Centro Cultural do Alto Minho

Fala de Uma Professora ao Volante no IC1

Uma “circunspecta e vulgar professora do Ensino Básico” percorre, ao volante do seu Seat Leon Tdi 1.9, os 70Km que separam Viana do Castelo do Porto.

Ao longo desta viagem – que ela mede em tempo e já não em Km – arrastada pelo “rio do pensamento” vai divagando, em ameno diálogo, (ou será um monólogo a 2 vozes?…) com a “criatura” a quem, hoje, deu o dom da fala mas que só ela vê e ouve.

Assim, seguindo o fio do pensamento, esta viúva de um “defunto falecido”, esmagado por um “atrelado voador” na IC1, vai tecendo, com ironia e sarcasmo, os mais inesperados comentários sobre variados assuntos: professores, alunos, vizinhos, algumas figuras da cidade, o ensino, a política, a cultura, o racismo, a moral, … Os temas sucedem-se, cruzam-se, tecendo uma teia que não tem outra trama a não ser o divagar do pensamento porque, como a própria personagem explica, “o rio do pensamento é isto mesmo, não tem nascente, nem margens, menos ainda foz ou bússola para se orientar”. Só que, de vez em quando, é assaltada pelos “tumultuosos pensamentos roxos” que tanto a atormentam e dos quais se defende elaborando, mentalmente, listas de compras de supermercado.

No entanto, à medida que constrói um retrato corrosivo da nossa sociedade, com seus preconceitos e hipocrisias, esta mãe de dois adolescentes vai sendo confrontada, graças às intervenções da sua “interlocutora”, com os seus próprios medos e reais problemas pessoais. Ao longo desta viagem, que se repete diariamente, há já três anos, com espírito de sacrifício, tal “quotidiana peregrinação”, acaba por tomar consciência do desleixo que inundou a sua vida e o seu ser. Sem tempo para nada nem para ninguém (incluindo ela própria), dividida entre os filhos, a casa, a escola e a empresa PLURIPESSOA (que persiste em manter em mémória do falecido), amarga e ressentida, apercebe-se do caos que tomou conta da sua existência. A empresária pouco faz e menos gere mas desgasta-se com o despreso do Senhor Mário Santinho Isabel, ex braço direito do falecido; a professora perde os testes dos seus alunos e só os descobre, graças a uma travagem brusca, quando já outro ano lectivo está prestes a iniciar; a mãe pouco vê os filhos, cada vez menos os conhece e nem sabe se a filha reprovou; a mulher não tem tempo para nada e menos ainda para ir ao cabeleireiro pintar os “subversivos cabelos brancos” que tantos a incomodam; o carro, de tão sujo, já nem tem cor definida… Com tudo isto, será que o cabelo vermelho da filha e o gosto do filho pela arte da culinária haviam de a preocupar? Pois é precisamente isso que parece sugerir a “Voz” que ela acusa de ser “uma má consciência”.

Mas é numa segunda parte, desta vez numa narrativa feita na 3ª pessoa do singular, que tomamos conhecimento do desfecho e ficamos a saber quais as consequências destas deambulações pelos meandros do pensamento (consciente ou não). É o momento de fazer escolhas, de tomar decisões, de olhar para o presente e retomar a vida.

Um “golpe de asa” antes do regresso definitivo pela IC1 em direcção a Viana do Castelo.

Mínimos

São quinze textos onde Couto Viana, num cantar magoado, se afirma ser quem foi e nos fala

a) de velhos sentados num banco de “jardim fronteiro ao mar” e com quem ainda se não identifica. Ali, apenas se busca, num “acto de coragem”:
“ainda sou quem passa
P’la mão da minha mão”

b) de Colombo e do “ser português”;

c) da vida/mensagem que um livro transporta;

d) do Natal que “cada criança é o Céu que vem / para nos remir do pecado”;

e) sobre as estações do ano;

f) da sua desilusão porque a caixa do correio continua sem qualquer mensagem para si

Pero do Campo Tourinho – Entre o Sucesso e a Desgraça

A obra, constituída por duzentas e cinco páginas e abundantemente ilustrada (incluindo o fac-simile de parte do processo contra Pero do Campo Tourinho), divide-se em duas partes. A primeira compreende o estudo propriamente dito da vida de Pero do Campo Tourinho. A segunda é um arquivo documental sobre o vianês a quem António Matos Reis dedica o estudo.
Ao longo da leitura dos diferentes pontos da primeira parte, são fornecidas ao leitor informações como:
– As origens vianesas de Pero do Campo Tourinho;
– A organização da capitania de Porto Seguro;
– O desenvolvimento da referida capitania;
– Dificuldades e problemas que Pero do Campo Tourinho teve de enfrentar enquanto capitão donatário de Porto Seguro;
– O processo contra o Capitão Donatário;
– O juízo final sobre o processo instaurado a Pero do Campo Tourinho.

Como documentos, o autor achou por bem apesentar os seguintes:
– Carta de Doação da Capitania de Porto Seguro;
– Foral da Capitania de Porto Seguro;
– Carta de Pero do Campo Tourinho a D. João III;
– Processo contra Pero do Campo Tourinho.