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ISBN | 978-972-9397-59-2 |


Prefácio
A memória sobre o cristianismo conduz-nos para a comemoração de Jesus e, no quadro da memória social, os mártires constituem o paradigama do testemunho, podendo não comportar túmulos nem relíquias. A celebração de santos era no dia conhecido ou suposto do martírio ou da morte, o que proporcionou a difusão do cristianismo, apagando o culto pagão. Desta forma, a memória colectiva adquiria um papel considerável no mundo cristão e na própria historiografia. Assim, também a hagiografia nos põe desafios permanentes, quando pretendemos apresentar elementos ou outros aspectos da vida dos santos sem a existência de fontes documentais escritas, especialmente quando se trata de mártires sobre quem não há, na actualidade, testemunhos materiais coevos. Este mesmo problema, num outro domínio, tem sido ultrapassado pela história oral cuja pesquisa está direccionada para o estudo do tempo presente.
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Não se trata de creditar historicamente três figuras.Este livro do mestre Manuel Inácio Rocha está bem estruturado, tem rigor documental, é uma obra historicamente séria e honesta, sem tendências nem ideologias, rica de bibliografia e fontes credíveis, onde se faz jus à cultuta e salvaguarda da memória, o património intangível e a história sócio-religiosa de Viana da Foz do Lima. Não menos importante é a coragem do autor ao suscitar uma reflexão em torno das construções e desconstruções das memórias colectivas.
Henrique Rodrigues
Outros
Badanas
Fotografia ,biografia e bibliografia do autor.
Contra capa
Texto do autor e excerto do prefácio.
Excertos
E DA LENDA SE FAZ HISTÓRIA
Conhecimento do passado humano na frase lacónica de Marc Blooch, a História é uma ciência humana e, como tal, carrega sempre um misto de real e subjectivo. Tentar trazer o conhecimento do passado à vivência do presente e analisar este pelo passado em ordem a perspectivar o futuro, é essa a tarefa do historiador. Não sendo uma ciência exacta, a História reveste-se sempre duma objectividade própria, sobretudo quando o historiador se baseia mais nos documentos do que na sua imaginação e dotes discursivos pessoais. Só que, sendo uma ciência humana, não produz uma verdade verificável ou absoluta como a Matemática, a Física e outras ciências exactas. E porque é uma construção humana, a História enferma sempre de uma certa fragilidade ligada ao ser e pensar do historiador, ao evoluir das mentalidades colectivas e valências institucionais.
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Assim, a tarefa do historiador centra-se em várias fases distintas e complementares: descoberta e selecção dos documentos através da heirística, leitura e interpretação dos documentos como requere a hermenêutica, completando-se com a análise crítica e síntese histórica. Por outro lado, diacronia e sincronia, tempo e lugar, são também vectores fundamentais a ter em conta, e nem sempre existem os documentos necessários à construção da trama discursiva que é tarefa do historiador. Perante tal situação, este deverá preencher os hiatos com os chamados documentos imaginários que, criteriosamente fundamentados, servirão para dar continuidade e lógica ao discurso historiográfico.
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(…). Para além de todas as incertezas científicas, não podemos esquecer que a lenda tem sempre algum fundamento e, por mais obscura que seja, pertence à História e como tal deve ser respeitada, pois nunca deixará de ser uma referência da sociedade que nos produziu e nos envolve, sendo até um dos mais perenes legados que deixamos aos nossos vindouros.
ORIGENS DO CRISTIANISMO NA PENÍNSULA IBÉRICA
A tradição que consagrou a existência do martírio dos nossos Santos em Viana é muito antiga, remontando ao século IV, embora essa tradição só tenha sido persistentemente divulgada e referida em numerosos escritos a partir do século XVI, com a consequente generalização de práticas sociais e religiosas que vieram a caracterizar a piedade barroca. Que na Península Ibérica, dec que Viana faz parte, houve mártires nas origens do cristianismo, disso ninguém duvida.
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Outro fundamento das origens do cristianismo nestas paragens, desde os mais remotos tempos apostólicos, é constituído pela antiga tradição do Apóstolo Sant`Iago na Península, embora não a abonem tão sólidos fundamentos, uma vez que vários são os argumentos que se apresentam pró e contra. E se, para uns, a tradição e os documentos arqueológicos levam a pensar que a cristianização desta área aconteceu nos primeiros séculos do cristianismo, outros dizem que a tese da cristianização tardia do Convento Bracaraugustanus cada vez ganha mais adeptos, afirmando situar-se no lado oposto aqueles que defendem, cada vez com maior dificuldade, a evangelização da Galiza por Santiago Maior.
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Alguns historiadores pensam que o cristianismo, quando penetrou na Península Ibérica através dos canais do Império Romano, veio encontrar um quadro religioso multissecular constituído por uma multiplicidade de deuses e cultos. Os deuses indígenas veneravam-se, pois, em rios e/ou pontes, sem templos e sem imagens, consumando uma sacralização do espaço tribal. As notícias mais antigas sobre a penetração do Cristianismo na Península Ibérica são as de S. Irineu de Lião do fim do século II, e de Tertuliano do início do III. Ambos falam da existência de cristandades florescentes na Hispânia, podendo-se supor que existiriam já no fim do século II cristandades cristãs organizadas e não apenas fiéis dispersos… As intensas relações comerciais e culturais entre a Hispânia e o resto do Império teriam contribuído, sem dúvida, para uma implantação precoce do Cristianismo na Lusitânia.
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