Prefácio
“Só uma amizade sincera e de longa data me levou a aceitar o convite que me foi dirigido para escrever algumas palavras de apresentação ou prefácio, a mais uma obra do estudioso e apaixonado da cultura que é Lourenço Alves. Tal incumbência obrigou-me a ler todas as páginas do livro que agora se apresenta. Trata-se, como o título muito bem sugere, de uma selecção de “reflexões sobre a vida” que o autor foi apresentando, ao longo de algumas décadas, ora em jornais e microfones de rádios regionais, ora em estudos e conferências realizados em vários organismos e associações por onde foi distribuido o seu saber e vontade de ensinar. Após uma profunda cultura teológica adquirida, quer nos bancos dos seminários de Braga durante doze anos – que bem exigentes eram no seu tempo – quer no estudo e investigação pessoal durante a sua longa vida activa como sacerdote, Lourenço Alves sentiu ânsia de voos mais altos, o que o levou à Universidade do Porto onde se licenciou em História. Daí a sua reconhecida autoridade para o tratamento de tantos e tão diversificados temas que aborda, digamos assim, nesta antologia de estudos. o leitor mais exigente cedo se aperceberá que se trata de reflexões sobre os temas mais variados que, sendo escritos, como ficou dito, ao longo de várias décadas, nos aparecem sem lógica sequencial, quer no âmbito das temáticas, quer mesmo no temporal. Algumas reflexões serão mesmo fruto de situações e circuntâncias históricas que hoje se encontram ultrapassadas, mas que até por isso nos podem ajudar a compreender o verdadeiro sentido prático da História: conhecimento do passado humano que nos ajuda a compreender o presente e perspectivar o futuro. A originalidade destas “Reflexões sobre a vida” consiste, precisamente, nesse manancial diversificado de temas, donde sobressai o vasto leque de conhecimentos e vivências do Autor, quer no âmbito da teologia e cultura clássica, quer sobretudoo na História da Arte, Etnografia e Etnologia. Está de parebéns Lourenço Alves por mais esta obra que vem enriquecer a já grande lista de publicações que, ao longo da sua vivência apaixonada como sacerdote, professor e investigador em vários domínios nos legou, oferecendo-as aos leitores que porventura ainda se sintam motivados e interessados pelo pão da cultura. Manuel Inácio Rocha Abril de 2003″
Outros
Badanas
A badana da capa contém uma fotografia do autor, seguida de um resumo biográfico. Na badana da contrapaca, mencionam-se as obras de que Lourenço Alves foi autor.
Excertos
“MAIS GRAVURAS RUPESTRES” O P.e Artur Coutinho, quando paroquiava as freguesias das Argas, descobriu, nas suas deambulações pela serra, uns sinais gravados num penedo. comunicou o facto à Secção de História e Arqueologia do Centro de Estudos Regionais de Viana do Castelo que, imediatamente se pôs em campo para fazer o levantamento e a inventariação de tão valioso achado arqueológico. Numa tarde soalheira de Fevereiro, o autor destas linhas, acompanhado do P.e Coutinho, lá foi até à Serra d’Arga. Tomámos a estrada de Dém e, ao chegar à entrada da freguesia, arrumámos o carro e metemos pés ao caminho, serra acima, por entre penedos desordenados e tojos de picos ásperos, à mistura com restos de troncos de árvores consumidas pelos incêndios da época estival. Entrámos, nas paragens frequentes a que nos forçava a ladeira íngreme, olhávamos, estupefactos, a paisagem agreste que se entreabria e se desdobrava à nossa frente, numa visão do belo-horrível. Atrás de nós ficava o grande vale onde repousava, mansa e despreocupada, a freguesia de Dém. A nossa curiosidade era insaciável e, por isso, espiolhávamos todos os penedos em busca de sinais do homem pré-histórico. Aquilo que não passava de fruto da erosão, parecia-nos uma obra humana e só depois de um exame minucioso, tal era a semelhança, é que nos convencíamos do logro em que caíramos. Um pouco acima do meio da encosta, deparámos com um penedo que, visto dum certo ângulo, parece um láparo escondido. É a “igreja dos mouros”, o penedo misterioso do qual se diz possuir, lá dentro, dois caixões, um de oiro, outro de peste. Quem o abrir fica sujeito à antinomia do destino – a vida feliz, ou a morte trágica. É lá, segundo os testemunhos de uma velhinha, que “os mouros diziam missa”. Alguém que, no seu tempo de menina, fosse para junto dele com o gado, devia lembrar-se do seu carácter sagrado, não lhe tocando para não o profanar. O local onde se encontra o penedo é conhecido por Costa do Carvalho. Depois de contornarmos o rochedo na direcção norte-sul, subimos com certo custo. Foi então que pudemos ver as gravuras que passamos a descrever. O penedo, de granito granuloso e cor esbranquiçada, é de configuração redonda. A partir da base, aumenta de volume, assumindo a meio uma forma bojuda que se afusa, conforme se aproxima da coroa. É na vertente da coroa, voltada a poente, que se encontram as gravuras. Uma dificuldade se nos deparou desde logo: como fotografar, em posição direita, esses petróglifos? E à nossa mente aflorou esta pergunta: e como poderia o artista gravar estes sinais, sem ter qualquer suporte? Realmente, as figuras estão localizadas numa zona do penedo que se pode considerar inacessível. O penedo mede na parte superior 6,80 m no sentido nascente-poente e 5 m, no sentido norte-sul. A um metro e meio da base, precisamente onde começa o bojo, tem um perímetro de 25 m. Há, pelo menos, duas séries de insculturas. Digo isto, porque, embora muito delidas pela erosão, divisavam-se outros conjuntos difíceis de identificar. Na parte mais baixa da coroa, deparam-se duas cruzes que nos parecem relativamente recentes. O conjunto mais significativo que já localizámos, compõe-se de vários sinais: um antropomorfo que deve simbolizar o pastor, dois sinais que nos parecem paletas, uma suástica, e vários podomorfos formados por covinhas, ligadas por um sulco muito ténue. SANFINS DE FRIESTAS Numa passagem por esta freguesia de Valença, contactámos várias pessoas que nos informaram de algumas gravuras em penedos da localidade, por sinal, abundantes e avantajados. Como o tempo não sobejava, ficou para outra vez a sua identificaação. Disseram que na extrema entre esta freguesia e a de Verdoejo, há esculpida, num penedo, a cabeça de um carneiro, para assinalar os limites. Numa torre de penedos, chamada Cortelhos, no lugar de Quebrada, há sinais gravados que o povo diz serem a cabeça e as pegadas de Nossa Senhora. Também no Castelo de Furna, nos disseram haver uma pia onde a água nunca seca. Era ali que a rainha vinha beber.”
Avaliações
Ainda não existem avaliações.