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No Limiar da Quarta Geração

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Conheça o autor

"Nasceu em Viana do Castelo em 1933. Frquentou o Colégio de S. José e concluiu os estudos secundários no Liceu de Viana. Terminado o curso do Magistério Primário em Braga, exerceu a docência de 1952 até 1986. Durante esse percurso profissional, exerceu o cargo de adjunta do delegado escolar de 1974 até 1981 e fez parte da equipa do ensino especial, como transcritora de Braille. Iniciou a sua actividade literária em A Escola Remoçada, jornal da Escola do Magistério Primário de Braga. colaborando, posteriormente, com outros jornais regionais, de entre os quais se destaca A Aurora do Lima. Tendo passado a sua infância e adolescência paredes meias com o Orfanato e Oficina de S. José, Sara Tiago pôde viver o processo de incompreensível abandono e total colapso dessa grande instituição, com longa tradição no domínio social vianense. As suas recordações motivaram-na a uma detalhada pesquisa, uma parte da qual concretizou no seu primeiro livro Orfanato e Oficina de S. José (1993), que corresponde apenas à primeira parte de uma obra ainda incompleta. Seguiram-se as obras: No Limiar da 4ª Geração. romance (1996); Fui Professora do Ensino Primário, diário (1998); Templo Nu, poesia (1998); Contos Dispersos, contos (1999) e Vagueando no Tempo: sete poemas em sete temas, poesia (1999)."
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ISBN

978-972-8729-17-2

Prefácio

(…) O presente livro é feito de lances, mais que da escolha de palavras. São assim contadas (com o coração nas mãos) as histórias verdadeiras, aquelas quev emanam com a tal dolorida profundidade que marcam as palavras com ânsia de existir.

É pois uma busca do ser das pessoas e das coisas, tudo emergido em espaços e tempos que o tempo e os homens calcinaram até mais nada restar do que cinzas pairando na memória e pousando apelativamente, no coração. (…) Nada é virtual (ou retocado) nestas páginasd. Delas emana um ressaibo de vida (ou morte) de alegria (ou sofrimento), de esperança (ou desalento) que se desprende das palavras e fica, apelativo ou suspenso, eternizando-se, agora transmutado numa essência intemporal e irredutível.

Sara Maria Tiago, a autora, não escreveu palavras, mas semeou sentimentos ao longo das páginas brancas (…) E mostra que o importante é o que parece trivial, se grava indelével, e foge aos contornos das palavras, mas inscreve nelas um não-sei-quê de pungente, de pessoal, de humano!

Fernando Melim

Outros

Badanas

Excerto de Prefácio e fotografia, biografia e bibliografia da autora.

Contra capa

Miniatura da foto da capa.

Excertos

Uma criança e um dia

– Luisinha! Luisinha!…-Inclinada, a madrinha abana-a docemente-Luisinha…são horas!

-Hum-Grunhe aloira criança, dando molemente uma volta para a parede.-Deixa-me dormir, anda, que maçada!

– São horas, já aqui tens o leitinho.

-Pronto, deixa-o aí…Eu já tomo-E a cabeça aconchegou-se mais no travesseiro. Mas, de repente:

-Ah! o meu triciclo!-E, ante o olhar atónito da madrinha, salta da cama e corre para o escritório. Num pulo, está no canto mais escuro e, de mãos no chão, cabeça muito esticada, espreita para debaixo do velho sofá:-Não está!…Oh!

-Que foi? Que despropósito é esse?

Não vês que te podes contispar?

-O meu triciclo? O meu triciclo?

-Que triciclo?

-Ela disse-me, pronto!E não está. Quem mo tirou?

-Que triciclo?

-Ela disse-me,pronto! E não está. Quem mo tirou?

-Que triciclo? Quem te disse?

-Ela, a fada, esta noite, disse-me que viesse buscá-lo ao acordar, aqui.

-Ó Luisinha, tu sonhaste, não há triciclo nenhum. Anda, vem tomar o leitinho, lavar-te, vestir e pentear.

Tem seis anos a garota e fazê-la levantar para ir para o colégio é um problema, problema facilmente resolvido, neste dia,pela miragem do lindo triciclo, novinho em folha, rodas a reluzir…

(…)

Luísa em casa dos Furtado.

Luísa crescera com os Furtado. Aos donos da casa, depois do ensaio frustrado de serem apelidados de pai e mãe, trataria por Quinzinho e Mijé, nomes que eles davam entre si. Além da irmã da dona da casa, D.Margarida, realmente sua madrinha, havia uma outra pessoa, a verdadeira filha do casal, Mina, que era já moça de dezanove anos, quando chegou Luísa, com poucos meses de idade. Todos a animavam, demasiadamente. Dormir, dormia com a madrinha. Esta, senhora solteira, deabulara sucessivamente pelos lares de irmãos e cunhados, na companhia da mãe de todos eles, depois que ela enviuvara, vira-os tombar um a um; deixara algures a velha mãe pelo caminho e caíra ali, no último reduto, carecida de afectos, apegou-se à pequenina, que tão a propósito aparecera também.

(…)

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