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Variações em Sílaba Aberta

“Varições em Sílaba Aberta” é uma obra dividida em três partes que são introduzidas por textos extra textuais de outros poetas contemporâneos, que surgem como sumários iniciais e veiculadores do pensamento do poeta. Curiosamente levantam a problemática da recepção estética levantada por Jauss, no último quartel do século XX, ainda hoje actualíssima e delineada pelo triângulo:autor, obra e público.

Assim, o primeiro texto, um excerto do poeta António Ramos Rosa, que serviu de base à tese do mestrado do autor, anuncia-nos o papel singular do poeta que traça o seu próprio caminho, um caminho percorrido de palavras. Na segunda parte, um texto do poeta deveras conhecido, Manuel Alegre, refere-se à funcionalidade da obra, o poema que desvenda e inquire. E o terceiro texto que encabeça a terceira e última parte da obra, pertence a Eugénio de Andrade, recentemente galardoado com o prémio Camões, questiona sobre o público leitor, quem recepciona na sua pureza, as palavras ditas que são como cristais?

Passando destas linhas de leitura externa para a produção intertextual vê-se que em”Variações em Sílaba Aberta”a primeira parte é constituída por um único texto, No Litoral do Devaneio (pág.9), em prosa. Na segunda parte aparece uma poesia ao gosto classicista da nossa contemporaneidade mais próxima. A terceira parte é constituída por um longo poema em aberto, interrogativo, intitulado sílabas que “andam no ar”, na expectativa que as agarrem porque elas são ao gosto garrettiano, afagos de mulher e enleios de poeta.

A bonita capa alusiva à memória rupestre do Lindoso, a metáfora titular de todos os poemas inclusos: “Variações em Sílaba Aberta”, a estrutura externa, os textos protocolares, e sobretudo a excelência da poesia deste poeta são mais que pretextos para percorrer´, de lés a lés, este livro.

(texto retirado da apresentação do livro, feita pela Dra. Arlete Faria)

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Conheça o autor

"Agosto de 49. Dia 17. Ainda a manhã se não anunciava e já minha mãe, pesada e em fim de tempo, atravessava o vau do Lima, no embarcadouro do Pinheiro, em Stª Marta de Portuzelo. Ia, com meu pai, carregar um carro com mato, em Mazarefes. O tempo esvaía-se, asinha, e o sol prometia já torresmos. No cocuruto, em contorções, pedia mais paveias. Urgia carregar rápido e ajudar o Luís. Mas as dores engordavam angústias pelo que apressou a descida e com uma tia minha, a Xica, rumou a casa. Era noitinha quando eu nasci. Depois percorri costumeiras veredas: fiz a Primária com o Professor Almeida Fernandes e a catequese com o Padre Albino; fui seminarista em Braga, empregado de escritório na Auto-Lima e na Viúva José de Sousa, funcionário no MDP; mandaram-me para a guerra onde fui enfermeiro e estive na Guiné, no Xime e em Mansambo; fiz filosófico-humanidades na Católica de Braga e, mais tarde, só Humanidades. Quis-me professor.
E cá estou, na Secundária de Monserrate, quase em fim de tempo também. Recordo a Secundária dos Arcos, a de Stª Maria Maior e a das Cavaquinhas, no Seixal ... onde colhi e semeei afectos. Coordeno a Edição do PROFORMA (Boletim do Centro de Formação Contínua de Viana do Castelo), a Associação de Cooperação com a Guiné-Bissau, a construção da BIVAM (Biblioteca Virtual do Alto-Minho) e, com a Lai, sou responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral da Família (Viana). Tenho dois filhos e uma NETA, a Maria. Tenho muitos amigos. Sou feliz! "
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Data de Edição:

Local de Edição:

ISBN

972-97195-1-9

Capa

Prefácio

no litoral do devaneio

Há um canto onde tudo se dilui. Reino de fábula. E de fadas.Aí moram sonhos e fantasias. Às vezes invadimo-lo. Evadimo-nos. Às vezes invade-nos. Evadimo-nos. Às vezes…invadimo-nos. Assim.

Há um canto onde tudo se dilui. Aí, as palavras são desnecessárias. As palavras são as coisas. Só aí somos passentos do real porque mergulhados no magma de antiquíssimas memórias, mais de antes que a Hora.

Há um canto, limiar erótico ao longo da praia, onde tudo se dilui entre a água e a areia. Aí, no litoral do devaneio, moram os mitos que, não raro, visitamos.

Há um canto onde tudo se dilui. Aí crescem sílabas abertas à volúpiua dos construtores de mitos.

Excertos

e nasceu a poesia

Procurei-te por todas as ruas da cidade.
Da minha cidade. Da nossa cidade.
E ninguém me falou de ti.

Luziam nas casas os outros e os panos,
as fantasias e as bugigangas,
mas em nenhuma te sabiam.

As pedras construíam pedras,
as árvores bailavam árvores,
mas nenhuma te lembrava.

Até o sol só ardia.
Até a água só fluía.
Porque tu não estavas.

Parei. Já não havia a nossa cidade.
A minha cidade era. A tua cidade era.
A Nossa não, que te não encontrei.

E sorvi todos os bares
na íntima ânsia de diluir
esta intensa ausência.

Foi então que te vi.
Sozinhinha e triste, sozinhinha e nua,
estavas acenando, anichada

cá dentro, no fundo areal, antes de Tudo,l
no limiar onde as palavras se constroem,
entre o silêncio e a loucura.

Estavas bonita. Frágil. Só. Beijei-te.
Com carinho te acariciei, Eurídice.
Com palavras novas tangi minha lira

e nasceu a poesia.

tomou-me um farto cansaço

Tomou-me um forte cansaço.
Quero dormir. Só.
Quero um tempo para além de mim.
Caíram, sozinhos, todos os sonhos
de todas as roseiras
e lacrima, impotente, o despido jardim.

E as palavras que se não dizem,
saltam ressequidas
de suas conchas imperfeitas
no limiar fugidio
de todas as praias percorridas.
E o cansaço avança e me adormece
e se insinuam credos de escuras seitas
com rituais de um deus planetário.

E fujo.
Vou indagar nas arestas da dor,
a possibilidade de um sol
na nascente da vida
onde, eterno, durma o Amor.

Talvez aí descanse.
Talvez aí entenda a morte.
Talvez aí justifique este percurso
que não sei
ou o que quero dizer.

a inocente dormia

A inocente dormia,
alheia aos sabores,
quando sob a janela
uma incandescência
de sílabas vorazes
entumescia Romeu
de impossíveis amores
e da madrugada mais imatura
brotavam as promessas audazes.

Sob os afagos da mãe
a inocente dormia.
Mas Romeu também.

fernando do bolhão

pedra sobre pedra
construíste loquazes clautros
de palavras azuis

sílaba sobre sílaba
invadiste com rubros fonemas
a pacata violência dos paúis

e ouviram-te os peixes.

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