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ISBN | 972-8257-44-9 |


Burguês Anti-Burguês
(…) Burguês Anti-Burguês denuncia os interesses criados e instalados que abafam e apagam na consciência a realização íntima e profunda do eu, da vida e até do amor. Impedindo a auto-realização, fazem do homem uma máscara de futilidade e ilusão caindo-se no inautêntico e no fora de si, na exterioridade do mim. Surge aqui a linha mestra de quase toda a obra, a luta entre o espírito e a matéria. (…)
A vida, e por consequência a obra, é uma superação. Poesia do frágil derruir de tudo, do declínio da ilusão “Cumpre o teu dever que é envelhecer” e de algum desprendimento em que o tempo surge como crepúsculo total na sua fugacidade que apaga e destrói o efémero e o sonho, igualando os humanos na morte. A morte como o grande horizonte ou aurora da vida é também um tema central na obra de Geraldo Aresta.(…)
Mas, se a presente obra brota da intimidade, é de nóms que ela se ocupa e, por isso, nos abala. Porque nos arranca a máscara e vai directa às nossas fraquezas. (…)
in Prefácio de “Burgês Anti-Burguês”
( excertos)
Prefácio
Geraldo Aresta conviveu e relacionou-se com alguns dos grandes nomes da literatura do séc.XX: Miguel Torga, Régio; Casais Monteiro, Bernardo Santareno etc. Oriundo duma família de escritores e jornalistas que deu nomes de alguma importância à literatura contemporânea (citando-se apenas, por já desaparecido, José Cardoso Pires), era avesso a ideologias políticas. Num apagamento deliberado, trabalhou em silêncio, produzindo por necessidade íntima o que lhe saía de espontâneo. Por convicção. A sua obra nasce da necessidade de racionalizar o real e consciencializar o eu numa tentativa de dar sentido à vida. E ao falecer deixou vastíssima obra inédita, fruto da sua versatilidade na novelística, literatura infantil, drama, comédia, conto, poesia, sátira e ensaio até.
Com a publicação de Burguês anti-burguês a família de Geraldo Aresta inicia a tarefa de impedir que a sua melhor produção poética, porque da maturidade, desapareça e em boa hora o faz.
Raramente os poemas têm título, muitas vezes o autor organizava-os por ordem alfabética. Outros têm o título genérico De Mim para Mim.
Abrangendo o período de 1950 até 1976, Burguês anti-burguês denuncia os interesses criados e instalados que abafam e apagam na consciência a realização íntima e profunda do eu, da vida e até do amor.
Excertos
Ah ser estúpido e bom
mas fibralmente humano!:
deixar-me invadir por mim
sereno e ignorado,
sereno e condenado
ao meu fim.
Somos nós a alcateia, os lobos
feitos fantasmas e bobos
da nossa servidão:
focinho no chão
roendo, roendo,
mastigar moendo,
moendo, mais não.
Moído, transido
de medo e futuro,
sabes que és tu o monturo,
o lagarto ao sol aberto,
o lesma que bate certo
com teus dias,
teu acerto.
Caem sonhos por ti mortos:
são abortos,
sacrossantas agonias
de outra alma que já tiveste
e temias
Sem respeito
irreverente
e tranquilo
tu andas, Geraldo,ao jeito
de tudo isto e mais daquilo.
Patas no chão:
os dias mordem
tu gemes
explodes e reexplodes
mas não tremes
irreverente
como gente
que não temes.
Sacode a canga
e a morte:
os sonhos te fazem forte,
o tempo te sacudiu.
Cumpre o teu dever
que é enriquecer,
cumpre a tua obrigação
que é dizer não
à poesia,
fantasia,
coração.
Amealha,
respeita
e consagra:
és um louco, Geraldo,
se sais disso:
sai-te do peito
o repeito
e o viço.
Cumpre o teu dever
que é envelhecer.
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