António Rodrigues

Ora di djunta mon tchiga (é a hora de darmos as mãos)

É um livro a preto e branco, constituído por 33 poemas, escritos entre 2001 e 2005 em Cacheu, Bissau e Viana. É ilustrado por belíssimas fotografias que correspondem exactamente aos referentes dos textos.

São poemas motivados pela experiência e vivências guineenses do poeta.África, Guiné é assim pretexto para exprimir o que sabe e o que sente, como está bem patente no lindíssimo poema “” África preciso de ti”. Mas África é também pretexto para o poeta nos levar a seguir o percurso dos sentidos : a visão das paisagens paradisíacas; a beleza incontestável das mulheres de Cacheu; a húmida quentura do sol africano; a sonoridade do mar, dos insectos e das aves; os aromas, os cheiros de África. A natureza africana está erótica e sensualmente representada nos poemas ´Há tão lindas mulheres em Cacheu” e ” Na praia Varela”

Mas o poeta é suficientemente inquieto para se ficar só pela comtemplação da natureza e emerge, então, uma lírica em que é invadido pela dúvida, pela impotência e pela desesperança, como no poema” Despacienta-me intruso” ou num outro, talvez dos mais bem conseguidos ” É quase noite” em que há uma busca desesperada de sentidos, de razões que leva o poeta a questionar-se -“Que faço em África? Que construo? Construo?!

Mas estas dúvidas, esta impotência são, afinal, aparências falsas porque o grande fio condutor da quase totalidade destes poemas é, sem dúvida, a esperança.O poeta só se realizará neste mundo quando uma parcela de si, que é África, for feliz. E o poeta acredita na mudança.No poema “Mesmo quando o rio é imenso” todo o léxico é escolhido para exprimir a mensagem da esperança na mudança. A esperança “mesmo quando o rio é imenso”; mesmo quando a distância que nos separa de África é um oceano; mesmo quando os homens retardam as soluções que se impõem.

É preciso dizer que José Luís Carvalhido da Ponte é um homem de projectos-afectos em que a solidariedade é a letra de forma, Assim, a totalidade da receita da venda deste seu livro, lançado em Julho de 2006,reverteu a favor da Plataforma Guiné-Bissau , de que ele é o grande impulsionador, e que se encontra a angariar fundos para vários projectos na Guiné, entre eles a construção de uma pequena maternidade.