Autor: | |
---|---|
Editora: | |
Data de Edição: | |
Local de Edição: |
O Beato Bartolomeu dos Mártires e o Mosteiro de São Salvador da Torre
Excertos
1. A igreja quinhentista não destoava no quadro negro da igreja universal.
“Tratava-se de uma povoação em franco crescimento urbano e riqueza mercê da conjuntura proporcionada pelos Descobrimentos. Ombreava com as suas congéneres do norte do País, como Braga, Porto Guimarães. A exploração da rota triangular do açúcar e do pão, cujos vértices assentavam na Metrópole, Europa do Norte e Brasil, proporcionou o desenvolvimento de uma classe numerosa e opulenta de agentes marítimos, constituída por nobres mercadores e banqueiros, burgueses endinheirados e mareantes arrojados que dominavam os mares e mercados.
Frei Luís de Sousa deixou-nos um testemunho coevo e fiel da situação quando escreveu: «Mas nenhum comércio lhes tem montado tanto como o das terras novas do Brasil, que vai em tamanho crescimento que, no tempo em que isto escrevíamos, traziam no mar setenta navios de toda a sorte, com que a terra está mociça de riqueza… trazendo-lhe grande cópia de mercadorias de toda a sorte e muito pão, á conta do retorno que levam da grossura dos açúcares do Brasil». Contudo, o estatuto de grande hinterland, que o porto de mar proporciona a Viana nem sempre era sinal e fonte de felicidade e paz. A prática religiosa e vivência da fé eram as primeiras a esmorecer em contacto com novas mentalidades e culturas. O referido autor resume assim as preocupações do Santo Arcebispo:«… onde havia concurso de mercadorias e mercadores não faltei a raíz de todos os males, que é a cobiça».
A solução, dentro do projecto inovador do Santo Prelado, que já trazia na sua mente desde longa data e genericamente consistia na criação de polos irradiadores de espiritualidade, centralizou-se na construção de um Convento de frades dominicanos, cujo zelo apostólico e cultura bíblico-teológica era conhecida em todo o País. Funcionaria como escola de valores e investigação, centro irradiador de missionários e pregadores ou local de confissões e direcção espiritual. Aconteceu em 1562-1563 e a Igreja de Santa Cruz em 1566-1571. Apesar da tentativa, frustada, por parte do Beato para comprometer monetariamente no projecto a Câmara de Viana como beneficiária da «terça do benefício paroquial», o complexo monacal foi erguido com «o sangue do povo», isto é, esmolas e rendas da Mitra. Relativamente à sua pensão e anexação de velhas estruturas a cair em ruínas ou utilização duvidosa. Foram elas: o Mosteiro de São Salvador da Torre e respectivas rendas, os dois benefícios paroquiais de meia-sem-cura de Santa Marinha de Argela (Caminha) e Santa Maria de Távora (Arcos de Valdevez), finalmente, o seu testamento derradeiro feito em Viana em 1583. Todos estes elementos aparecem devidamente comprovados em apêndice.” (pág. 5 e 6)
Avaliações
Ainda não existem avaliações.