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Lopes – Uma Família de Artistas em Portugal e na Galiza

A obra é uma separata, desta feita da “Revista de Guimarães”, número XCVI, datada de 1986. Após a introdução, o autor detém-se sobretudo em cinco elementos de uma família de artistas – os Lopes – durante os séculos XVI e XVII (mestres canteiros que trabalharam sobretudo o granito): João Lopes-o-Velho, João Lopes-o-Moço, Gonçalo Lopes, Mateus Lopes, João Lopes de Amorim e Pedro Afonso. Faz-se ainda menção a outros membros da família; no entanto, estes não alcançaram a notoriedade dos anteriores: Bastião Afonso; Manuel e Baltasar Lopes.

Sobre cada mestre canteiro são fornecidos alguns dados biográficos e profissionais, com relevância para as obras em que colaboraram e para aquelas cujo traçado é de sua autoria.

O estudo possui ainda uma conclusão, um mapa em que se encontram assinaladas as localidades onde os mestres Lopes deixaram obra, a bibliografia consultada e quinze imagens de obras que patenteiam o cunho dos mesmos.

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Conheça o autor

"António Matos Reis nasceu nos arredores de Ponte de Lima, em 21 de Abril de 1943, e reside e trabalhou em Viana do Castelo, desde 1975 até à data de aposentação. É mestre em História pela Universidade do Minho, apresentando uma dissertação em História Medieval, posteriromente publicada em 1991, com o título "Origem dos Municípios Portugueses". Tal obra veio a tornar-se uma referência obrigatória para quantos se debruçam sobre a história do municipalismo em Portugal. Obteve o doutoramento, em 2004 com a defesa de tese sobre "Os Concelhos na primeira dinastia". Especializou-se em Museologia, na U.I.A. de Florença, em 1977, e pós-graduou-se em Estudos Especiais de História e Crítica de Arte, na mesma Universidade, em 1984. A sua actividade profissional repartiu-se até à data de aposentação, entre o ensino secundário oficial (1966 - 1999) e a direcção do Museu Municipal de Viana do Castelo (1989 - 2006). Neste museu exerceu o cargo de Conservador. Foi também Director do Departamento de Desenvolvimento Económico, Social e Cultural da Câmara Municipal de Viana do Castelo, desde 10 de Maio de 1990 até 31 de Dezembro de 1993. Tem exercido funções de direcção em várias associações: Vice-Presidente e depois Presidente da Direcção do Centro de Estudos Regionais; Secretário-geral e depois Vice-Presidente do Instituto Cultural Galaico‑Minhoto; sócio fundador e membro da Comissão Instaladora do Instituto Limiano - Museu dos Terceiros; sócio fundador, membro da comissão instaladora e Presidente da Direcção da Associação de Jornalis­tas e Homens de Letras do Alto Minho. É membro de várias associações, entre as quais se destacam: a Sociedade Portuguesa de Estudos Medie­vais; a Sociedade de Museologia, de Florença; o ICOM (International Council of Museums); a APOM (Associação Portuguesa de Museologia); a ASPA; a APH; a APAC. Foi Presidente da Comissão Organizadora das IV Jornadas Regionais sobre Monumentos Histórico‑Militares (Valença, 1984); membro da Comissão Organizadora do Congresso sobre a Ordem de Cister em Espanha e Portugal (Ourense, 1992) e da Comissão Organizadora do V.º e do VI.º Colóquios Galaico-Minhotos (Braga, 1994; Ourense, 1996). Reorganizou o Arquivo Histórico da Misericórdia de Ponte de Lima, e promoveu a publicação do respectivo catálogo. Em 1995, fez o levantamento do Património Cultural, situado entre Caminha e Esmoriz, para o Plano de Ordenamento da Orla Costeira. É autor de cerca de centena e meia de títulos, entre livros, estudos e artigos publicados em diversas revistas. Proferiu já várias conferências, em congressos e colóquios, em Portugal e no estrangeiro. Por deliberação unânime de 27 de Janeiro de 1997, a Câmara de Ponte de Lima atribuiu-lhe a "Medalha de mérito cultural" que lhe foi entregue no dia 4 de Março do mesmo ano, na sessão solene comemorativa da fundação da vila."
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Prefácio

João Lopes, chamado também João Lopes-o-Velho para o distinguir dos homónimos seus descendentes, é o primeiro de uma família de artistas, cujos membros se manteriam activos durante pelo menos século e meio, realizando importantes obras no norte de Portugal e na Galiza.

A João Lopes-o-Velho seguiram-se João Lopes-o-Moço, cuja actividade se desenrolou fundamentalmente nas margens do Lima; Gonçalo Lopes que trabalhou sobretudo na região de Guimarães; Mateus Lopes que deixou marcas do seu génio na Galiza e na província do Minho.

Na geração seguinte evidenciar-se-iam João Lopes de Amorim e Pero Afonso Lopes, chamado Pero Afonso de Amorim, acompanhados mais à distância por outros como Baltasar e Manuel Lopes.

Nestas páginas houve a preocupação de reconstituir, ainda que de forma sumária, a actividade destes mestres, de forma a contribuir para uma melhor compreensão da evolução artística, designadamente da arquitectura, durante o século XVI, no extremo norte de Portugal e na Galiza.

Excertos

CONCLUSÃO

“Esta síntese é o resultado de um trabalho de pesquisa iniciado há doze anos, diversas vezes interrompido, por longos períodos, e depois retomado. Corresponde a um esforço de identificação segura das obras executadas por uma singular dinastia de mestres canteiros do noroeste peninsular, no século XVI e início do século XVII. Utilizaram-se elementos colhidos directamente em arquivo ou hauridos em obras baseadas em explícitas e incontroversas informações documentais.

Pode agora iniciar-se a análise dos processos de organização do espaço e do vocabulário ornamental deste núcleo de obras provinciais e de outras afins, assim como da evolução de tais linguagens estéticas. Este trabalho não se apresenta, pois, como ponto de chegada de um caminho, para além do qual não fossem viáveis ulteriores percursos, mas pretende ser um humilde ponto de partida para estudos mais eruditos e profundos.

É suficiente, porém, para aferir do insubstituível papel que no panorama da arte peninsular, e, em especial, da arte portuguesa, cabe a uma família de obreiros que se mantém activa, e em primeiro plano, por mais de uma geração. os Lopes fizeram carreira, em geral percorrendo todos os degraus da hierarquia profissional: aprendizes, ajudantes, oficiais, mestres, e, nesta qualidade tanto forneciam o risco como executavam, de modo que é legítimo dizer que, mais do que ninguém, conheciam até ao âmago a sua arte e desta não ignoravam nenhum dos segredos.

Na sua formação contactaram com os artistas mais evoluídos da época, desde a matriz de Caminha ao convento de Avé-Maria, desde os Jerónimos, passando por Coimbra, à serra do Pilar e a Santiago de Compostela. Observa-se que estão atentos às modificações do gosto que se vão operando, assimilando aquelas que a sua formação e experiência ajudavam a considerar positivas. Parece que estiveram de um modo especial atentos à obra dos mestres italianos ou de formação italiana que actuaram em Portugal no mesmo período. A insufismável preocupação de rigor luminoso e de harmoniosa sobriedade correspondiam, aliás, à própria matéria que lhes era dado trabalhar e que sem dúvida contribuiu para dar um carácter próprio e inconfundível à obra dos canteiros do noroeste peninsular da era de quinhentos: o granito, matéria algo ingrata porque dura de laborar e não compatível com grandes minúcias ou delicadezas, mas por outro lado dotada de uma robustez, uma energia e uma austeridade bem aptas à realização de obras másculas e perenes.

Não será possível entender a serenidade dos claustros conventuais da região, nem a sóbria arquitectura de bom número de templos e a ática beleza de muitos solares nobre disseminados pelo mundo rural, nos séculos XVII e XVIII, sem a tradição dos grandes mestres canteiros, num contexto onde as tardias irrupções do barroco e do rocaille, constituindo uma excepção, apenas realçam, pelo contraste, o alto nível da tradição clássica, na mesma tentativa de responder com energia aos desafios da matéria plástica utilizada, o granito. E não obstante é ainda da mesma rocha que se tornearam e rendilharam esses empolgantes e delicados poemas de granito que cedem movimento e serena alegria aos claustros dos mosteiros e às mais garbosas praças das povoações principais, com a sua marca ornamental, e com a música e frescura da água límpida a jorrar de taça em taça: os chafarizes.”

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