Excertos
7. RIMANCE DO CASTELO DE VIANA
É este o castelo
Onde fui soldado,
Coberto de ferro,
Montado a cavalo
– Menino tão cedo
Do sonho levado
À Torre Roqueta
Subi destemido:
Todo o mar em frente
Vibrava, bravio.
Fiz velas dos versos,
Lancei-lhe navios.
À peça de bronze
Com armas reais
Afaguei-lhe o dorso
Vazio de balas,
A mirar os longes,
Calada, calada…
Onde, os alaridos
Dos prélios de antanho?
O pirata avista-o
Mas passa de largo,
Que a força da firme
Guarnição o alarma.
Deu-lhe S. Tiago
Filipe de Espanha,
Vem o povo ousado
Assalta-o com gana:
Aceita-lhe o Santo,
Não a coroa estranha.
Pela Patuleiia
Serviu a Rainha
Que por maior prémio
Faz cidade a vila.
E casa-a com ele!
E bem a apelida!
De pé na parada
Prestei juramento:
Nunca mais deixar
De lhe ser fiel:
Pois, se sou Viana,
Também o sou dele!
9. ESTÁTUA DE VIANA
Navega-lhe na mão a fuga de um navio.
Veste de anjo barroco
Esta Viana de granito,
Erguida entre quatro rostos.
Dir-se-á que o Aleijadinho,
Olvidado dos seus profetas,
A modelou com os divinos
Dedos doridos de lepra.
Num equilíbrio d’arte joanina,
Esvoaça-lhe a força à graça consagrada!
E tem ondulações de vaga, femininas,
O altar onde se enfuna, como deusa das águas.
Menina, Sarah Affonso, quanta vez
Nela poisou, artista, a paixão do olhar.
Nasceu, púdica Vénus das marés!
Envolve-a, como um halo, o hálito do mar!
10. A PONTE
Quero um comboio de brinquedo
Que passe a ponte devagar.
Não é por medo:
É pra poder, pausado, apreciar,
Para montante, o monte e o arvoredo;
Para jusante, o cabedelo e o mar.
Da margem sul para a margem norte,
E vice-versa, num vaivém,
Que olhos terão melhor transporte,
Vista mais variada? Quem
Lhes não inveja gosto e sorte?
Ninguém!
Silêncio de luares, nas águas remansadas,
Poentes estridentes de oiro velho e rubi,
Mansos murmúrios das madrugadas,
Tão belos não ouvi ou vi
Se não nessas viagens, muito embora apressadas,
Se não dali.
Eiffel fê-la de ferro, à finissecular.
Mas parece de vidro transparente,
Varanda onde apetece debruçar
A nossa alma doente
E vê-la, súbito, sarar
Pelo milagre da visão em frente!
Por isso, quero, lenta, lentamente,
Passá-la num comboio de brincar!
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