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Meu Coração Caminheiro

No livro Meu Coração Caminheiro, o coração malicioso e inconstante que brincou com as «paisanas» ou as namorou sem propósitos de «bom fim», sofre já, sangra já, atingido pelo verdadeiro amor. Apresento, como exemplo, três poesias: Saudades (…) o excerto de um longo poema, Impossível Amor, pertencente à terceira e última parte do livro, intitulada Descendo a Encosta (só um ano depois, com este mesmo nome, apareceria a obra de Eugénio de Castro!). Tal como a primeira, surge colorida de transparentes tintas românticas (…) E, por fim, a terceira poesia, decerto a mais exemplar na estrutura pemática, na beleza das sínteses e, também, a mais liberta do molde naturalista. Chama-se Órbita Fatal e prova bem que o seu autor não é um mero aspirante a poeta, mas um poeta autêntico que merece ser salvo do esquecimento a que a fatalidade do Letes o votou (…)

António Manuel Couto Viana, Poetas Minhotos, Poetas do Minho

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Conheça o autor

"«ERNESTO SARDINHA, de seu nome completo Ernesto Firmino Trindade Sardinha, nasceu em Lisboa (freguesia de Santa Cruz do Castelo) a 5 de Maio de 1888. Após o Ensino Primário feito em Lisboa, frequentou o Liceu de Évora, vindo mais tarde (o seu pai, oficial do exército, estava sujeito a estas andanças) para o Liceu de Viana do Castelo, onde concluiu o sexto ano, tendo o sétimo sido feito no Sá de Miranda de Braga, visto ao tempo não o haver aqui. Sucessivamente fez os preparatórios militares na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, de onde ingressou na Escola Militar. Concluído aqui o curso, e por força da 1.ª Grande Guerra, integrado na Brigada do Minho seguiu para a Flandres, onde combateu como oficial.Regressado a Viana, a sua querida Viana, terra escolhida como sua por opção, aqui viveu até ao seu falecimento, em 14 de Setembro de 1950.» Em 1922, em edição da revista Lusa de Cláudio Basto e Pedro Vitorino, Ernesto Sardinha publicou as suas primeiras poesias, já divulgadas em jornais vianenses (Aurora do Lima, O Povo, Folha de Viana). Para além de tenente-coronel do exército, foi jornalista, poeta, escritor com diversos livros publicados, tendo também realizado conferências e palestras. Foi colaborador e director do jornal Aurora do Lima, cargo que desempenhava à altura da sua morte. Nota: Biografia elaborada pelo filho do autor, complementada com dados recolhidos na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira"
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Capa

Excertos

SAUDADES

Há quanto tempo que te não vejo!
Que será feito de ti, Amor?
Passo e repasso, não há ensejo,
Por mais que passe nunca te vejo!
Que será feito do meu Amor?

Guiando os passos para o teu lar,
Meu coração, norteador,
É como agulha de marear,
Marca-me os rumos a procurar
Que será feito do meu Amor!

Há quanto tempo— tanto! parece —
Tudo me vela sombria cor!
Como esta falta não me entristece,
Espero o dia, nunca amanhece…
Que será feito do meu Amor?

Ai de minh’alma, triste e coitada,
Neste abandono desolador!
É como a lareira desamparada,
A que faltaram com a enxada
Que será feito do meu Amor?

Sinto as saudades a suspirar:
— Que será feito do meu Amor?
Passo e repasso, torno a passar,
Quanto mais perto estou do teu lar,
Fico mais calmo, fico melhor.

Passo e repasso, olho as janelas!
Que será feito do meu Amor?
Mas de nada serve demora a vê-las,
Se tu não chegas, são como estrelas
…Não acendidas pelo Senhor!

Se tu não surges, lembram-me altares
Pela Quaresma, quadra de dor!
Aleluia, se tu chegares!
Oh! Que tristeza não assomares!
Que será feito do meu Amor?

IMPOSSÍVEL AMOR
(Excerto)

Impossível amor! E mal abarco
A espessura do mar, em que naufraga
Meu coração, o miserável barco,
De encontro à aresta da escabrosa fraga.

Ai do nauta, acossado da tormenta,
Que ao descobrir enfim o porto amigo,
E quando a esperança o acalenta,
Naufraga à vista do almejado abrigo.

Ah! Como deve ser dilacerante
A agonia na luta com a vaga,
Se quando já da terra tão distante,
Sente que a onda, a pouco e pouco, o traga!

Impossível amor! Ai do varado
Por golpe repentino da Desgraça!
Recusa crer, e em seu olhar pasmado
Clarão estranho de desvairo passa!

Ai do que a luz não mais verá acesa,
E só deixaram olhos de chorar!
Ai do pobrinho, que entra, à noite, o lar
E não encontra pão na sua mesa!

ÓRBITA FATAL

Verdadeiro amor!
Sol da nossa vida!
Nasces: bendito seja o seu alvor,
Que nos acorda a alma adormecida.

Sobes: meio-dia!
Fulgem mais alto os raios teus!
E nossa alma, se então já subia,
Olha em redor, e só encontra Deus!

Desces: no ocaso
– Trajectória fatal – tu já declinas;
Vais atingindo o horizonte raso
Mas aqueces, amor, inda iluminas!

Crepúsculo triste!
Órbita fatal!
No horizonte raso te sumiste,
E vai descendo a sombra pelo vale!

Espelha-te o luar!
(A luz somente, não o teu calor)
Fica o luar na noite, a iluminar,
Fica a ternura, que é luar do amor!

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