os mimos acabaram e as flores morreram, a amendoeira deixou de dar fruto, o sol nunca mais brilhou e a tábua que servia de assento ficou como carvão e desfez-se. Foi o fim de uma vida alegre e colorida. Ana Rita Pontes Geraz Caldas Como tudo aconteceu Tudo isto aconteceu quando tudo era diferente, quando tudo acontecia de uma forma especial… Nesse tempo, vagueavam pela Terra todos os sentimentos, tais como o amor e a compreensão: eram eles que governavam e todos eram felizes. Não havia, nesse tempo, ódio ou rancor ou qualquer outro sentimento que nos roubasse a alma de uma forma cruel, deixando qualquer mente ansiosa de destruição; todos eles estavam ainda por descobrir, eram ainda ignorados, pois também a ingenuidade circulava pela Terra. Tudo era mágico. O amor nascia por vontade própria e não por imposição e qualquer ser a quem este sentimento tão rico batesse à porta tinha o privilégio de ganhar a felicidade eterna. Todos estavam ligados pela corrente da amizade que estendia os seus longos braços pelos quatro cantos do Mundo e a compreensão nascia em cada flor que desabrochasse. Tudo sem excepção era feliz e alegre, até que um dia aconteceu… Aconteceu sem saber bem como ou porquê, mas aconteceu! Os humanos revoltaram-se, então, contra tudo e todos e começaram a desenterrar aqueles sentimentos antes esquecidos e que agora ocupavam por completo as suas mentes. E foi assim! Tudo aconteceu sem uma insignificante explicação aparente. Apenas aconteceu! Por fim, quero apenas dizer que esta história é pura ficção, mas podia muito bem ter acontecido, pois não há explicações para o facto de existir tanto ódio no coração das pessoas, quando todos podíamos tão bem viver em paz. Esse ódio podia ser ignorado, assim como são ignorados aqueles que mais precisam de nós. Enfim, é um pequeno apelo que faço à tão vasta Humanidade. Não há nada a temer! Deixem o amor ocupar por completo os vossos corações e sejam, assim, de uma vez felizes! Inês Martins da Rocha Franco Impossível voltar atrás Era uma mulher cuja infância foi feliz e que agora foi condenada a trinta anos de prisão, por tráfico de drogas e de armas. Agora, com remorsos, chorava; chorava por não ter ouvido os pais e também se recordava da sua infância: quantos sonhos por água abaixo, quantos projectos feitos e que foram todos planeados para um futuro risonho e feliz – casar, ter filhos, um bom emprego… Também recordava que fora uma excelente aluna no quinto, sexto, sétimo, oitavo e nono ano e… quando chegou ao décimo, umas amigas fizeram-na estar onde está agora. Depois, lembrou-se também que, quando tinha doze anos, era bonita e que, quando fosse adulta, queria ser modelo. Vejam só no que foi dar, agora! Está toda suja, cabelo esguedelhado, três brincos em cada orelha, toda esborratada de chorar… Recordou-se que tinha um cão e que por amor ao seu clube de futebol lhe chamou “Porto”. Todos os Domingos, ela ia à pesca com o seu pai e uma vez pescou um peixe de 2,5 quilos. Os seus ídolos, naquela altura, eram Camões, Egas Moniz, leais portugueses que ela tentava imitar, fazendo versos. “- Recordações!… Ah!…, quem me dera voltar atrás, viver tudo outra vez, mas mudando o que estivesse errado, não tendo que estar nesta prisão sem poder ver nitidamente o Sol! Triste sina a minha!” Depois, caiu no sono e morreu recordando-se de tudo o que passou até àquele momento. Maria João Ferreira de Matos Facetas Todos nós, Demonstrando alegria ou tristeza, Escondemos e mostramos Facetas conhecidas e desconhecidas, Não surpreendendo e admirando Nossos amigos e inimigos, Estranhos e desconhecidos Com nossas atitudes normais e inesperadas, Dando a conhecer o nosso tímido e extrovertido eu. É assim o simples e complicado ser humano. Érica Rafaela da Cunha Lourenço Gonçalves A minha profissão – Estudante No meio de colegas, de mesas, de cadeiras, do giz, do quadro preto, da professora, dos livros, do Dicionário e das Enciclopédias, estou aqui a falar da minha “ingrata” profissão, se assim lhe quiserem chamar – a de ser estudante. Passeando num trilho bastante comprido, em que cada pedra representa uma disciplina, no fim desse destino encontramo-nos engenheiros, advogados, médicos, professores, pedreiros, arquitectos, agricultores, pescadores…, mas com o orgulho de sermos alguém na vida, úteis na sociedade, sem nos dispersarmos por aí com drogas que não conduzem a nenhum caminho ou levam-nos: ao da morte. Já na mais tenra idade tínhamos responsabilidades, deveres, preocupações, ainda mais agora em que cada vez o “nó” se aperta mais e sentimos que a viagem entre números e letras cada vez se torna mais difícil. É aqui, nesta profissão, que começam os nossos namoricos, as nossas inseguranças, os nossos medos, as nossas transformações, que escolhemos os nossos ídolos, os nossos amigos, as nossas músicas. Com um peso em cima das costas, que carregamos desde o primeiro segundo em que pisamos o primeiro degrau da Escola, ainda não sinto dores e quero continuar sempre com ele, mesmo que pese toneladas e toneladas, pois sei que sem esse peso – o da responsabilidade – não sobreviveremos. A vida é um desafio e ser estudante é um torneio, e quem se ganhamos somos alguém capaz de batalhar contra os gladiadores diários, que embora sendo grandes e fortes, são uma pluma para uma pessoa realizada e decidida. À minha maneira, ser estudante é ser assim: batalhador, responsável e um seguidor convicto de uma sociedade de paz e harmonia, neste nosso mundo azul e verde. Maria João Ferreira de Matos Quem somos nós? Cidadãos do Universo? O que somos nós neste imenso Universo? Somos pequenos grandes cidadãos com sentimentos, sensações, emoções… Somos uma voz que luta para que tudo corra bem. Somos uma estrela que tenta iluminar todo o Universo. O Universo é tudo e todos os que nos rodeiam, são os nossos pensamentos, é a nossa imaginação. Há cidadãos do Universo que sofrem, vivem na miséria, na guerra, e outros que vivem na riqueza, na opulência, no luxo. Seremos todos cidadãos iguais no Universo? Sim. Somos todos iguais, mas com grandes diferenças. Somos todos iguais, porque somos cidadãos do grandioso Universo; o que nos diferencia um dos outros é a religião, os costumes, as ideias… É bom sabermos que somos algo de muito importante para este imenso Universo. Helena Margarida de Oliveira Sameiro Miguel Os contrastes do mundo O azul escuro e claro Que embeleza o céu. A ave que voa alto e baixo Pelo meio das grandes e pequenas nuvens. O calor e o frio Que distinguem as estações. A luz que ilumina O nosso pequeno grande universo. O preto e o branco que nos vestem Conforme a alegria ou a tristeza. O amor e o ódio Que inundam os corações. A solidão e a companhia De todos os que nos rodeiam. A amizade e a indiferença Que aproximam ou afastam pessoas e animais. A beleza e a fealdade Que nos aproximam e nos separam. O bonito e o feio Das flores, dos objectos, de todas as coisas. Enfim, tudo o que nos cerca, Tudo transforma o meu ser Num universo glorioso. Helena Margarida de Oliveira Sameiro Miguel A mais bonita Tela Eis a minha vida: a vida de um cidadão que habita numa “tela” e percorre quilómetros de amor compartilhado com os seus e que, por cada pincelada que leva sobre si, abre um sorriso de uma criança. Vivo num Universo cheio de paz e decores infinitas que atravessam as estrelas. O meu Universo é uma paleta de pintor cheia de sequências artísticas e tintas coloridas que nos alagam a alma, até que navego por entre os peixes coloridos. No meu Universo, vivo uma vida de artista solitário que, através da pintura, descobre o seu “eu” e demonstra aos outros tudo o que sente: as suas alegrias, emoções… toda a panóplia de sentimentos, através de uns simples esboços. José Lopes Lima Coutinho Opções Conforme vamos crescendo, é como se chegássemos a um cruzamento e tivéssemos de escolher uma direcção. Há quem escolha a direcção acertada; mas há, também, alguém que se perde e não sabe por onde seguir. Temos que fazer escolhas durante toda a nossa vida e devemos ser cautelosos e optar pelo caminho que nos poderá levar mais longe. E quem se engana na escolha, quem vai por caminhos errados, será que tem a possibilidade de voltar atrás? Sim, mas são poucos aqueles que conseguem modificar a sua escolha, pois há caminhos sem retorno. Um desses caminhos é a droga, uma estrada com apenas um sentido: o de ida. Com tanta gente a tentar “desviar-nos” do nosso percurso, devemos ser bastante desconfiados e não dar ouvidos a certas pessoas que, por terem feito uma má escolha na vida e se sentirem mal por verem os outros felizes, nos queiram arrastar com elas para a “escuridão”. Devemos sempre procurar a “luz”, mesmo quando esta nos parece impossível de alcançar. Érica Rafaela Cunha Lourenço Gonçalves Mais do que uma inspiração Aventuro-me a um pouco de palavreado, sem saber o que falar. Que vida! Mandam-me falar… que fale! Para quê um trabalho marcado? Para quê um trabalho forçado! A escrita não tem horas; dias, muito menos. Tem segundos, quiçá alguns minutos. Tem uma força de vontade; eu diria mesmo, uma inspiração. Jamais teve professores pela frente! Nunca esteve dependente da frieza com que encaro a minha folha de avaliação. A escrever, soltamos a imaginação no caminho mais incerto da realidade. A escrita não se prende; é solta. Não se aprende. É tola, ébria e pura. É livre. Está nas nuvens se o céu é límpido, talvez no sol quando chuvisca. É uma criança de um mundo de adultos; uma letra num qualquer maior texto. Não é uma pétala que voa em função do vento; é o vento que faz voar a maior pétala. Uma pureza que abrasa qualquer corpo de solidão. Para escrever, há que saber ouvir a voz; aquela que nos guia sem nos apercebermos, aquela que está sempre no nosso alcance. André Filipe Lima Capão Amigo, encontro-te no silêncio O segredo da amizade é o silêncio. O silêncio na alma, o saber ouvir e guardar, para si só e só para si, tudo o que no pensamento voa. Silêncio, esse amigo inseparável que vive sempre dentro de nós e é a grande chave, perdida no Universo, para abrir os portões, por vezes enferrujados, da amizade. Ser como um pássaro, disponível para ouvir, só falar se quiser esvoaçar nos céus, atravessar oceanos. Confiar em si e em alguém mais que nos possa ajudar. Os amigos são para trazer num cantinho do coração, par poder ajudar, compreender, amparar nos momentos mais difíceis da vida; para procurar ouvir e saber interpretar a amizade existente. Ser amigo não é procurar benefícios, mas sim beneficiar o nosso amigo. Ouvir para si, ficar calado, falar de ternura – processos de amizade existentes em quem tem coração. Como as estrelas amigas da noite, andando sempre juntas, viajantes da noite que de lá de cima nos protegem, assim os nossos amigos são. São seres portadores da Amizade – sentimento que não se vende, que se conquista, que só existe quando há liberdade de expressão, quando o nosso amigo exprime opiniões divergentes das nossas e difíceis de aceitar e no nosso coração guardamo-las sem reclamar. Amigo, estás no meu coração. É aí que te encontro quando te procuro. Rita Jandira Gonçalves Verde Somos assim Na consciência, a resposta encontrei. Filmes passados, a verdade me contaram. A Geração Fantástica chegou!!! Geração rasca não somos. Aproveitamos a alegria da vida e a esperança; tudo o resto é fantasia, é calor passional. Somos aquela geração nova que não pára de lutar, que tem uma vida par vencer, uma batalha para travar, para mostrar às antigas gerações que águas passadas nunca moverão moinhos. Quantas vezes o mundo gira e rebola e nós, como mundo, rebolamos também. Nossos pais nos admiram no silêncio do seu coração, na profundeza do seu amor por nós. Quando a vida é grande, feitos gloriosos cometemos, o rumo da nossa vida escolhemos por um caminho errante, pelo qual caminhamos com luz própria e brilho sem igual. Somos diferentes, por vezes erramos com teimosia, mas são caprichos distantes que nos fazem viver a vida com alegria, com garras de viver. Os nossos estilos são diferentes, são próprios, como os jovens de hoje gostam; temos uma vida diferente da dos nossos pais; por isso, cabelos pintamos de cores berrantes, que quando “espicham” têm graça, para mostrarmos a diferença da nossa raça perante os olhares desaprovadores de uma geração já passada. Nossos pais com a vida nos confrontam, mas teria sido melhor, muito melhor, se tivessem antes descoberto a própria cor, o guache e o pincel, o rumo da vida que queriam pintar ao calor desta alegria que comove a nossa vida, que comove a vida do amanhã. As malhas cada vez são maiores, o que não evita, porém, que o caminho seja formado ou que um ponto seja dado sem o seu nó. Muitas vezes, um furo na camisola aparece; mesmo ficando sempre a marca, há sempre a emenda, há sempre outro rumo, outro caminho mais iluminado que o anterior, aquele que as suas marcas deixaram. Somos? Claro! Somos uma vida, somos uma geração que veio para ganhar. As derrotas não existem; só o amor, a alegria, a vida que temos para dar. Mariana Palmeira da Rocha Neves Outros que não eu Qual a razão de eu ver e não escutar o som de um olhar intenso, do agitar de umas ervas que dariam ao mundo o que eu procurava – rio azul transparente, malandro e sonolento, que descia por pedras cristalinas e que reflectia no céu as mais doces palavras que afirmavam que outros viriam me ajudar? Por fim, no infinito, eu recebi aquilo que há muito tempo me trazia o sorriso das minhas pestanas e isso se comparava com algo que jamais imaginei encontrar. Tudo era inesperado como o rugido do vento em que o sol fez despertar uma flor e de dentro dela saíram “outros que não eu”. Outros que me viriam ajudar nos momentos mais dolorosos de minha vida, nas horas difíceis que eu iria passar; vinham-me transmitir amizade, harmonia, solidariedade, amor, paciência e, sobretudo, coragem, entre outros e variados sentimentos. Certo dia, reflectiu-se a presença de outros seres em mim, ao longe, através de uma violenta rajada de vento, quando as folhas se desleixaram e apareceu escrita uma verdade com as mais puras letras, que me fez relembra que era um sinal enviado por Deus, para me revelar que a minha vida ia dar um voo, graças a outros que me apoiariam nos momentos mais desastrosos. João Borlido de Matos Dão sentido à nossa vida Desejos… O que são eles senão uma ténue e forte esperança, senão uma sincera e quente ilusão? Sim, o que são eles senão um rio tortuoso e cristalino que desagua lá nos confins do mundo, nas portas do Paraíso? O que são eles senão uma utopia, um sonho por uma vida melhor, a reencarnação das esperanças e ilusões? Bom, seja como for, todos nós vivemos disso: do sonho, do utópico, da perfeição nunca alcançada… da liberdade de pensamento, do amor ou mesmo de um perfume irresistível que nos faz viver… Quando são uma paisagem alucinante, no pico de uma montanha cujo cume contrasta com o céu enegrecido e distante, são praticamente impossíveis de alcançar. Os persistentes, sim, esses, por vezes, alcançam-nos, mas vivem de ilusões, de uma esperança impossível. Não digo que não tenho desejos nem esperanças, mas caio na realidade: é um fruto proibido, uma verdade distante e arrependida. José Carlos Vegar Alves Velho Correr Ao amanhecer, Sobre as margaridas e o orvalho, Respiro ofegante. Sobre as pedras, as ervas, Os riachos, as folhas, Eu corro. Tento alcançar a luz, o passado… Tento ser rápida como um cavalo De crinas ao vento, Saltando socalcos. Paro, descanso. Respiro, bebo água. Oh!, se pudesse, Encarnava num tigre, Numa chita. Para ter velocidade Para atingir a meta, A vitória. Susana Gonçalves Garrido de Lima Martins Descobrir É parar, Servir os que nos ajudam, Elogiar, Cumprimentar Os que precisam dum amigo; Desvendar A tristeza dos que nos rodeiam Até ao último suspiro. Imaginar, Sonhar, Viver Sem ter medo de aventuras. Ir sempre em frente, À procura da felicidade, Até a encontrar. Juliana Margarida Matos do Rego e Sá Coutinho Ser poeta Ser poeta É ser único. É ver o invisível, É discutir o indiscutível, É viver o invivível. Ser poeta É ver na escuridão. É alumiar com a candeia Em noites de lua cheia. Viver e falar, Correr, saltar, nadar Com poesia É ser poeta. Poeta homem Poeta pessoa, Poeta ser maravilhoso Poeta coisa boa. Homem das mil caras, Pessoa dos mil corações Que trabalha Mas não com canhões. Mas o que o mundo não sabe, É que para o ver feliz, Precisa de o acarinhar E entender o que todo o verso diz. João Tiago Bompastor Ferreira Como dizer o amor? Impossível dizer o Amor de uma forma simples e concreta. O Amor é uma sensação forte, é um sentimento agradável. É uma vontade incessante de querermos amar o próximo. É um saber utópico, uma realidade abstracta que nos põe a pensar, que nos faz sonhar. Amar é percorrer um caminho a dois, passo a passo, as diferenças não separam; enriquecem, porque respeitamos e desejamos a liberdade e a diferença do outro. O Amor é invisível, não se vê, mas sente-se profundamente, quando nos toca o coração. Os sentimentos afectivos carecem de uma expressão exterior. Quanto mais profunda for a relação existente entre duas pessoas, tanto mais íntimos serão os gestos utilizados para exprimir esses sentimentos que os unem. Como dizer o Amor? Não sei. Exprimi-lo é complicado; senti-lo é difícil. Por vezes, esse amor pode ser sofrimento, quando nunca se espera; mas sempre se alcança o fim, esse fim que nos faz reflectir no passado e nesse Amor belo e radiante como um sol ao acordar numa fresca manhã, a brilhar no orvalho contido nas folhas que brotam do chão. Pedro Gil Pinheiro Coutinho de Almeida O sono O sono abria-me os olhos em sonhos. Tão frios eram os sonhos, Aqueles que me apareciam na consciência. Era a antítese de uma vida, A alegria de uma triste realidade. O sono!… Ele alivia-nos dos dóceis ferimentos Dos galhos espinhosos da realidade. Descai-nos na imaginação Como o vento Que corre levemente Pelas folhas do jardim. Tão lindo é o silêncio Que nos deixa ouvir o sono! Pedro Nuno Feio Ferreira Alma Vemos o mar… Encontramos a nossa alma Naquela imensidão de azul. Com os olhos postos no fundo, Encontramos O Risco da nossa vida. José Lopes Lima Coutinho Sentir Reduzir a vida a uma palavra. Por que não sentir? Sentir é viver. Se não se sente, mais vale morrer. Não adianta fingir; Não conseguimos seguir. Mas, ao voltar a sentir, Dor ou alegria, Logo, como que por magia, Sentimo-nos reviver, Com vontade de continuar, Sem nada a perder, Sem nada a recear. Érica Rafaela Cunha Lourenço Gonçalves
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