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Presépio de Pão

Três contos de Natal passados num mundo rural onde pobreza, amor e esperança se misturam.

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"Na badana do livro Presépio de Pão, lê-se: Nasceu, segundo os arquivos, em Ponte de Lima no ano de 1949. Diz-se que o dia era entrudo. Gasto o tempo das escolas, vê, por um canudo de filosofia inútil, a estreita carreira de professor, em Braga. Um dia, demorou-se a ouvir a terra: canta O rito do pão que (o) viu crescer. Houve, porém, uma guerra: Troféus de caça é a memória desse tempo que um lugar de retaguarda con-sente. Em dilúvio de chamas se detém agora, enquanto poemas e prosa dispersa por revistas e/ou páginas literárias de Portugal, Brasil e Espanha. Morrerá na devida altura."
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Presépio de Pão (terceiro conto)

É quando as primeiras nódoas do bolor desgostam a última boroa, que Maria da Panificação ordena outra fornada.
Madrugada, a mulher recordou ao marido a necessidade das aparas. “Boas como palha para acender o lume”.
– Afirmava. Nesse dia, porém, os vizinhos não diriam que José Tanoeiro carregava um pipo de fitas velhas e um feixe de lascas inúteis, para haver pão novo. Hoje, não. A Maria vai passar, mas é, a tarde à roda dos tachos. Que mãos para doçarias tem ela. Quem deixaria para agora cozer o pão?
Daniel e Natália, ao meio-dia, recolheram o gado às cortes, mas não cobriram os estrumes com paveias de mato morto. A mãe, logo mais, da bosta vai servir-se para calafetar as frinchas da boca. Porta não há que detenha o vulcão de um forno.
Mas o rito do pão não renega as cerimónias da quadra. Há-de haver batatas, bacalhau, nabos, couves, rabanadas, aletria, vinho doce e mel, pinhões. E, claro está, o pão fresco que às bocas se entrega como um puro beijo de amor. Mas presépio, em casa, jamais fora necessidade. Na escola, sim. “Todos os meninos que tiverem imagens – recomenda a professora – devem trazê-las”.
Decorriam as tarefas da artesanal panificação. A mãe, livrar-se dos impecilhos, só lhes dando uma acogulda malga de massa:
– Cada um faz a sua bola. Mas vamos lá nós agora adivinhar: que podem as mãos de uma criança fazer com o engenho que lhes roda a cabeça?
– Natá. Pst, ó Natá. Olha.
– Olha, Niel. – Respondeu a irmã que língua solta ainda não tinha para o nome completo do irmão.
– Quem é?
– E o teu?
Riram-se as crianças em seus pensamentos. Na palma das mãos cumpria-se a ternura da paz.
– Vamos fazer um presépio? – Propôs Daniel.
– E menino?
– Deste resto de massa. A mãe coze-os antes de enfornar. Faremos um presépio de pão.
– Onde?
– Ali. – Apontou Daniel. – Depois da mãe retirar as boroas.
Nem precisamos dos animaizinhos, não é?
– É. O forno não deixa o Menino morrer de frio.

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