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O Mosteiro de Vitorino das Donas do século XI ao Século XV

Nesta separata de outra obra que não aprece identificada, o autor aborda, em quatro capítulos, numa conclusão e num apêndice documental, o historial do Mosteiro de Vitorino das Donas desde o século XI ao século XV. No primeiro capítulo, dividido em três partes, são referidos a origem do mosteiro e o motivo da sua designação: Vitorino (região onde se localizava) das Donas (pelo facto de ser um mosteiro de monjas); a sua evolução de 1207 a 1383 e desta data até 1495. O autor detem-se preferencialmente em factos de natureza económica, como são os bens patrimoniais do mosteiro e todas as diligências feitas por algumas das suas superioras a fim de clarificarem e legalizarem os bens que tutelavam. Tal assunto continua a ser desenvolvido no capítulo seguinte, agora com outros pormenores, nomeadamente com a elencagem de bens, tendo por base documentos da época: as “Inquirições”, o “Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia nos Reinos de Portugal e Algarves”, a “carta testemunhável de sentença” de 17 de Dezembro de 1375, o “tombo” de 1383 e a sua actualização de 1482. O capítulo terceiro menciona sobretudo os vários lugares por onde se distribuiam as propriedades do mosteiro (Pessegueiro, Barbosas, Sob as Devesas, Tresmoinhos, Varziela, So Ameal, Veiga de Barco, Esteiros, Pegas, Porto da Oitava, Seixo, Arco e Veiga aquém do Rego da Fonte) e o tipo de bem possuído em cada casal: leira, pedaço, chouso, pardieiro ou vessada. Há também referência às confrontações entre casais e outras terras do mosteiro, aos rendeiros e aos possuidores de terras em Vitorino das Donas com herdades a confrontar com as do mosteiro, no ano de 1383, assim como a uma aparente desorganização do sistema de exploração dos bens patrimoniais do mosteiro. O capítulo quarto oferece uma visão da evolução do património fundiáro do mosteiro desde os inícos do século XIII aos finais do século XV (de 1220 a 1486).Foca-se, no capítulo, a aquisição do património ao longo dos séculos mencionados, bem como as perdas e acréscimos.
Na conclusão, Matos Reis salienta, uma vez mais, as origens obscuras do mosteiro, pois até à data ainda não foram descobertos documentos que possam clarificar as características internas da colectividade nos seus primórdios. Segue-se uma síntese dos aspectos que foram mencionados ao longo do tratamento do assunto dominante na obra: as dificuldades por que o mosteiro passou, dado estar mais sujeito às interferências de outras pessoas e autoridades do que se fosse pertença de uma ordem religiosa masculina; o modesto e fragmentado património (maioritariamente agrupado em casais) de que era possuidor e a sua expansão económica, ainda que não muito saliente, verificada em meados do século XV, fruto esta, entre outros factores, da humildade, da simpatia e da capacidade de adaptação das religiosas às circunstâncias socias e económicas em que eram obrigadas a viver.
As páginas finais da separata são preenchidas, como se fez referência, por um apêndice documental, dividido em três partes. No apêndice 1, aparece a listagem das propriedades do mosteiro de Vitorino das Donas segundo o tombo de 1383, tresladado e actualizado em 1482. O apêndice dois é a transcrição da actualização, em 17 de Abril de 1482, do “tombo” de 1383. O apêndice três contém três ilustrações da “Pública forma do tombo de 1383 (1ª, 5ª e 10ª folha- verso).

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Conheça o autor

"António Matos Reis nasceu nos arredores de Ponte de Lima, em 21 de Abril de 1943, e reside e trabalhou em Viana do Castelo, desde 1975 até à data de aposentação. É mestre em História pela Universidade do Minho, apresentando uma dissertação em História Medieval, posteriromente publicada em 1991, com o título "Origem dos Municípios Portugueses". Tal obra veio a tornar-se uma referência obrigatória para quantos se debruçam sobre a história do municipalismo em Portugal. Obteve o doutoramento, em 2004 com a defesa de tese sobre "Os Concelhos na primeira dinastia". Especializou-se em Museologia, na U.I.A. de Florença, em 1977, e pós-graduou-se em Estudos Especiais de História e Crítica de Arte, na mesma Universidade, em 1984. A sua actividade profissional repartiu-se até à data de aposentação, entre o ensino secundário oficial (1966 - 1999) e a direcção do Museu Municipal de Viana do Castelo (1989 - 2006). Neste museu exerceu o cargo de Conservador. Foi também Director do Departamento de Desenvolvimento Económico, Social e Cultural da Câmara Municipal de Viana do Castelo, desde 10 de Maio de 1990 até 31 de Dezembro de 1993. Tem exercido funções de direcção em várias associações: Vice-Presidente e depois Presidente da Direcção do Centro de Estudos Regionais; Secretário-geral e depois Vice-Presidente do Instituto Cultural Galaico‑Minhoto; sócio fundador e membro da Comissão Instaladora do Instituto Limiano - Museu dos Terceiros; sócio fundador, membro da comissão instaladora e Presidente da Direcção da Associação de Jornalis­tas e Homens de Letras do Alto Minho. É membro de várias associações, entre as quais se destacam: a Sociedade Portuguesa de Estudos Medie­vais; a Sociedade de Museologia, de Florença; o ICOM (International Council of Museums); a APOM (Associação Portuguesa de Museologia); a ASPA; a APH; a APAC. Foi Presidente da Comissão Organizadora das IV Jornadas Regionais sobre Monumentos Histórico‑Militares (Valença, 1984); membro da Comissão Organizadora do Congresso sobre a Ordem de Cister em Espanha e Portugal (Ourense, 1992) e da Comissão Organizadora do V.º e do VI.º Colóquios Galaico-Minhotos (Braga, 1994; Ourense, 1996). Reorganizou o Arquivo Histórico da Misericórdia de Ponte de Lima, e promoveu a publicação do respectivo catálogo. Em 1995, fez o levantamento do Património Cultural, situado entre Caminha e Esmoriz, para o Plano de Ordenamento da Orla Costeira. É autor de cerca de centena e meia de títulos, entre livros, estudos e artigos publicados em diversas revistas. Proferiu já várias conferências, em congressos e colóquios, em Portugal e no estrangeiro. Por deliberação unânime de 27 de Janeiro de 1997, a Câmara de Ponte de Lima atribuiu-lhe a "Medalha de mérito cultural" que lhe foi entregue no dia 4 de Março do mesmo ano, na sessão solene comemorativa da fundação da vila."
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Excertos

“1- PRIMEIRAS NOTÍCIAS 1.1- As origens Localizava-se o mosteiro de Vitorino das Donas na margem sul do rio Lima, a dúzia e meia de quilómetros do oceano, no sítio onde se ergue a igreja paroquial da freguesia do mesmo nome, com os edifícios circundantes, cujas paredes serão ainda, em grande parte, as do antigo convento. Entre os seis mosteiros femininos que na Idade Média existiram no Alto Minho, o de S. Salvador de Vitorino, que por tal motivo se ficou a chamar “das Donas” (“Donas” eram as religiosas), foi o único que conseguiu sobreviver para além do século XV. A primeira referência histórica a Vitorino das Donas data provavelmente de 915: Ordonho II doa à Sé de Lugo “eclesias que sunt inter Catavo et Limia id este Crespellus et Vulturinus”. Há outro Vitorino (V. de Piães) na vertente oposta do mesmo monte, chamado da Facha, sendo possível que até certo momento da alta Idade Média, Vitorino designasse uma região mais vasta, onde se incluiria o território das duas freguesias. Em 915 não existe ainda o mosteiro de Vitorino, pois que, fazendo-se no mesmo documento expressa doação do mosteiro de Labruja, se o de Vitorino existisse, não deixaria de ser designado do mesmo modo, ao referir-se uma igreja que nele estaria incluída. Na doação da vila de Correlhã feita por Fernando I, o Magno, à Sé de Compostela, em Janeiro de 1061, os limites da referida vila passam “per terminos de Vulturino”. O “Censual de Entre Lima e Ave”, cuja elaboração é colocada entre 1085 e 1091, embora se não refira claramente ao mosteiro, refere a Vitorino um tipo de prestação que, por regra, competia a estas instituições: “De Vulturino jantar. n”. Em data que não é viável precisar, D. Afonso Henriques coutou ao mosteiro de Vitorino as terras situadas à volta da ermida de Nossa Senhora do Azevedo, ou seja, da Cabração. Por volta de 1138-1145, já os direitos sobre o mosteiro se tinham dividido, de tal modo que é apenas a nona parte dos direitos sobre o mesmo que Pedro Pais doa à Sé de Braga, em troca de outras concessões: “nonam quoque de monasteria de Vulturino quod est in Ripa Lima”. Décadas volvidas, em Março de 1192, Rodrigo, Vasco, Mendo e Elvira Sanches fazem a partilha dos bens que herdaram dos pais: Rodrigo fica “na quinta do couto de Vuturio e na quinta do padroadigo dessa eygreyga en todous herdamentus de couto e de fora de couto”. 1.2- De 1207 a 1383 Em 1207 levanta-se uma querela entre a abadessa de Vitorino das Donas e o celeireiro do concelho de Ponte de Lima, por causa da intromissão deste no couto da Cabração. O processo judicial levou à inquirição de testemunhas sobre a realidade e os limites do couto, dando como resultado o primeiro “privilégio” escrito em que o mesmo ficou documentado e bem útil iria ser em futura querela. Em 1220, na inquirição de Vitorino das Donas, não se refere expressamente o mosteiro mas sim a igreja de Vitorino como proprietária de vários casais na própria freguesia (11 e ½) e outras (2 em Barco, 5 em Santa Marinha e 1 em Santa Maria de Geraz). As inquirições de 1258 fornecem apenas o nome da abadessa: D. Teresa. É o único nome de abadessa a reter, em relação a este período, já que não há segurança nas informações da Benedictina Lusitana, segundo a qual a mais antiga abadessa conhecida se chamaria D. Sancha e o seu nome viria no documento relativo ao couto da Cabração, onde constatamos que não figura, e lhe teria sucedido D. Aldonça Garcia. Uma “carta de pura venda” de propriedades entre particulares, de 10 de Novembro de 1303, tem como testemunhas Domingos Anes, capelão do mosteiro de Vitorino, além de Mauro Esteves “fralle do mosteiro de S.a Maria de Vale de Pereiras” (freguesia de Santa Marinha de Arcozelo, em frente à vila de Ponte de Lima). Segundo o “Catálogo das Igrejas” de 1320-1321, paga uma “dízima” de 100 libras, para a guerra contra os mouros, conforme a concessão que D. Dinis obteve da Sé Apostólica. Da história do mosteiro de Vitorino durante este período possuímos também a informação do Livro de Linhagens do Deão de que no começos do século XIV era aí abadessa Beatriz Martins, enquanto sua irmã Alda Martins ocupava idêntico cargo no mosteiro de Semide. O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro inverte o nome dos mosteiros a que estas descendentes dos Redondos estariam ligadas: Alda Martins como abadessa de Vitorino e Beatriz como abadessa de Semide. Em relação ao século XIV, pode igualmente inserir-se aqui outra informação do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro sobre uma ex-religiosa de Vitorino: “Gonçalo Pirez Velho… foy casado com D. Constança Gonçalves filha de Gonçalo d’Arga que foy sete anos freyra em Voyturinho e fez profissom e tirou a este Gonçalo Pirez, Gonçalo Velho, per força, da abadessa e das donas; e esta freyra era filha de Gonçallo d’Arga huum peom filho d’algo e fez este Gonçallo Velho em esta freira estes filhos (…)”. Consta também este convento das Rationes Decimarum Lusitaniae, de 1371, na Biblioteca Apostolica do Vaticano. Em 1375, sendo abadessa D. Guiomar Gil, surge novo conflito entre o mosteiro e o mordomo do concelho de Ponte de Lima por causa do couto da Cabração, desta vez porque o mordomo aí entrara para fazer penhora de gados. Mais à frente nos ocuparemos do documento onde ficou exarada a sentença. A mesma abadessa, Dona Guiomar Gil, promoveu a elaboração do primeiro tombo das propriedades do mosteiro, em Março de 1383. Dez anos posterior é a sentença contra os herdeiros de Lopo Afonso, que fora abade de S,ª Leocádia de Geraz, por não cumprirem as respectivas disposições testamentárias, entre as quais se incluem as que beneficiavam o mosteiro de Vitorino, onde fora sepultado. D. Guiomar Gil deve ter falecido antes de 12 de Outubro de 1394, pois nessa data Dona Mor Lopes foi confirmada no cargo de abadessa pelo arcebispo D. Lourenço Vicente. 1.3- De 1383 a 1495 O tombo de 1383 parece marcar uma data a partir da qual os documentos relativos à economia do mosteiro, designadamente ao seu próprio património agrário, aparecerão com maior frequência. Além da sentença que já mencionámos, data de 27 de Junho de 1395 o desembargo de uma casa e de uma vinha feitos ao mosteiro por Clara Anes e seu filho, António Afonso. No entanto será necessário esperar pela proximidade de meados do século seguinte para que os actos económicos se intensifiquem. Em 22 de Janeiro de 1443 documenta-se um escambo de herdades em Fontão por outras de Vitorino, entre o mosteiro e Pedro da Capela, sendo abadessa D. Violante Rodrigues; em 1 de Março do ano seguinte, com a mesma abadessa, procede-se a outro escambo de propriedades, em S. Leocádia de Geraz, com Afonso Vicente, morador no julgado de S. Estêvão, e João de S. Pedro, contador, residente em Braga. Um outro escambo de herdades situadas na Varziela, freg.ª de Santa Comba, por outras, localizadas em Vitorino, a 30 de Março de 1463, não regista o nome da abadessa. Em 17 de Abril de 1482 é já abadessa Dona Inês Velha, que requere ao Corregedor de Entre Douro e Minho a cópia e a ampliação do tombo precedente, o de 1383. O mosteiro deve ter lutado contra os escolhos que, por esta época, levaram a sossobrar e a extinguir-se uma grande parte dos mosteiros femininos, de observância beneditina, da região, mas o facto de ter permanecido talvez permitisse que para ele se canalizassem as prodigalidades dos benfeitores, fazendo que o seu património aumentasse consideravelmente no fim do século, dentro da relativa modéstia que sempre foi apanágio deste convento. Cresceu o número dos actos de natureza económica – designadamente os contratos de escambo e de prazo – e o novo tombo, elaborado na primeira década do século XVI, dará uma imagem totalmente diversa em relação ao anterior, porque muito ampliada, do património fundiário do mosteiro. Detemo-nos, porém, desta vez, nos finais do século XV, já que o estudo da história do mosteiro de Vitorino das Donas, em geral, e especificamente a do seu domínio agrário, no século XVI exige um tratamento diferente. Registe-se apenas, a modos de conclusão deste capítulo, o facto de, em 17 de Dezembro de 1485, o bispo auxiliar de Braga, D. Frei Gil, ter celebrado neste mosteiro uma ordenação. O apelido do prelado sugere o seu parentesco com a abadessa que, anos antes, envidava esforços para pôr em ordem a economia do mosteiro, mas o acto solene, por si, basta para testemunhar o apreço que a Sé bracarense quis manifestar às religiosas de Vitorino das Donas.”

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