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Viana em 1517 – Urbanismo, Demografia, Sociedade

Matos Reis apresenta-nosm, nesta obra, um estudo dividido em quatro temas, todos eles referentes à cidade de viana nop primeiro terço do século XVI, com incidência na data de 1517: a paisagem urbana; a sociedade; a onomástica; trancrição da “finta para a construção da ponte sobre o Guadiana”.

Após a introdução, centrada na segunda finta, lançada por D. Manuel, sobre os habitantes de Viana, a fim de custear as obras da ponte sobre o rio Guadiana e no “rol de arrecadação” da mesma, documento manuscrito, composto por dois cadernos, com um total de sessenta e cinco folhas e que constitui uma preciosa fonte de informação sobre a tecitura urbana da vila, bem como sobre o panorama demográfico, económico e social, na era de quinhentos, segue-se o corpo do livro que, como foi referido, se divide em quatro temas.
1- A PAISAGEM URBANA
Sobre este tema, é focada a divisão da vila em dois grandes blocos: a sede do município e as freguesias rurais. Inclui ainda informações acerca do número de famílias que habitam em cada um dos blocos e o número total de habitantes do município.
Referindo-se exclusivamente ao núcleo urbano, salienta o seu traçado geométrico dentro da muralha e os diferentes aglomaredos populacionais aí existentes. Extrapolando as informações para o exterior da muralha, focaliza os denominados “arrabaldes” e o seu progressivo alargamento, fruto de um crescimento demográfico que, após ter ocupado os espaços vazios intra-muros, se vê na necessidade de se expandir pelas zonas periféricas.

2- A SOCIEDADE
Complementando algumas informações que deixou expressas no ponto anteiror e que comprovam a convivência, numa mesma rua ou arruamento, entre pessoas pertencentes a diferentes estratos sociais, António Matos Reis, voltando ao texto da supracitada finta, refere todos aqueles que ficaram isentos do seu pagamento. Acerca das viúvas e solterias, é-nos dito que só pagariam metade do estipulado. Salienta, também, que a partir da lista, pode ser conhecido o nome de todos os chefes de família da vila e freguesias do concelho.
Inclui ainda uma referência aos privilegiados e aos “humildes”, acompanhada de vários quadros em que se discriminam os mesmos por rua onde habitam e profissão ou título.

3- ONOMÁSTICA

Neste item, bastante curioso e interessante, o autor dá-nos a conhecer pormenores sobre a onomástica vianense da época: o facto de muitos habitantes seram conhecidos por alcunha ou de terem um apelido constituído por uma referência de natureza toponímica.
Quanto a nomes próprios, entre os homens, o mais popular é João, seguido de Gonçalo e Pedro (Pêro); já entre as mulheres, como no rol só são referidas as viúvas e as solteiras, Maria é o nome mais comum. Catarina, Beatriz e Margarida, aparecem também com alguma frequência.
No que se refere a apelidos, Distingue-se Rocha, REgo e Velho, seguidos dos pertencentes a famílias conhecidas na regiâo: Barbosa, Casado (Quesado), Costa, Cunha, Ferreira… Há ainda quem seja mencionado por um epíteto mais ou menos jocoso.

4- TRANSCRIÇÃO

Como o título indica, neste ponto é feita a transcrição da “Finta para a construção da ponte sobre o Guadiana”, iniciada com o “termo de abertura”, logo seguido do “Alvará” e da listagem dos habitantes/chefes de família, mencionando-se, para cada rua, o nome do contribuinte, o apelido, a profissão ou outro dado como o facto de ser pobre, viúva, solteira ou de se tratar de um privilegiado e a contribuição que deveria pagar.

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Conheça o autor

"António Matos Reis nasceu nos arredores de Ponte de Lima, em 21 de Abril de 1943, e reside e trabalhou em Viana do Castelo, desde 1975 até à data de aposentação. É mestre em História pela Universidade do Minho, apresentando uma dissertação em História Medieval, posteriromente publicada em 1991, com o título "Origem dos Municípios Portugueses". Tal obra veio a tornar-se uma referência obrigatória para quantos se debruçam sobre a história do municipalismo em Portugal. Obteve o doutoramento, em 2004 com a defesa de tese sobre "Os Concelhos na primeira dinastia". Especializou-se em Museologia, na U.I.A. de Florença, em 1977, e pós-graduou-se em Estudos Especiais de História e Crítica de Arte, na mesma Universidade, em 1984. A sua actividade profissional repartiu-se até à data de aposentação, entre o ensino secundário oficial (1966 - 1999) e a direcção do Museu Municipal de Viana do Castelo (1989 - 2006). Neste museu exerceu o cargo de Conservador. Foi também Director do Departamento de Desenvolvimento Económico, Social e Cultural da Câmara Municipal de Viana do Castelo, desde 10 de Maio de 1990 até 31 de Dezembro de 1993. Tem exercido funções de direcção em várias associações: Vice-Presidente e depois Presidente da Direcção do Centro de Estudos Regionais; Secretário-geral e depois Vice-Presidente do Instituto Cultural Galaico‑Minhoto; sócio fundador e membro da Comissão Instaladora do Instituto Limiano - Museu dos Terceiros; sócio fundador, membro da comissão instaladora e Presidente da Direcção da Associação de Jornalis­tas e Homens de Letras do Alto Minho. É membro de várias associações, entre as quais se destacam: a Sociedade Portuguesa de Estudos Medie­vais; a Sociedade de Museologia, de Florença; o ICOM (International Council of Museums); a APOM (Associação Portuguesa de Museologia); a ASPA; a APH; a APAC. Foi Presidente da Comissão Organizadora das IV Jornadas Regionais sobre Monumentos Histórico‑Militares (Valença, 1984); membro da Comissão Organizadora do Congresso sobre a Ordem de Cister em Espanha e Portugal (Ourense, 1992) e da Comissão Organizadora do V.º e do VI.º Colóquios Galaico-Minhotos (Braga, 1994; Ourense, 1996). Reorganizou o Arquivo Histórico da Misericórdia de Ponte de Lima, e promoveu a publicação do respectivo catálogo. Em 1995, fez o levantamento do Património Cultural, situado entre Caminha e Esmoriz, para o Plano de Ordenamento da Orla Costeira. É autor de cerca de centena e meia de títulos, entre livros, estudos e artigos publicados em diversas revistas. Proferiu já várias conferências, em congressos e colóquios, em Portugal e no estrangeiro. Por deliberação unânime de 27 de Janeiro de 1997, a Câmara de Ponte de Lima atribuiu-lhe a "Medalha de mérito cultural" que lhe foi entregue no dia 4 de Março do mesmo ano, na sessão solene comemorativa da fundação da vila."
Autor:

Concelho do autor:

Editora:

Data de Edição:

Local de Edição:

ISBN

972-9397-16-3

Prefácio

“Em 1517 estava em construção a ponte da Ajuda, cuja função era a de estabelecer a ligação entre os concelhos de Elvas e de Olivença. Neste data, El-Rei D. Manuel ordenava a segunda finta ou tributo destinado a financiar as obras da pontesobre o Gaudiana,

Já antes tinha sido lançada a primeira finta com a mesma finalidade, tendo sido o mesmo, Jusarte Lobo, o recebedor que, na cidade do Porto, recolhera o contributo da gente do norte. Esta não é, aliás, a primeira ponte construída sobre o Guadiana. Por um documento da Chancelaria de D. Pedro I, sabemos que já durante o reinado deste monarca estava em curso a obra de uma ponte sobre o mencionado rio. Aos nosso dias, porém, chegou apenas o rol de arrecadação desta segunda finta, o qual se conserva no Arquivo Municipal de Viana do Castelo, onde tem a cota 957.

Excertos

“1- A PAISAGEM URBANA

1.1- O CENTRO MEDIEVAL

O concelho de Viana, em 1517, aparece-nos dividido em dois grandes blocos: a vila de Viana, sede do município, e as freguesias rurais que constituem o termo do concelho. No total habitam no município de Viana 1544 famílias, 711 na sede do concelho e 833 nas freguesias rurais. se adoptarmos a média de 4,1 membros por família, considerada normal para a época e que corresponde à que se consegue apurar com números concretos para 1561, Viana, em 1517, tem à volta de 6330 habitantes, sendo 2915 na vila e 3415 nas freguesias do termo.

a vila de Viana reparte-se em vários núcleos:a vila propriamente dita, situando-se no interior da muralha medieval, é constituída por um rectângulo, ou mesmo um quadrado, dividido em ruas e quarteirões, que correm paralelos ao rio e uns aos outros, na direcção nascente-poente. este traçado geométrico, que só não é totalmente rigoroso porque as suas linhas se amoldavam às curvas de nível do terreno, constitui um caso particular no nosso urbanismo medieval.

a mais próxima do rio, como o nome indicia, é a Rua do Cais. O facto de neste se concentrarem algumas das mais importantes operações económicas da povoação, explica que seja esta uma das ruas mais povoadas, nela vivendo 68 famílias, de vários escalóes sociais – e este convívio é característico de quase todas as ruas e espaços de Viana – , sendo a que no conjunto é habitada por um maior número de privilegiados (7), que cinclui 3 cavaleiros e 2 privilegiados com carta de armas. moram nesta rua os homens da governação: o juiz Martim Fernandes do Castelo, e, fruindo de privilégio na qualidade de “cidadãos”, Gomes Rocha, MArtim da Rocha e Gonçalo Afonso Peixoto, e gente de maiores haveres, registando-se também a existência de 5 pobres, 7 ou 8 viúvas e 4 solteiras.

o meio da povoação é atravessado pela Rua Grande, assim chamada por ser a que apresenta maior largura, dando continuidade à estrada que vinha de nascente, do lado de POnte de Lima, e continuava para poente, na direcção do mar, flectindo para o lado de Caminha. É talves a rua mais povoada de todas, com 72 famílias, embora o número de habitantes pudesse não ser maior d oque o da Rua do Cais, porque nela vivia um maior número de viúvas (umas 24). na Rua Grande tem a sua casa um morador que goza do privilégio de carta de armas, o bem conhecido João Álvares FAgundes, havendo aí mais umcavaleiro e um outro privilegiado na qualidade de “cidadão”, isto é, por fazer parte da governação local, que oe Gonçalo Pereira.

Entre as duas situa-se a Rua Cega, mais estreita e sombria, como o nome sugere (talvez se chamasse assim por não ter saída de um dos lados), habitada por um número mais reduzido de famílias, pertencentes, de um modo geral, a um modesto escalão social. é a rua onde vive o maior conjunto de pedreiros da vila.

a norte da Rua Grande situam-se as Ruas ditas de JOão Casado e do Tourinho, designações que apareceram numa data em que aí habitavam figuras conhecidas da povoação que usavam aquele nome e aqueles aspectos.

A Rua dita, em 1517, de João Casado chamar-se-á, em meados do século, Rua da Judiaria, ressuscitando um nome com que decerto fora conhecida antes, mas que, devido a acontecimentos ainda vivos na memória de todos (a perseguição aos judeus, a sua conversão forçada, e o aparecimento dos cristãos novos), em 1517 se poderia considerar execrando. Também aqui não vive qualquer privilegiado por títulos de nobreza ou similares. é, em número de habitantes (34), a terceira mais povoada dentro da vila.

De todas, a menos habitada é a Rua do Tourinho. REsidem nela 31 famílias, e predominam as pessoas de condição mais humilde, com um bom número de mulheres que viverão sozinhas (viúvas e solteiras).

No extremo norte da povoação, situa-se a Rua do Poço. Não é das mais habitadas (42 famílias) e isso dever-se-á ao facto de inicialmente apenas se erguerem moradias de lado sul, como sugere o seu perfil amplo e, para a época, a relativa modernidade das mais antigas casas do seu lado norte. Apenas um dos moradores goza de privilégio (de vassalo).

Não ha referências a arruamentos perpendiculares aos anteriores ou a outros, no interior das muralhas de planta arredondada.

Os espaços que se estendiam entre o rectângulo formado pelo conjunto habitacional e os muros destinavam-se a usos e a equipamentos colectivos: os Paços do Concelho, os mercados e os fornos, a feira (instituída em 1286), o Hospital e a Igreja, construída e logo ampliada na segunda metade do século XV.

Durante a Idade Média era proibido construir junto às muralhas. Levantada essa proibição por alvarás de D. Manuel, e transferida, no início do século XVI, a feira e os paços do concelho para o exterior da muralha, os espaços intermédios serão ocupados e preenchidos gradualmente por volta de 1530. É, aliás, desse modo, através dos processo relativos à sua privalitazão, que ficamos a saber que em data anterior esses espaços não estavam cobertos por habitações: em 1531, a Câmara põe em hasta pública o espaço situado entre a porta das Atafonas (entrada do lado de Ponte de Lima) e a torre do Cais, portanto no ângulo sudoeste da pvoação, e do mesmo modo os do lado oposto, no ângulo sudoeste, onde até então se situava o “açougue do pescado”, isto é, o mercado do peixe, que foi transferido para o espaço contíguo no esterior das muralhas, onde permaneceria durante vários séculos. também o espaço localizado entre a igreja e a porta de Santiago, seria alienado, em troca do rompimento dos penedos que preenchiam essa área, onde presumivelmente se situaria o edifício dos Paços do Concelho. Contíguo a este ficaria já o espaço ocupado pelo forno ou pelos fornos ainda hoje indiciado pela topon+imia, e logo a seguir, a norte da Rua do Poço, a área destinada ao mercado dos cereais e à feira, em geral. No espaço existente entre o prolongamento da Rua Grande para poente e o ângulo noroeste da vila, foi construído, no séc. XV, o Hospital depos chamado Hospital Velho, para o distinguir do novo Hospital da Misericórdia, construído fora dos muros, depois de 1523.

Com o preenchimento dos espaços referidos, as ruas preexistentes prolongar-se-ão quase todas até às muralhas (a excepção é a Rua do Tourinho, que desembocava, de um lado, no Hospital Velho, e, do outro, na praça da Matriz), e, atravessando-as, em perpendicular, surgirão novos arruamentos, ainda não existentes em 1517: a rua “do Postiguo até à porta do CAmpo do Forno”, e a “do Hospital (Velho)”.”

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