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Existências

É uma obra que,segundo o prefaciador,”partindo de circunstâncias concretas, o autor leva-nos, pela mão da palavra fácil e precisa, partindo do seu subconsciente, até à manifestação do consciente colectivo, o espaço do esquecimento onde depositamos os outros, a relação não querida com os demais, as questões e os problemas para os quais deveremos buscar soluções e de que sempre fugimos.”

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Conheça o autor

"Porfírio Pereira da Silva nasceu na freguesia de Mazarefes, concelho de Viana do Castelo, no dia 26 de Novembro de 1956. Partiu para Angola com apenas três anos, tendo regressado quando completou 14 anos. Frequentou o primeiro ciclo na vila de Maquela do Zombo (Uíge), prosseguindo estudos em Silva Porto (Bié) -o actual 5º ano do ensino básico - e no Colégio do Negage (Uíge) - o 6º ano do mesmo ciclo. Regressado a Portugal, em Outubro de 1971, completou o Curso Geral de Mecânica na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo. Desempenhou a função de técnico fabril nos Estaleiros de Viana do Castelo. Hoje é funcionário da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, colaborando em diversos jornais regionais."
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Prefácio

Qualquer livro sobre viagens desperta em nós a curiosidade porque a sua leitura é uma oportunidade para acompanhar o autor pelos locais visitados. Evidentemente que viajar pelo subconsciente será uma proposta aliciante.

Este é o desafio que Porfírio Pereira da Silva nos apresenta no seu novo livro Existências – Viagens do Subconsciente que agora aparece.

O subconsciente é o que somos escondidos, o espaço da arrumação do que não queremos ser. É o espaço do repouso, do silêncio, da avestruz que também somos e nos permite estar com tranquilidade na afirmação do eu. E porque é o espaço da arrumação do que não se quer, as coisas ficam aí em desordem porque a desordem é a sua natureza e, por isso, nunca lá penetramos, a menos que haja necessidade de trazer alguma coisa para se manifestar. E no que somos de ordem dificilmente aparece a desordem que também somos e que nos identifica. O eu que forçamos ser a par de rejeições atiradas para um não-eu que pretendemos colocar lateralmente, desiderato permanente para a afirmação de uma personalidade que se pretende controlada, bem moldada, resplandecente aos outros.

Por isso, o que somos é não só o que de nós aparece mas também o que se esconde, as circunstâncias em que estamos e as de fuga. Ao fim e ao cabo, nós somos a resultante de todas as fugas que de nós fazemos, arrumações diversas atiradas para o subconsciente, deixando apenas aquilo que queremos que seja manifestado. A verdadeira identidade de cada um é o que é e o que não deixa ser, a tensão permanente entre a manifestação e o seu desejo. O eu é a ordem e a desordem que trazemos e a consciência disso, atingido em pleno quando fazemos viagens à desarrumação para buscarmos outras coisas que também somos.

É isto o que Porfírio nos mostra nesta obra.

Poeta por natureza, a atenção às coisas, aos outros e a si permite-lhe fazer uma fácil viagem a esse espaço que todos somos, mas que nem sempre temos a coragem ou o saber para lá chegar. Porque não é fácil aceitar sermos a rejeição consciente de nós. É necessário ser-se consciente, isto é, ter a evidência da identidade do eu, que por sê-lo, é absoluto e totalidade. Só a alienação nos coloca fora de nós e o autor pretende isso mesmo demonstrar neste livro.

Não se trata de um estudo de psicanálise. É antes a consciência dessa psicanálise. É a consciência da evidência, da totalidade do eu, afirmação da identidade.

Partindo de circunstâncias concretas, o autor leva-nos, pela mão da palavra fácil e precisa, partindo do seu subconsciente, até à manifestação do subconsciente colectivo, o espaço do esquecimento onde depositamos os outros, a relação não querida com os demais, as questões e os problemas para os quais devemos buscar soluções e de que sempre fugimos.

É o real, o absoluto que brota em cada texto e em cada página sente-se o ruído do mundo, eu e os outros e a conexão de ligações intersubjectivas tranquilamente adiadas para se viver no sossego sedativo de quem não tem coragem para enfrentar. O apelo à sua interioridade, numa confusão do sonho com a realidade, vai provocando no leitor a consciência da sua inconsciência, desenhando o drama da inconsistência do sujeito-em-situação, valendo-se, por vezes, de consciências reveladas, conduzindo-nos ao grito, à descompressão, forma mutilada de tomar consciência desta identidade que somos e que dificilmente colocamos frente a nós.

Confusão aparente entre o sonho e a realidade. Porque os sonhos nada mais são que a realidade do outro lado, posta à margem, desinteressante para o eu. E é necessário caminhar para o outro lado para que este em que estamos habitualmente seja melhor. “Que bom seria que os arquitectos das bases sólidas, quando pensassem alterar a linha do horizonte, não o fizessem de terra para terra, mas de mar para terra”.

As palavras desta obra colocam-nos como se estivéssemos a barbear-nos, a fazer a maquilhagem. Ficamos atentos a nós e tomamos precauções para não nos desfigurarmos. Por vezes há o risco de nos magoarmos e se a incisão chega a acontecer,ou fugimos a tempo para a inconsciência ou se destrói a anamnese a que o inconsciente nos levou. Em qualquer caso, respiramos fundo quando terminamos a leitura e perante nós, nós mesmos nos afrontamos.

É assim este livro de Porfírio Silva. Prenhe de sentidos, de apelos e de propostas. É uma provocação constante de múltiplas interrogações, é um agradável desassossego interior permanente até ao encontro de qualquer coisa de nós que não se pode negar. Leva-nos o autor até ao limite e aí nos deixa ficar para decidirmos. “Atravessei a cortina de neblina e faço o resto do percurso montado num elefante. Este percurso era íngreme e terminava numa outra cortina, mas de fumo. No ar pairava o cheiro a incenso. Não me lembro de mais nada!”

O resto pertence ao leitor. E cada leitura é sempre um pretexto para evocar

Agostinho Pereira

Outros

Contra capa

O poeta voa em círculos sobre os espaços em que vive, põe em causa a sua ordem. Como não gosta do que vê, avança corajoso, embora com alguns medos, para dar àq sociedade outro sentido mais justo e equilibrado. Aliás, a escolha da palavra “Excelsior”, para intitular o seu livro, diz-nos quase tudo. Excelsior vem de excelso, que significa “muito alto, ilustre, sublime, magnificente”.

Ele não canta o seu sentir, o amor por alguém, a sua visão única de procura de felicidade.

O poeta tem um sentir “político”, não se sente feliz sendo feliz sozinho. Não é egoísta, egocêntrico, como quase todos os poetas, ele canta o sonho de um melhor para todos.

Sem “fronteiras, barreiras, fasquias”, vocábulos que utiliza.

Em relação a outra poesia que conheço do Porfírio, desta vez o poeta deixou Viana e rompeu horizontes…

Fina d’ Armada

(Poetisa e escritora)

Excertos

Apesar da vida agitada que levo e das motivações que se me deparam para o materialismo, não consigo desprender-me do meu espírito rebelde às leis da sociedade e às teias desse mesmo materialismo.Geneticamente pareço estar preparado para seguir um trilho diferente do comum, obrigando-me a um confronto constante de ideias com a sociedade, da qual faço parte.
O que me impressiona ainda mais é o facto de que, quando se establece esse confronto de ideias,sonho sempre com a posição de padre pregador e nunca de cidadão comum, bem falante.
Numa dessas noites, desprendi-me da minha condição presente e assumi a liderança de uma comunidade de contornos indefinidos, face à indefinição dos próprios rostos dos paroquianos.Era padre! Disso não tinha a menor dúvida. A meio da noite, acordei e desci ao escritório para registar algumas das palavras que proferia, dada a expectativa dos que me ouviam: “Aquilo que penso, digo e escrevo, nada vale, dado o envólucro não se moldar ao protótipo dos outros … precisava de renascer corporalmente, para que aquilo que penso , digo e escrevo tivesse valor, apesar do espírito ser o mesmo.Vivo num mundo em que as moedas têm valor pelo brilho, mesmo quando não passam de patacos.”
Voltei para a cama e, naquela noite, não consegui adormecer mais!

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