Prefácio
Trajecto dum emigrante poeta
O fenómeno social excepcional que foi a saída (e fuga) do país nos anos sessenta e inícios de 70 do século passado, que envolveu na sua maior parte an juventude, e determinou a fixação em França, na Alemanha e em outros países de centenas de milhar de portugueses, ainda que tenha dado lugar ao aparecimento de uma poesia verdadeiramente distinta e de indiscutível afirmação, não teve ainda quem a estudasse devidamente a ponto de ser devidamente reconhecida (1). Uma parte dessa juventude, a mais levada, regressou ao país após a revolução do 25 de Abril aí desempenhando um papel destacado tanto nas letras como na esfera sócio-política. Alguns artigos revelaram aspectos da expressão poética daí derivada e, estamos certos que não tardará a ser estudada. O lugar que ocupará na cultura portuguesa essa actividade criativa (inclusivamente no domínio m,ais interferente da música) está garantido por se associar ao movimento social e político que marcou o último terço deste século.
Através das duas principais revistas que nasceram entre os portugueses residentes na Europa – Peregrinação (1985-1995) e Latitudes (1997- …) tivémos oportunidade de conhecer de perto a criação poética de Amândio Sousa Dantas que, muito jovem, publicou o seu primeiro livro, Sentimento de Ausência, em Osnabruck, no norte da Alemanah, seguindo-se outros, antes de regressar à sua terra de origem o prolífero e acolhedor Minho. Ao reunir agora poesia sos seus primeiros quatro livros, pensada e sentida no exterior, evidencia a fidelidade a uma juventude conturbada que talentosamente soube superar pelo risco da escrita, o modo de expressão que brota naturalmente das suas veias. A sua escrita actual, não obstante conservar a mesma elegância, denota maior hermetismo ao mesmo tempo que se abre para temáticas que conquistaram oportunidade.
(…)
As composições aqui reunidas fruto das suas primícias poéticas, criadas num clima tão particular, comportam, como sucintamente apontámos, além dum significado estético, uma imagética distinta intimamente ligada o espaço geográfico e ao tempo psicológico vividos, e que ficarão a assinalar um caminho irreversível que por intermédio do seu talento poético é proporcionado a todos nós e para sempre. Este acto editorial pode encarar-se aínda como um marco assinalável nas terras do Norte de portugal, das que mais verteram gente pela Europa fora, provocado pelos egoísmos duma minoria, lançando o país e a sua juventude numa intolerável aventura humana. No seu estro poético Amândio havia de aperfeiçoar o seu modo de resistência, tal bóia de náufrago no largo atlântico.
Outros
Badanas
Paisagem de socalcos; bibliografia do autor.
Contra capa
Paisagem de socalcos “Socalcos de Rendufe”, de Amândio Vieira.
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