2004

Aprendiz de Ventos

Este livro, que abre com a expressão “O livro está morto!…/… O livro nunca esteve tão vivo!” pertence à Colecção Nus, com concepção de Ex-Ricardo de Pinho Teixeira, design de Paulo Cruz e fotografia de Ricardo Silva, não apresentando qualquer dedicatória nem prefácio.

“Natural de Viana do Castelo, residente há três no concelho gaiense e com apenas 20 anos de idade, Alexandra Costa acaba de entrar para o espólio nacional da literatura portuguesa. Aprendiz de Ventos é o título da obra editada pela Corpos Editora e que reúne 30 poemas, escritos e inspirados enquanto estada e viaja entra as duas cidades do coração” (Viana do Castelo e Vila Nova de Gaia), com excepção de dois poemas compostos na Foz do Arelho.

A poetisa, na apresentação do livro no ISLA, referiu: «Tinha os poemas escritos e não tinha um título para a obra. Como sou uma aprendiz, escolhi como título “Aprendiz de Ventos”».

A poesia de Alexandra Moreira da Costa dá frequente e particular atenção ao quotidiano como lugar de objectos e pessoas, de passagem e permanência (cf. “Fado a Viana”, “Cheiro Vianense”), de ligação entre um tempo histórico e individual (cf. “Tempo”, “Mudança de Hora”, “Dia Seguinte”). É uma poesia de pendor confessional (cf. “Vento”, “Brisa de Outono”, “O que não sinto”, “Sou Eu”), marcada pela melancolia, oscilando entre o excesso da experiência emocional e física e uma melancolia desolada e solitária (cf. “Manhãs”, “Abraçada pela morte”, “Revolta”), ora exaltando uma paixão pura e saudável (cf. “À luz da Ericeira”, “A Lagoa”, “ser”, “Receita para Amar”) ora clamando uma paixão urgente e dolorosa (cf. “Sonho com Eros”, “S’ayapo”, “Sobrevivência”, “Fazes-me falta”, “Passos”, “Fingimentos”) . Por esta concepção de poesia ressoa também um grito da fragilidade extrema e irredutível do ser humano, do seu desamparo infinito, da sua revolta e da sua esperança (“cf. “FRASES SOLTAS”), reflectindo muito daquilo que encontramos em Al Berto (cf.”Al Berto”). Nesta obra, podemos ainda encontrar as seguintes linhas temáticas: – concepção poesia/poeta (cf.”Linhas”); – tentativa de definição de vida (cf. “Vida”).

Badaladas da hora que passa

Colectânea constituída por 77 artigos publicados em jornais regionais (Diário do Minho,Notícias de Viana, Aurora do Lima, O Vianense e Falcão do Minho).

Num estilo, por vezes, irónico, e onde abundam os jogos de palavras, o autor aborda uma panóplia de temas que vão das tradições académicas ao futebol, da religião à política, dos feriados e dias santos às portagens nas Scut, da televisão à natalidade e interesses juvenis ,sem esquecer as contradições da sociedade portuguesa.

Domingos José de Morais

Repartida por dez capítulos:
I- O Cidadão Areosense
II- A perda de um Insigne Vianense
III- Um Empresário de Sucesso
IV- A acção beneficente de DOmingos José de Morais
V- A Escola Domingos José de Morais
VI- Domingos José de Morais e o Lar de Santa Teresa
VII- A (in)Gratidão de Viana e a Homenagem de Quartin
VIII- Um coração de Ouro
IX- O Monumento que nunca existiu
X- Conclusão,
a biografia de Domingos José de Morais, o “pai dos pobres” conforme foi apelidado após a sua morte, e homem de coração magnânimo, como o comprovam os testemunhos relatados ao longo do livro, contempla aspectos da vida pessoal e empresarial do biografado, assim como a sua acção beneficente em Viana do Castelo ( na cidade, propriamente dita, em Santa Luzia, no Lar de Santa Teresa, na fundação de uma escola gratuita para crianças do sexo masculino e em Areosa) e em Lisboa.
Nomeia as personalidades que responderam ao apelo feito por Quartin para darem testemunho da vida e acção meritória de Domingos José de Morais, citando passagens desses depoimentos.
Por fim, lança o repto à sociedade vianense, para que, na senda do que desde a sua morte foi desejo dos verdadeiros amigos, publicamente expresso na imprensa regional, embora jamais acolhendo a desejada resposta, seja erigido um monumento à memória deste insigne vianense.

Fala de Uma Professora ao Volante no IC1

Uma “circunspecta e vulgar professora do Ensino Básico” percorre, ao volante do seu Seat Leon Tdi 1.9, os 70Km que separam Viana do Castelo do Porto.

Ao longo desta viagem – que ela mede em tempo e já não em Km – arrastada pelo “rio do pensamento” vai divagando, em ameno diálogo, (ou será um monólogo a 2 vozes?…) com a “criatura” a quem, hoje, deu o dom da fala mas que só ela vê e ouve.

Assim, seguindo o fio do pensamento, esta viúva de um “defunto falecido”, esmagado por um “atrelado voador” na IC1, vai tecendo, com ironia e sarcasmo, os mais inesperados comentários sobre variados assuntos: professores, alunos, vizinhos, algumas figuras da cidade, o ensino, a política, a cultura, o racismo, a moral, … Os temas sucedem-se, cruzam-se, tecendo uma teia que não tem outra trama a não ser o divagar do pensamento porque, como a própria personagem explica, “o rio do pensamento é isto mesmo, não tem nascente, nem margens, menos ainda foz ou bússola para se orientar”. Só que, de vez em quando, é assaltada pelos “tumultuosos pensamentos roxos” que tanto a atormentam e dos quais se defende elaborando, mentalmente, listas de compras de supermercado.

No entanto, à medida que constrói um retrato corrosivo da nossa sociedade, com seus preconceitos e hipocrisias, esta mãe de dois adolescentes vai sendo confrontada, graças às intervenções da sua “interlocutora”, com os seus próprios medos e reais problemas pessoais. Ao longo desta viagem, que se repete diariamente, há já três anos, com espírito de sacrifício, tal “quotidiana peregrinação”, acaba por tomar consciência do desleixo que inundou a sua vida e o seu ser. Sem tempo para nada nem para ninguém (incluindo ela própria), dividida entre os filhos, a casa, a escola e a empresa PLURIPESSOA (que persiste em manter em mémória do falecido), amarga e ressentida, apercebe-se do caos que tomou conta da sua existência. A empresária pouco faz e menos gere mas desgasta-se com o despreso do Senhor Mário Santinho Isabel, ex braço direito do falecido; a professora perde os testes dos seus alunos e só os descobre, graças a uma travagem brusca, quando já outro ano lectivo está prestes a iniciar; a mãe pouco vê os filhos, cada vez menos os conhece e nem sabe se a filha reprovou; a mulher não tem tempo para nada e menos ainda para ir ao cabeleireiro pintar os “subversivos cabelos brancos” que tantos a incomodam; o carro, de tão sujo, já nem tem cor definida… Com tudo isto, será que o cabelo vermelho da filha e o gosto do filho pela arte da culinária haviam de a preocupar? Pois é precisamente isso que parece sugerir a “Voz” que ela acusa de ser “uma má consciência”.

Mas é numa segunda parte, desta vez numa narrativa feita na 3ª pessoa do singular, que tomamos conhecimento do desfecho e ficamos a saber quais as consequências destas deambulações pelos meandros do pensamento (consciente ou não). É o momento de fazer escolhas, de tomar decisões, de olhar para o presente e retomar a vida.

Um “golpe de asa” antes do regresso definitivo pela IC1 em direcção a Viana do Castelo.