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ISBN | 972-9397-42-2 |
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Pelo Mundo em Pedaços sem Partido
Escrever é criar circunstâncias e memorializar viagens.
De Viagens nos fala este livro de Amadeu Torres. São 78 sonetos e quatro momentos.
Num primeiro momento, aparecem textos escritos entre 94 e 2001 e que reflectem viagens por Portugal, pela Rússia, pela Alemanha, pela Áustria, pela Inglaterra, pela França, pelo México, pelo Chile, pela Argentina, pelos EUA… São pedaços de si, a esmo espalhados pelo mundo de onde nos traz o Taj Mahal, as bétulas de IASNAIA POLIANA, os castelos do Reno, o Krupp do aço, o Hitler e o Duce, Shakespeare, Walter Scott, William Wallace, a Magna Carta, Bonaparte e S. Guirec, Chartres, Cracóvia e Damião de Góis, Garcilaso de La Veja, o trem de Machu Picchu, etc.
No 2º momento, de 97 a 2000, lembra-nos, à distância de 60 anos, a Carta de Atenas; fala-nos de Quioto, de Teixeira de Pascoais, de cantores e romancistas, de sinestesias e de presépios, do KGB e dos progromes da fome; lembra O JUSTO e o Sousa Mendes, o Ieltsin e Púchkin; recorda os castanheiros e as cerejeiras dos avós, o António Aleixo, o António Nobre e AS MENINAS, do Museu do Prado.
A terceira parte são textos essencialmente políticos e de intervenção: A REVOLUÇÃO FRANCESA, A Justiça e a Cega Balança, o dia da árvore, o trabalho infantil, os “bandos de selvagens”, a liberdade de Abril, o Zé Povinho e os que o exploram, o “lobby gay”, Camarate, os talibãs, etc.
Finalmente, no último grupo de textos – Políptico Poetogastronómico – dedicados a Francisco Sampaio e Nuno Lima de Carvalho, encontramos 6 sonetos onde nos faz salivar com o Ensopado, a lampreiada, o Cabrito Montês, a Sopa Seca, o Arroz de Sarrabulho e Melgaço à João Penha.
Prefácio
PELO MUNDO EM PEDAÇOS SEM PARTIDO
Quis o Professor Doutor Amadeu Torres confiar ao C.E.R. a honra da edição de mais uma Obra sua. Foi com muita humildade, mas também com incontido orgulho, que aceitei a responsabilidade de prefaciar Pelo Mundo em Pedaços sem Partido, da autoria deste Académico, um dos mais ilustres vultos da nossa cultura, notoriamente da ciência linguística e do humanismo cristão, de reconhecido mérito não só entre nós como internacionalmente. Mau grado as minhas insuficiências, espero que estas breves e despretensiosas linhas não desmereçam da confiança do leitor, face à qualidade da poesia que a obra integra.
A propósito da questão «É ainda possível a poesia?», o Professor diz-nos que «o poeta(…) expressa-se ou expressa naturalmente(…) o tempo de que é espelho e transunto(…) decorrendo o seu engajamento da própria vivencialidade subjectiva ou objectiva em que se integra, sem prejuízo da Arte com maiúscula». A sucessão de textos que constituem esta colectânea poética, não é senão o corolário desta afirmação. De índole cosmopolita, cada poema possui a virtude de nos levar pelo mundo fazendo-nos actores de corpo inteiro de vivências e emoções, da mundividência que o autor se dispõe, generosamente, a connosco partilhar.
O nosso Épico deixou «a vida pelo mundo em pedaços repartida», porém não se escusou de afirmar que havia «no mundo muitas horas de alegria». Assim também Castro Gil. Leva ao mundo o substancial da nossa cultura e, em simultâneo, nele apreende pela observação, interesse e vivência tudo o que de grande, na acepção humanística do termo, ou de real, ele lhe proporciona e magistralmente no-lo comunica neste florilégio que agora traz a público.
Da singeleza da recordação natal de Vila de Punhe, de António Aleixo à grandeza de alma de O Justo e de Aleksandr Púchkin, da subtil ironia das Vernaculidades e Revolução analfa à evocação de Shakespeare e William Wallace, do Chile à Índia, de Atenas a Quioto, de Manila a Los Angeles premeia-nos o Professor com a possibilidade de sorver poeticamente o âmago daquelas personagens e as maravilhas que estas e outras paragens oferecem à humanidade.
Viana do Castelo, 8 de Abril de 2002.
Rui Alberto Comes de Sousa
Presidente do Centro de Estudos Regionais
A PERGUNTA DO NOBEL
Eugénio Montale (Génova, 12-10-1896), o poeta italiano que em 1975 a Academia das Ciências da Suécia justamente galardoou, proferiu na sessão solene um discurso de monta, selecto na forma e erístico no conteúdo, porque subordinado à questão:— É ainda possível a poesia?
Perante uma sociedade ideologicamente opressora, atabafada pela comunicação social e distraída pelas frioleiras do “exibicionismo histérico” a que hoje acrescentaria ainda o consumismo sem freios e a globalização capaz de tornar-se leviathânica, Montale concluiu, assertivamente, não poder morrer uma poesia “que surgindo quase por milagre, parece condensar toda urna época e toda uma situação linguística e cultural”, cujos valores de liberdade, inconformismo e abertura humanística ressumam das suas obras em verso ou em prosa.
Hölderlin (1770-1843) já havia lançado repto semelhante quando se interrogou: — Wozu Dichter in dürftiger Zeit «(Para quê poesia em tempo de penúria)»? E Jaime Siles, entretanto, em Propuestas poéticas para fin de síglo, deu esta resposta judiciosa, que reacentua a de Eugénio Montale: “La poesía tiene una misión fundamental en todos los tiempos y esa misión es la defensa de la dignidad del hombre: la dignidad de la persona humana, y por ello, la dignidad del medio con el que trabaja que, entre otros muchos, es también y no sé si sobre todo — el del lenguaje1”.
Creio que a minha não foge a tal norma e objectivo, seja qual for a escola ou corrente em que me rotulem, porquanto nunca me interessaram rótulos: modernismo, abstractismo, surrealismo, substantivismo estruturalista, concretismo, construtivismo, eclectismo culturo-poético finissecular.
Integrado no seu tempo de que é forçosamente espelho e transunto mais consciente ou menos, o poeta de espinha dorsal sem arqueação e curvaturas idanovistas de tantos pseudo-intelectuais de génio a haver, expressa-se ou expressa naturalmente esse mesmo tempo e situação e circunstância, nos planos quer positivos quer negativos. Por outras palavras, o seu engajamento autocomandado decorre da própria vivencialidade subjectiva ou objectiva em que se integra, sem prejuízo da Arte com maiúscula.
Ou como escreveu Ruy Belo do poeta circumparticipante: ao “tomar suas as preocupações dos outros homens e emprestar uma voz àqueles que por qualquer razão a não tenham”, o poeta deve fazê-lo “de maneira que a temperatura da expressão seja elevada, única forma de vigorar para além do momento que passa”. Ao “serem uma forma de intervenção, de compromisso, de luz por um mundo melhor2”, os poemas destaquem-se antes de mais pela beleza artística.
Se isso aqui consegui, dou-me por satisfeito, mesmo na secção que aglomera laudas em que entrou um aparo mais acerado, desde que o leitor se concentre e demore também lá, de vez em quando. Na verdade, como diz Eduardo Lourenço, “a obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe”3.
1. Cfr, o.c., Madrid, Fund, Banesto, 1993. p. 158.
2. Cfr, Obra Poética, 111, Lisboa, Presença, 1984, p. 275; ibid. 1981, pp. 189-190
3. Cfr. «Esfinge ou a poesia», em Templo e Poesia, Porto, Inova, 1974, p 33,
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