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Sobre as Festas da Agonia – ENSAIOS V

Como o próprio título indica, trata-se de um livro sobre as festas maiores de Viana do Castelo e que resulta de inúmeras reflexões que o autor fez ao longo de 20 anos (conferir o Prefácio transcrito em Comentários/Estudos).

Pela leitura do SUMÁRIO ficamos, já, com uma ideia clara dos vários ensaios que o terão originado:

SUMÁRIO

Transversal e Diacronicamente: história devocional e antropologia
* Origens da Romaria da Senhora da Agonia
* Romaria, feira, peregrinação
* Emergência do subnatural
* Via-sacra em Viana no século XVIII: de Santo António à Senhora da Conceição
* A devoção vianense a Nossa Senhora da Agonia
* Da depuração à fatimização das nossas festas rurais

Questões de organização e participação
* O policiamento da feira, há cem anos
* Cartazes da Romaria da Senhora da Agonia: anunciar a festa:1912-2002
* As ornamentações das festas e Carolino Ramos
* As crianças na Romaria de Nossa Senhora da Agonia
* Amadeu Costa: uma renovada maneira de organizar as festas
* Francisco Cruz, o homem das festas

Competições, desfiles e espectáculo
* Quatro breves notas sobre o desporto nas Festas da Agonia
* Cortejo etno-histórico – “os trabalhos e os dias”: Viana antiga, actual, de sempre
* Santo António em cortejo ou procissão
* A história das festas que desfilou no cortejo de 1998

OBS.: Em jeito de nota final diga-se que o livro está recheado de inúmeras fotografias, mais ou menos antigas, algumas belíssimas, mas todas mostrando-nos uma Viana de ontem, os seus homens, as suas feiras, os seus afectos.

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Conheça o autor

"Alberto Antunes de Abreu, nascido em Guimarães em 8 de Maio de 1945, tem dedicado grande parte da sua vida adulta ao ensino e à investigação. É formado em História e Ciências Documentais. Foi Professor, Bibliotecário e dirige o sector editorial da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Parte da sua investigação histórica e de Antropologia regional tem sido orientada numa perspectiva semiológica, a coincidir com a leccionação de Língua e Literatura Portuguesa no Ensino Secundário, o gosto pessoal pelas belas letras e a organização das Feiras da Lusofonia que comissariou entre 1997 e 2006. Eis porque “no conjunto da sua bibliografia activa se contam , ao lado de estudos sobre arte, comportamentos sociais, instituições e personalidades, história local, religiosa e antropológica, também de literatura em geral, poesia e teatro”. Citamos algumas das suas últimas obras: – Do discurso Lírico de Camões: a propósito do episódio do Adamastor (1982); – Prefácio dos Poemas da Resistência de Alfredo Reguengo (1985); – A Inculturação da saudade na diáspora judaica portuguesa (1996); – Camões a duzentos anos de distância, visto por Filinto Elísio (1997); – Fontes do Conto Popular (1999); – Historiadores Barrocos de Viana do Castelo (1999); – O Auto de Floripes e o Imaginário Minhoto (2001); – Prefácio de No Vão da Ausência de Adelaide Graça (2002); – Roteiro Poético de Viana do Castelo (2002; – Antologia Poética de Castro GIL, Org. e Pref. (2002); – A Chegada das Mulheres ao Japão, teatro (2003); – Do discurso barroco sobre a saudade (2004); – Prefácio de Sem as “Madeleines” de Proust de Amadeu Torres (2005); – A Poesia Vianense no último quartel do século XX (2005); – A Lição dos Clássicos em D. Francisco Manuel de Melo, homenagem a Amadeu Torres (2006). Alberto Abreu coordena ainda os Cadernos Vianenses. ( texto adaptado das referências inscritas nas badanas de Antologia Poética de Castro GIL e A Poesia Vianense no último quartel do século XX)"
Autor:

Editora:

Data de Edição:

Local de Edição:

ISBN

972-96713-3-8

Capa

Rui de CARVALHO

Apresentação Gráfica/Paginação

Capa

Prefácio

Uma colectânea de ensaios é, em grande parte, o balanço duma vida, porque aquilo que se escreve e o modo como se o faz reflectem necessariamente a própria história pessoal, já que, ao longo duma vida de investigação e escrita, se progride, aumentam os conhecimentos, se ganha maturidade para a elaboração de análises e sínteses, se afina a metodologia e se refina a epistemologia, quando não mesmo as posições ontológicas.

Tenho formação de historiador. A análise dos factos há-de enfermar, por isso, dos pré-conceitos inerentes. Mas sempre procurei não me deixar cair naquilo que Séneca tanto receava: “hominem unius libri”. Nem dum livro, nem duma só disciplina, e muito menos duma “cartilha”. As análises que aqui se recolhem, realizadas ao longo de um pouco mais de 20 anos, acusam pendores ideossincráticos algo diversificados, mas todos com a predominância duma visão historiográfica anti-historicista ( de combate ao historicism tão acertadamente denunciado por Karl Popper). E, além da História, outras leituras servem de urdidura àquilo que escrevo ( e que só às vezes vou descobrindo ao reler-me), particularmente a sugestão clássica, seguindo o magistério de Manuel Antunes. Assim, junta-se o imperativo metodológico de citar as fontes ,com rigor e na língua original o gosto de ler Hesíodo, Ovídeo, Cícero … e Tácito. (Haverá alguém que tenha dominado com tanta perfeição a linguagem como um homem que em três palavras escreve coisas que preenchem todo um capítulo na escrita dos outros autores? Não verificamos ainda hoje que “ prospera omnes sibi uindicant, aduersa uni imputantur”[1]?) .

Tenho, portanto que me penitenciar duma certa concisão de linguagem, que ao rever dos textos vou minorando. Assim como do insistente enriquecimento das minhas análise4s com o pensamento antigo, após a leitura – tardia, embora – de Eudoro de Sousa.

Porque os textos, os meus textos, são tão vivos e dependentes de mim como um feto de sua mãe. Enquanto os tenho comigo, vou-os emendando, rectificando, engrossando com informações colhidas ao sabor das leituras. Destes textos tive a preocupação de denunciar a primeira versão. Mas de alguns deles esta é já a terceira versão pública. Faço-o com a singeleza de quem sabe que a verdade é um transcendental e de que persegui-la é dever de todos.

Outro aspecto que devo denunciar neste pródromo à leitura da recolha efectuada é que estes textos são ensaios, no sentido sergiano e britânico do termo ( leia-se a propósito o notável opúsculo de Sílvio Lima): não visam uma recolha sistemática da bibliografia, nem esgotar os temas, nem defender teses:: tão só (singelamente, humildemente) apontar sugestões de análise e/ou de síntese interpretativa. A maior parte deles foram também escritos ad hoc,ao sabor de pedidos de amigos necessitados dum texto para compor as suas publicações. (…)

Procurei arrumar os textos de modo sistemático, com o que subverti a sequência diacrónica do meu pensamento, mas também suponho que ninguém deve estar interessado nele. O que procurei foi que, com estes ensaios, fossem lançadas novas hipóteses de interpretação, factos e documentos novos, e contribuir para enriquecer os outros dando-lhes um pouco de mim. E por isso só escolhi alguns e os arrumei por temas. (…)

Viana do Castelo, 2006-07-07
Alberto A. Abreu

[1] E lá está. Às vezes esqueço-me que já não se ensina Latim nas escolas. Mas passo a traduzir: “ do bem todos se gabam, mas a um só responsabilizam pelos males”. E o que não se escreveria a este propósito, acerca da sorte das armas (este inciso é da vida de Agrícola), da política … das artes, do futebol!

Excertos

A arte dos cartazes

O cartaz (ou poster) é um elemento visual de grandes dimensões (superiores às da folha volante, e hoje suplantadas pelas do rnupi e pelo outdoor) destinado a uma função teoricamente informativa, mas efectivamente apelativa, tal como sucede com a publicidade. Acumulou, portanto, as funções de promover e anunciar3 a data da romaria. Tendo perdido desde cedo os atractivos do inesperado e do imprevisto, acabou por se “entropizar”4 na mera informação cronológica (“A quantos de Agosto calham as festas este ano?”), função que se tornou importante a partir do momento em que a Secretaria de Estado da Informação e Turismo procurou localizar a festa num tríduo de fim de semana próximo do dia 20 de Agosto (data da festa litúrgica de Nossa Senhora da Agonia). A promoção da festa tem como alvo principalmente os forasteiros potenciais e por isso a mensagem se foi cristalizando progressivamente em torno do que se julgou ser o mais original e mais belo da cidade — o traje feminino dos camponeses locais.

Desde cedo se percebeu que fazer um cartaz não podia ser tarefa de amadores. Antes mesmo de António Ferro, à frente do S.P.N. (depois S.N.I.), ter sabido inteligentemente trazer as artes gráficas para o serviço da política, o primeiro cartaz (1912) e o de 1914 foram encomendados a um artista vianense da geração modernista, que mais tarde viria a aplicar a partir de Viana do Castelo a política de propaganda que Ferro dirigiria nos começos do Estado Novo. Depois dele, sabemos que os cartazes de 1934, 1943 e 1948 foram pintados por Luís Filipe (1887-1949); que os cartazes de 1936 e um dos de l955 foram de Maria Manuela Couto Viana (1919-1983); que os cartazes de 1940 e 1950 são da autoria de Carolino Ramos (1897-1961); o cartaz de 1953 reproduz uma aguarela de Alberto Sousa de 1935; um artista que parece ter assinado “Paolo’ pintou o cartaz de 1954; Carlos Carneiro (1909-1971) o de 1955; Joaquim Lopes (n.1886) o de 1956, ano em que faleceu; a Jaime Isidoro (n.1924) se deve o cartaz de 1957. Segue-se depois o período dos fotógrafos, só interrompido em 1971, quando do cartaz foi incumbido Juvenal Ramos (n. 1927) e em 1986, quando se resolveu fazer um concurso entre os pintores vianenses e o certame foi ganho por Aníbal Alcino (n. 1926). Depois foram os referidos períodos de 1990 a 1993, em que os cartazes foram pintados por Araújo Soares, Hélder (assina “Élder”) Carvalho, Mário Emílio e Rui Pinto, de 1994 a 1997.

Os fotógrafos que trabalharam para os cartazes das festas foram:
António Sousa (durante 19 anos seguidos, de 1959 a 1967); João Roriz (1968, 1970, 1983); os Estúdios Tavares da Fonseca realizaram as montagens de 1969 e 1984; Manuel Fontes fotografou os de 1972 a 1975; Joaquim Roriz (1976); (Gualberto Boa-Morte fotografou os cartazes de 1979, 1980, 1985, 1987, 1998 e 2005; Félix Iglésias Llano fotografou os cartazes de 1981 e 1989; Manuel Correia o de 1982; Vítor Roriz os de 1988, 1989 e 2002; Arménio Belo fotografou o cartaz de 2000; a empresa X77 realizou os cartazes de 2001 e 2003 e Rui Carvalho os de 2004 e 2006. Houve, portanto, depois do período António Sonsa, a preocupação de diversificar encomendas e dar trabalho artístico a todos (ou quase todos) os fotógrafos da cidade.

Mas, dum modo geral, a qualidade baixou quando se passou da pintura para a fotografia, com algumas excepções de que me permito destacar a força do cartaz de 1980 que reproduz uma revista de gigantones e cabeçudos na Praça. Muitas vezes parece que foram razões técnicas que traíram as expectativas dos artistas, como sucedeu nos casos de 1963, 1999 e 2001 que saíram com falhas de iluminação. Mas na maior parte dos casos foi a selecção iconográfica (fortemente dependente da ideologia, das obsessões ou da moda) que condicionou os artistas, O prestígio do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo levou à escolha de motivos santamartenses para os cartazes de 1959, 1960, 1963 e 1972 e a quase obsessão pelo respectivo traje. E idêntica teria sido a razão para a representação dos cestos de Vila Franca. A preocupação de apresentar vários motivos duma só vez conduziu à realização de montagens raramente felizes: a montagem de 1969 em que a lavradeira parece sentada sobre a copa dos pinheiros; a de 1970 que induz em erro, pois parece representar um caminho a meia encosta de Santa Luzia que realmente não existe. Ressalve-se a honestidade dos cartazes de 1974 e 1975 que assumiram com clareza serem duas fotografias, e a montagem feliz de 1985, de Gualberto Boa-Morte. Noutros casos, atingiu-se uma tal acumulação de pequenos tópicos e temas, que se andou perto do kitsch.

Quando David Rodrigues escreveu a bela introdução que fez para o catálogo de 1988, ainda pôde dizer que as composições dos cartazes apresentavam, dum modo gera], um “ar festivo, álacre e polícromo”. Mas também a vontade de variar e/ou a preocupação de originalidade levou à escolha de trajes sombrios como o “de meia-senhora” de 1988 e mesmo cenários nocturnos como os de 2000 e 2001, que ficaram bem longe da alegria juvenil de 1985.

3 M, Sousa, in Cartazes 1988.
4 D. Rodrigues citando Gillo Dorfles in Cartazes 1988.

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