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ISBN | 972-588-038-2 |
Os Mercadores de Viana e o Comércio do Açúcar Brasileiro no Século XVII
Excertos
“A navegação tinha os seus perigos, que iam da pirataria e tempestades ao fogo devorador.(…)
I. A Pirataria.
Pirataria e corso não são a mesma coisa. O corsário atacava a soldo da política, em grupos organizados pelo poderf constituído, com a finalidade de enfraquecer e perturbar o inimigo. Eram mais militares que salteadores. Contavam-se pelos dedos das mãos os monarcas que não possuíam armada de corso nos mares. Integravam as instituições e a moral cristã apoiava a sua actuação contra a barbárie. Por sua vez o pirata não passava de um simples ladrão do mar. Roubava, em grupos organizados, para sobreviver. Obedecia aos preceitos de classe e aos princípios ditados pelas conveniências e razão de estado. As cartas de navegação e solidariedade estratégica limitavam a sua acção.
Era no mar que o corso e a pirataria actuavam de preferência. Mas também as pacatas povoações e cidades do Litoral podiam ser suas vítimas. Tinham zonas demarcadas. No Mediterrâneo e no triângulo cujos vértices se apoiavam nas Canárias, Açores e Continente europeu actuavam de preferência os piratas turcos e mouros do Norte de África, designados pela documentação da época por mouriscos ou bárbaros. Tinham as suas bases em Salé e Argel. O mar Cantábrico era dominado pelos piratas de La Rochelle. Um pouco por toda a parte actuava a pirataria inglesa, terror dos mares, e a holandesa.
A pirataria constituia uma arte e uma profissão. Exigia saber, sacrifício e grandes investimentos. As suas fileiras eram enriquecidas constantemente por reservistas ou fugitivos das armadas nacionais. Tratava-se de um modo de vida muito arriscado e, por vezes, pouco compensador.
O ataque apresentava três tempos: espera, afrontamento e abordagem. A primeira era, por vezes, longa e desesperante. Na carreira do Brasil, a zona mais perigosa situava-se entre os Açores e o Continente. As naus vinham carregadas de açúcar e navegavam com dificuldade. O afrontamento obedecia a táticas próprias. A escola inglesa escolhia, como alvo da sua artilharia, o casco dos navios. Os franceses, pelo contrário, atiravam para os mastros. Todos defendiam que a posição ideal para atacar um comboio residia na colocação do navio pirata de gurupés sobre a popa do inimigo. Na abordagem, devido à diferença de forças, fazia-se já sem resistência. A tripulação era maneada e encurralada. Constituia o momento de decidir sobre a sorte do navio. Quando os estragos fossem grandes, optavam por transferir a carga e haveres, deitando-lhe fogo no final. No porto pirata de origem, as mercadorias eram postas nos circuitos comerciais e os tripulantes feitos cativos, esperando a negociação do seu resgate e libertação.
A pirataria constituia um perigo constante, quer no mar quer em terra. Pode ser considerada como um dos grandes flagelos da época, que influia deveras sobre a organização da estrutura mental da sociedade. Os governos foram obrigados a tomar medidas defensivas de alcance profundo. D. Sebastião e os Filipes legislaram sobre a articulação das frotas mercantis e mandaram construir fortificações em pntos estratégicos, como Viana, lançando impostos sobre o comércio para acudir à defesa das frotas. Lembremos a propósito o Consulado ou imposto de 3%, datado de 1593. Também o poder local teve acção preponderante, não só na organização da defesa como na movimentação da população.” (pág. 70 a 72)
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