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Excelsior

Nos dezassete poemas da obra «Excelcior» se podem encontrar duas grandes linhas temáticas, ou seja, o sonho e com ele o belo da existência e por outro lado a dura e penosa realidade de que a vida se reveste.

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Conheça o autor

"Porfírio Pereira da Silva nasceu na freguesia de Mazarefes, concelho de Viana do Castelo, no dia 26 de Novembro de 1956. Partiu para Angola com apenas três anos, tendo regressado quando completou 14 anos. Frequentou o primeiro ciclo na vila de Maquela do Zombo (Uíge), prosseguindo estudos em Silva Porto (Bié) -o actual 5º ano do ensino básico - e no Colégio do Negage (Uíge) - o 6º ano do mesmo ciclo. Regressado a Portugal, em Outubro de 1971, completou o Curso Geral de Mecânica na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo. Desempenhou a função de técnico fabril nos Estaleiros de Viana do Castelo. Hoje é funcionário da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, colaborando em diversos jornais regionais."
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972-8195-82-6

Prefácio:

Ilustração

Prefácio

Já rodaram uns bons trinta anos sobre o dia em que, num hotel de Lisboa, tive a grata surpresa de me encontrar, à hora em que o restaurante se iluminava, com o poeta Vinicius de morais, inspirado jobral brasileiro trotamundos e uma simpatia de conviva.

Conversou-se bastante acerca da vida cultural de aquém e além Atlântico. E lembra-me que o remate do repasto, prolongado mais que o habitual, embelezou-o um poema seu que eu lhe recitei por inteiro com algum calor, mas sem incomodar a vizinhança. Agradeceu e despedimo-nos, porque na manhã seguinte já estaríamos ambos de abalada.

Ora a dedicatória de Excelcior, que os olhos logo apreenderam, evocou-me imediatamente esta cena e este encontro que, tal como O operário em construção e outros poemas aqui citado, hoje se me reavivam em nostalgia e saudade, afinal sentimentos que curiosamente ressaltam, a uma hermenêutica atenta e menos estugada, da leitura das duas dezenas de composições deste livro de Porfírio Pereira da Silva.

Escreveu Ortega e Gasset que a metáfora é “a potência mais fertil de abordagem do real que o homem possui” cuja “eficiência chega a tocar os confins da taumaturgia”sempre que se objectiva em acção criadora ou recriadora.

Naturalmente que haverá tantos graus de metamorfismo quantos os níveis de eficiência taumatúrgica, na acepção orteguiana, e vice-versa. mas o que me parece é que , ao cabo de não muito esforço interpretativo, se descobre nos poemas de Excelcior um veledo esconde-esconde com a repensada metáfora de uma visão-recriação do mundo através de dois polos constantes: o da idealidade sonhada e bela, e o da realidade amarga e circundante. Neste espaço intermédio, vagueia o poeta o seu pessimismo ritmicamente sincopado, que uma saudade nostálgica torna mais detectável, embora exteriormente disfarçado quanto baste.

O acre da paisagem, a luz efémera, a lua como tela pintada de negro, as sementes lançadas às urtigas, a eterna quimera, os rios de costas voltadas aos ecologistas, a pradaria feita cemitério de cabeças de búfalos, os detonantes polvilhando a terra, as gaivotas amortalhadas, os vendilhões do templo, o homem desmoronado, os sorrisos falsos, os anjos de asas cortadas, a vida adormecida, os negros e tristes regaços, o espinho cravado na garganta, o poeta e a sua cantata de agouro- eis um complexo lexical em que eu devia, de contínuo, ter usado aspas, visto que extraído de textos.

Há, porém, ainda a revelar os esparsos elementos-signos de intuito artisticamente interventivo numa sociedade de que o poeta se entremostra desajustado: a falsa paz, os répteis perdendo as peles em benefício dos predadores, o milhafre de papo cheio e por isso desinteressado das sementeiras, o povo na expectiva de milagres que não merece, os ninhos de cucos, os banhistas repletos de futilidades e de ignorância supina; e, longe das praias do “far niente”, os auditórios e colóquios de palavras vás.

Face a este desencanto, não passa despercebida a insistência em determinados lexemas como voo, andorinhas, reino, sonhos, colinas, primavera; ou outros de ocorrência menor, mas porventura não menos significativa, entre os quais garças,asas,arco,flecha, condor, que “a voz solitária e incompreendida do poeta” lança aos quatro ventos, no anseio de diminuir a distância entre o ser que observa e o querer que o move e gostaria de ver realizado onticamente naquele.

Disse Valéry que “os optimistas escrevem mal”.Se não se tratasse de alguém com anterior prática literária e, além disso, director-fundador de um jornal que se chama Foz do Lima, a asserção do vate francês era bom motivo para que a escrita poética se recomendasse, dada a sua colaboração bastante pendente para o outro lado. E digo “bastante” porque, na verdade, tal coloração não é sinónimo de desalento ou cruzar de braços, mas antes de incitamento à reacção contrária, isto é, a uma atitude excelsior, como o título deixa adivinhar.

Poesia sentida e vivida, este quinto volume de poemas de Porfírio Vieira da Silva, confirmando por um lado qualidades que obras precedentes evidenciaram, desvela-nos por outro lado a consciência de quem felizmente sabe que o artista, para o ser de facto, tem de ser também, sempre e essencialmente, um “operário em construção”, na acomodada expressão de Vinícius de Morais.

Amadeu Torres (Castro Gil)

Outros

Contra capa

Nascido há quarenta anos, em Viana do castelo, fez parte (durante onze anos) de uma paisagem tropical (Angola), em simbiose com as suas gentes e, com elas, subiu às mangueiras, aos cajueiros, aos abacateiros; viu as gentes pilar a mandioca, colher o café e chorar cantando, ao som do batuque. Um percurso, afinal, que deixou raízes profundas que, não raras vezes, brotam em manuscrito ou letra de forma, maneira outra (ainda que imperfeita) de cantar as maravilhas da natureza. E de (re)lembrá-ças. Comovidamente. num assomo de saudade!…

De regresso ao rincão natal (“obrigado” por um diploma) foi metalúrgico naval durante vinte e um anos, até que,por obra de uma insatisfação íntima, com as parcas bagagens dao labor de uma vida, tomou lugar no “barco”da cultura,ainda que não se canse de repetir que”Sei que sou inculto, mas colecciono cultura!”, maneira outra de dizer que cada homem é dependenteda porção da cultura de todos os outros homens.

Hoje, é funcionário da Biblioteca Municipal de Viana do Castelopor opção (e sem obrigação); director e proprietário do jornal FOZ DO LIMA- Mensário de Opinião/Arte e Cultura e poeta por “cósmica” tendência.

Sabe ser vianense (e por isso pesquisa passados e espelha presentes), mas reconhece-se para lá das fronteiras estreitas e projecta-se em horizontes distantes.

Fernando Melim (Escritor e Jornalista)

Excertos

FIM DE ESTAÇÃO

Andorinhas no reino de gaivotas,
voo picado sobre banhistas
anunciam o fim de estação;
alada, pelo homem desmoronado,
triste e sem razão.

PROJECCÃO

Sensação de leveza,
projecção no espaço…
amontoar de livros,
escolhidos e recolhidos,
levam a certeza
da consciência,
no regresso.

DESCOBRIR

Descobrir…
Descobrir sempre
a essência da vida,
renunciando as barreiras
à autodeterminação…
Consciência livre,
sem vendas, correntes,
ou algemas,
aumenta a mutação
dos voos
em tempo de Primavera,
eterna quimera
da floração,
trilogia do amor,
para de novo renascer.
Descobrir…
Descobrir sempre
o equilíbrio da mente
em voos picados, para lá das cavernas
escuras,
onde a luz,
apesar de efémera,
reproduz “inteligência”
e essência da vida,
ora adormecida.

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