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ISBN | 972-9397-41-4 |
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E Mais Mundo Haverá
É um livro bilingue, prefaciado por Claude Hulet, que embora seja dedicado a Fernando Pessoa, tem Camões como inspirador e se propõe “louvar os principais aspectos da história de Portugal […] e censurar […] a apagada e vil tristeza” do país em que vive.
Aconselhamos a leitura do Prefácio (cf. Comentários/Estudos)
Prefácio
Amadeu Torres, o autor de E Mais Mundo Haverá, foi honrado com o título de «Príncipe dos Poetas» ao ser-lhe conferido o prémio nacional de poesia heróica resultante do concurso promovido pela, então, Emissora Nacional. A presente edição bilingue, com as versões portuguesa e inglesa em páginas opostas, segue essa tradição. O livro tem dois objectivos: louvar os principais aspectos da História de Portugal desde a fundação da nacionalidade no século XII, e através dos séculos até ao presente, e censurar, muito à semelhança do que fez o Velho do Restelo, em Os Lusíadas, a crassa «apagada e vil tristeza» em que presentemente ele vê o seu país afundar-se. Ao tomar esta posição, o poeta segue os passos de dois famosos poetas portugueses que constituem pontos altos na História épica de Portugal, Luís de Caniões, autor de Os Lusíadas (1572) e Fernando Pessoa, autor de Mensagem (1934). Estas obras servem de limite cronológico e de conteúdo a E Mais Mundo Haverá, cujo título se inspira na primeira.
A seguir ao prefácio, o assunto, o tom e a estrutura do livro têm como mote quatro citações retiradas de Os Lusíadas. Embora o poeta dedique o seu livro a Fernando Pessoa, a quem chama um segundo Camões, é este, na verdade, o inspirador do poeta.
Os 36 sonetos que constituem o livro são precedidos de dois poemas em quadras. O primeiro salienta a fundação da nacionalidade e orgulhosamente anota que o Portugal do século XII foi o primeiro país europeu a ter o estatuto de nação. O segundo poema enfatiza o papel especial que os portugueses tiveram nas descobertas marítimas e no abrir o mundo aos olhos dos europeus.
O primeiro poema, «O Sonho de um Castelo», evoca a fundação de Portugal, começando pelo seu passado lusitano e pela figura de Viriato, que tão corajosamente lutou contra Roma, continuando depois pelos tempos fora para lembrar o papel heróico de Afonso Henriques na fundação do Portugal actual, o qual está concretizado e simbolizado pela construção do castelo em Guimarães.
O poema seguinte, «Antevisão de Sagres», precedido também por urna epígrafe retirada de Os Lusíadas, anuncia as futuras viagens marítimas e as descobertas dos exploradores portugueses, começando pelos sonhos e o papel histórico do Infante D. Henrique e continuando com figuras de tanta nomeada como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, os irmãos Corte-Real e Fernão de Magalhães.
A linguagem e o tom agradáveis destas quadras preparam o palco temático e estético para os trinta e seis sonetos seguintes, cuja missão é a de focar os pontos altos dos dez séculos de história de Portugal. Os títulos dos poemas identificam personagens ou acontecimentos importantes nessa resenha da passagem dos séculos. A principal secção do livro é dedicada a indivíduos tão extraordinários como José de Anchieta, António Vieira e, evidentemente, S. Francisco Xavier, bem como a acontecimentos tão significativos como o achamento do Brasil, a fundação de Sacramento, a descoberta da Califórnia, a extensão do vasto império comercial português através do Oceano Indico em direcção ao que agora chamamos as Índias Orientais, a China e o Japão — todos evocados em soneto após soneto. Esta vontade heróica e ritmada enforma a maior parte do livro. Pensamos que o Simpósio sobre as Tradições Portuguesas (Europa, América, Africa e Ásia), na Universidade da Califórnia em Los Angeles, que celebra a sua vigésima quinta sessão consecutiva em 2002, reflecte, à sua escala, as metas e aspirações da lembrança dos altos valores da língua e da cultura do mundo que fala Português, e que tanto se encontra em E Mais Mundo Haverá.
Mas há também uma parte de pessimismo. Embora já venha sugerida no início do livro, no poema dedicado a Fernando Pessoa, a mensagem torna-se mais forte quando o poeta chama ao palco a figura descontente e terrível do Velho do Restelo, de Camões. Seguindo-lhe o exemplo, o poeta só vê cinismo à sua volta, um povo sem sonhos, que faz chacota e destrona os heróis do passado da sua justa glória, um povo ignorante e indisciplinado, sem ideais nem valores, sem Deus, sem tradição nem ética. Em poucas palavras, um país a tornar-se oco.
Da mesma forma que abriu E Mais Mundo Haverá, Amadeu Torres compõe o fecho da sua estrutura com outras significativas citações de Os Lusíadas.
O autor das versões inglesas, Hélio Osvaldo Alves, não deve ficar sem que se lhe pague tributo. A sua fidelidade aos textos originais trouxe-lhe a tarefa louvável mas muito difícil de manter os ritmos e as rimas de Amadeu Torres.
CLAUDE L. HULET
Los Angeles, Califórnia,
18 de Março de 2002
Excertos
A FERNANDO PESSOA
Pessoa inteiro, a Ti consagro este volume
Em que se encontra implícita a tua Mensagem.
E creio em mim que esta grinalda de homenagem
Aos outros poetas meus não causará ciúme.
Teus versos que ao torrão me sabem e ao seu lume,
Que só não faz calor à estulta matulagem,
Aprendi a admirar, e a «português» linguagem
E as gestas que esquecer agora é já costume.
Foste Camões segundo e és bem o maior de hoje.
Mas da Pátria que amaste gente muita foge
Para hermeneutizar à força outros Teus poemas.
Um nevoeiro encurta os horizontes largos.
E há vãos intelectuais ressabiados, amargos,
Remoendo em vil tristeza mastigados temas.
De Washington a Nova lorque, em 29 de Agosto de 2000.
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