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Espigueiros

Primeira obra literária de Paulo Barreto, ESPIGUEIROS “pão com estórias” oferece aos seus leitores “estórias” protagonizadas pelas gentes do Vale do Âncora.
Lado a lado com diversas imagens pictóricas de espigueiros, é descrita a vida das gentes de Âncora em tempos difíceis.
“Apresentado na primeira pessoa, (…), não é a história do EU que sobressai. Digamos que aquilo que ressalta de mais importante são os episódios de uma determinada época, num lugar exacto, com vários intervenientes de carne e osso.
Para situar o leitor e se situar ele próprio, o autor começa a narrativa de forma exemplar:
“…estão a completar-se 60 anos que, na companhia de meus Pais, andei pelas ruas a semear estrelas… as estrelas partiram para o lugar que era o seu, deixaram a terra e, na dança mais bela que as gentes olharam escreveram no Céu: Acabou a guerra!!!” (guerra de 1939/45).

(…)
Os espigueiros, esses, foram o pretexto para nos falar do tempo da guerra, da fome, do racionamento, dos compadrios, da repressão, também da solidariedade e da coragem s do comboio fantasma que transportava para fora o que para muitos faltava cá dentro.
Na escrita, o autor, intencionalmente, salienta mais as figuras modestas do que as altas personalidades.(…)

O pão, sempre o pão, abrindo também a porta à etnografia.
(…)
Mas volta, não volta, página que passa e o Pão sempre na estória.
Na masseira, a mulher de mangas arregaçadas, as mãos e os antebraços bem lavados com sabão azul e branco, punhos fechados como se quisesse agredir o mundo, dá,que dá, na massa que irá levedar.
E o livro vai-nos falando da levedura caseira- o fermento – da mistura das farinhas, da água quente e do sal que baste…
(…)
São verdadeiras informações etnográficas, óptimos pontos de partida para estudos académicos.
Glória Maria Marreiros